O percurso silenciado
MONTALVÂNIA - O jornalista Fernando Abreu envia texto ao Blog em que diz da expectativa, e porque não dizer da esperança, da população de Montalvânia, no extremo Norte de Minas, com o iminente anúncio que o governo promete fazer sobre a descoberta de duas grandes reservas de gás natural no Brasil. Uma delas, aquela localizada justamente no município cochanino.
O assunto foi tratado pela grande imprensa há alguns dias, com a ressalva de que seria uma estratégia do Palácio do Planalto "para tentar minar a CPI da Petrobras no Senado” e criar uma agenda positiva em favor daquela empresa. Do ponto de vista econômico, anotou a “Folha de S.Paulo”, as novas reservas têm potencial para ser uma espécie de “passaporte para o Brasil se livrar da dependência do gás boliviano”.
De acordo com o jornalista Abreu, há muitas décadas o Norte de Minas sabe da existência de abundantes manifestações de gás na margem esquerda do rio São Francisco, no Norte e Noroeste de Minas. Os municípios mais promissores são Buritizeiro, Santa Fé de Minas, São Romão e Montalvânia. Contudo, foi apenas depois que a Bolívia ameaçou cortar os suprimentos enviados ao Brasil que começaram os trabalhos de prospecção. Tudo indica que as análises aprovam o uso comercial do gás do Norte de Minas.
A exploração na Bacia do São Francisco começou na década de 60, com a descoberta de emanações de gás. Em 1970 o município de Montalvânia foi objeto de estudos. Mesmo assim, o interesse das empresas só veio em 2005, depois de tentativa frustrada de leilão da Agência Nacional do Petróleo, em 2002, quando nenhuma companhia apresentou lances.
Fernando Abreu resgata o desabafo da educadora e geógrafa cochanina Malba Tahan Barbosa, professora da PUC Minas, que, em texto publicado já há alguns anos, já reclamava da falta de informação do governo sobre a reserva mineira de gás natural:
- Porque algo de tamanha dimensão, com impactos ambientais, econômicos e sociais extremamente significativos, caminha num percurso tão silenciado? Tudo pensado nos conforme dos mínimos detalhes, sem uma divulgação mais ampla e participação da população local, sobretudo - para não variar-, a socialmente mais vulnerável. Tudo feito como se tratasse de assunto de interesse e mérito de poucos. De novo os mesmos processos? A mesma concepção e operacionalização de ”desenvolvimento”, de “progresso”, de riba pra baixo? De fora pra dentro? De graúdos pra miúdos? De poucos pra muitos? Da mais valia dos canudos-diplomados? Do mercado-senhor-de-todos? Da dominância dos cargos-poder político? Da sorrateirice perversa? Que diabos de exploração gananciosa - que agora é do gás natural de minha terra, que parece nunca ter fim? Não cansam de miserabilizar minha região?
Estou de volta para comentar o libelo poético (talvez profético) da professora Malba Tahan, que faz rápido esboço sociológico das peripécias da burocracia e dos seus danos aos interesses do país. A professora, homônima do autor de "O homem que calculava", atina com razão para a realidade de que, quando e se um dia o gás cochanino eclodir das entranhas do solo nativo, vai servir mesmo é para engordar o capital dos senhores do mercado (quiçá estrangeiros). O que vai sobrar para os nossos desvalidos e sem-asfalto será um bolsa-qualquer coisa, receita marginal em forma de royalties de uma riqueza que se vai para sempre.
Atualizado em 16/06 - às 07h27
Fonte: Blog do Luís Cláduio Guedes
MONTALVÂNIA - O jornalista Fernando Abreu envia texto ao Blog em que diz da expectativa, e porque não dizer da esperança, da população de Montalvânia, no extremo Norte de Minas, com o iminente anúncio que o governo promete fazer sobre a descoberta de duas grandes reservas de gás natural no Brasil. Uma delas, aquela localizada justamente no município cochanino.
O assunto foi tratado pela grande imprensa há alguns dias, com a ressalva de que seria uma estratégia do Palácio do Planalto "para tentar minar a CPI da Petrobras no Senado” e criar uma agenda positiva em favor daquela empresa. Do ponto de vista econômico, anotou a “Folha de S.Paulo”, as novas reservas têm potencial para ser uma espécie de “passaporte para o Brasil se livrar da dependência do gás boliviano”.
De acordo com o jornalista Abreu, há muitas décadas o Norte de Minas sabe da existência de abundantes manifestações de gás na margem esquerda do rio São Francisco, no Norte e Noroeste de Minas. Os municípios mais promissores são Buritizeiro, Santa Fé de Minas, São Romão e Montalvânia. Contudo, foi apenas depois que a Bolívia ameaçou cortar os suprimentos enviados ao Brasil que começaram os trabalhos de prospecção. Tudo indica que as análises aprovam o uso comercial do gás do Norte de Minas.
A exploração na Bacia do São Francisco começou na década de 60, com a descoberta de emanações de gás. Em 1970 o município de Montalvânia foi objeto de estudos. Mesmo assim, o interesse das empresas só veio em 2005, depois de tentativa frustrada de leilão da Agência Nacional do Petróleo, em 2002, quando nenhuma companhia apresentou lances.
Fernando Abreu resgata o desabafo da educadora e geógrafa cochanina Malba Tahan Barbosa, professora da PUC Minas, que, em texto publicado já há alguns anos, já reclamava da falta de informação do governo sobre a reserva mineira de gás natural:
- Porque algo de tamanha dimensão, com impactos ambientais, econômicos e sociais extremamente significativos, caminha num percurso tão silenciado? Tudo pensado nos conforme dos mínimos detalhes, sem uma divulgação mais ampla e participação da população local, sobretudo - para não variar-, a socialmente mais vulnerável. Tudo feito como se tratasse de assunto de interesse e mérito de poucos. De novo os mesmos processos? A mesma concepção e operacionalização de ”desenvolvimento”, de “progresso”, de riba pra baixo? De fora pra dentro? De graúdos pra miúdos? De poucos pra muitos? Da mais valia dos canudos-diplomados? Do mercado-senhor-de-todos? Da dominância dos cargos-poder político? Da sorrateirice perversa? Que diabos de exploração gananciosa - que agora é do gás natural de minha terra, que parece nunca ter fim? Não cansam de miserabilizar minha região?
Estou de volta para comentar o libelo poético (talvez profético) da professora Malba Tahan, que faz rápido esboço sociológico das peripécias da burocracia e dos seus danos aos interesses do país. A professora, homônima do autor de "O homem que calculava", atina com razão para a realidade de que, quando e se um dia o gás cochanino eclodir das entranhas do solo nativo, vai servir mesmo é para engordar o capital dos senhores do mercado (quiçá estrangeiros). O que vai sobrar para os nossos desvalidos e sem-asfalto será um bolsa-qualquer coisa, receita marginal em forma de royalties de uma riqueza que se vai para sempre.
Atualizado em 16/06 - às 07h27
Fonte: Blog do Luís Cláduio Guedes
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