O mago está nu
Chega às lojas a biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais
(Gabriel Brust)
Com tiragem de 100 mil exemplares, chega entre hoje e amanhã às livrarias de todo o país a aguardada biografia autorizada de Paulo Coelho. O número é expressivo para o mercado editorial brasileiro, mas trivial para o mago. Esta, no entanto, tem tudo para ser a obra mais vendida entre as que envolvem o nome do escritor. Isso porque, além de agradar aos fãs, deve impressionar também quem gosta de boa literatura.
O pesado volume O Mago - A Extraordinária História do Escritor Paulo Coelho (Planeta, 632 páginas, R$ 59,90), explique-se, leva a assinatura do mineiro Fernando Morais, tarimbado autor de biografias e livros-reportagem, como Olga e Chatô, o Rei do Brasil. Na última quinta-feira, enquanto conversava com Zero Hora pelo telefone (confira na página 3), Morais preparava um exemplar do livro para enviar a Paulo Coelho. Selava, desta maneira, o cumprimento de uma das condições para realizar a obra: a de que o mago não a lesse antes de estar pronta. O acordo parece incompatível com a personalidade egocêntrica e controladora revelada pelo livro. Mas a quantidade de detalhes sobre temas delicados também desafiam qualquer desconfiança.
O Mago parte de um momento de auge do sucesso literário de Coelho e retrocede no tempo, contando a infância, a adolescência hippie, o flerte com o satanismo, a parceria com Raul Seixas e um momento de epifania que mudaria a vida do escritor para sempre. Os títulos dos capítulos são longos e provocativos, como o número nove, chamado Após a terceira experiência com homens, Paulo se convence: não sou homossexual. As revelações sobre o passado envolvendo homossexualismo e drogas já estão causando polêmica. Durante a semana, Morais chegou a entrar num debate sobre se Coelho seria ou não um ex-gay.
Além da vida particular, as impressões do mundo reveladas por Coelho também estão repercutindo. A Academia Brasileira de Letras - da qual o escritor é membro - anunciou que a obra não poderá mais ser lançada em seus salões, como previsto. É que, no livro, o mago não fala nada bem dos acadêmicos.
Zero Hora, Porto Alegre, 31 maio 2008.
O mago segundo o marxista
Fernando Morais, 62 anos, lançou-se na literatura com o best-seller A Ilha (1976) relato de sua viagem a Cuba. Depois, emendou duas biografias: Olga (1985) e Chatô, o Rei do Brasil (1994). Para escrever O Mago - A Extraordinária História do Escritor Paulo Coelho, entrevistou mais de cem pessoas. Confira detalhes desta experiência:
Zero Hora - Qual foi a relação com Paulo Coelho neste tempo em que conviveram?
Fernando Morais - Sempre tive uma curiosidade muito grande em saber quem era o brasileiro que é o único autor vivo mais traduzido que Shakespeare. Ele não impôs nenhuma condição, nenhum veto, apesar de eu ter avisado que ele não leria o livro, como não leu até agora. Como ele não impôs censura, senti que não tinha o direito de impor censura ao leitor. Então não ficou absolutamente nada importante de fora do livro.
ZH - Houve dificuldade para retratar temas como drogas e homossexualismo?
Morais - Houve. Ele é um personagem vivo, ou seja, amanhã vai descer no elevador do prédio dele, o porteiro que leu o livro vai dizer "E aí, seu Paulo? O senhor, hein? Quem diria..."
ZH - Que imagem o leitor terá de Paulo Coelho ao terminar de ler a biografia?
Morais - Um homem de uma enorme densidade humana, um homem que superou tragédia atrás de tragédia. Alguém que várias vezes pensou em suicídio, alguém que experimentou a solidão profunda, crises de angústia, e teve de superar isso sem rancores. Ele não guarda ódio do pai, que o internou no hospício três vezes, ele não guarda ódio dos amigos, que o abandonaram depois que ele foi seqüestrado. Ele foi a primeira pessoa a me indicar inimigos dele para eu ouvir.
ZH - Paulo Coelho comentou que a formação marxista do senhor poderia ser incompatível...
Morais - Eu tinha lido só os dois primeiros livros dele. Para escrever a biografia, li a obra inteira. Umberto Eco falou do Paulo o seguinte: "Ele escreve para pessoas que têm fé". Eu não tenho crença religiosa, mas certas coisas me impressionam muito como, por exemplo, quando ele diz ter vivido uma epifania no campo de concentração de Dachau, na Alemanha. Lá, ele tem uma iluminação e uma conversa com uma entidade. Não importa se o que ele teve lá foi um surto psicótico, uma alucinação ou se de fato foi uma epifania. Uma coisa é certa: mesmo o mais ateu dos ateus haverá de reconhecer que alguma coisa importante aconteceu aquele dia para ter produzido transformações tão profundas na vida do Paulo. Ele abandona as drogas, o satanismo, passa a ser um marido em tempo integral, coisa que não era antes - era um mulherengo - e vira o que ele queria ser a vida inteira: um autor reconhecido no mundo inteiro.
Chega às lojas a biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais
(Gabriel Brust)
Com tiragem de 100 mil exemplares, chega entre hoje e amanhã às livrarias de todo o país a aguardada biografia autorizada de Paulo Coelho. O número é expressivo para o mercado editorial brasileiro, mas trivial para o mago. Esta, no entanto, tem tudo para ser a obra mais vendida entre as que envolvem o nome do escritor. Isso porque, além de agradar aos fãs, deve impressionar também quem gosta de boa literatura.
O pesado volume O Mago - A Extraordinária História do Escritor Paulo Coelho (Planeta, 632 páginas, R$ 59,90), explique-se, leva a assinatura do mineiro Fernando Morais, tarimbado autor de biografias e livros-reportagem, como Olga e Chatô, o Rei do Brasil. Na última quinta-feira, enquanto conversava com Zero Hora pelo telefone (confira na página 3), Morais preparava um exemplar do livro para enviar a Paulo Coelho. Selava, desta maneira, o cumprimento de uma das condições para realizar a obra: a de que o mago não a lesse antes de estar pronta. O acordo parece incompatível com a personalidade egocêntrica e controladora revelada pelo livro. Mas a quantidade de detalhes sobre temas delicados também desafiam qualquer desconfiança.
O Mago parte de um momento de auge do sucesso literário de Coelho e retrocede no tempo, contando a infância, a adolescência hippie, o flerte com o satanismo, a parceria com Raul Seixas e um momento de epifania que mudaria a vida do escritor para sempre. Os títulos dos capítulos são longos e provocativos, como o número nove, chamado Após a terceira experiência com homens, Paulo se convence: não sou homossexual. As revelações sobre o passado envolvendo homossexualismo e drogas já estão causando polêmica. Durante a semana, Morais chegou a entrar num debate sobre se Coelho seria ou não um ex-gay.
Além da vida particular, as impressões do mundo reveladas por Coelho também estão repercutindo. A Academia Brasileira de Letras - da qual o escritor é membro - anunciou que a obra não poderá mais ser lançada em seus salões, como previsto. É que, no livro, o mago não fala nada bem dos acadêmicos.
Zero Hora, Porto Alegre, 31 maio 2008.
O mago segundo o marxista
Fernando Morais, 62 anos, lançou-se na literatura com o best-seller A Ilha (1976) relato de sua viagem a Cuba. Depois, emendou duas biografias: Olga (1985) e Chatô, o Rei do Brasil (1994). Para escrever O Mago - A Extraordinária História do Escritor Paulo Coelho, entrevistou mais de cem pessoas. Confira detalhes desta experiência:
Zero Hora - Qual foi a relação com Paulo Coelho neste tempo em que conviveram?
Fernando Morais - Sempre tive uma curiosidade muito grande em saber quem era o brasileiro que é o único autor vivo mais traduzido que Shakespeare. Ele não impôs nenhuma condição, nenhum veto, apesar de eu ter avisado que ele não leria o livro, como não leu até agora. Como ele não impôs censura, senti que não tinha o direito de impor censura ao leitor. Então não ficou absolutamente nada importante de fora do livro.
ZH - Houve dificuldade para retratar temas como drogas e homossexualismo?
Morais - Houve. Ele é um personagem vivo, ou seja, amanhã vai descer no elevador do prédio dele, o porteiro que leu o livro vai dizer "E aí, seu Paulo? O senhor, hein? Quem diria..."
ZH - Que imagem o leitor terá de Paulo Coelho ao terminar de ler a biografia?
Morais - Um homem de uma enorme densidade humana, um homem que superou tragédia atrás de tragédia. Alguém que várias vezes pensou em suicídio, alguém que experimentou a solidão profunda, crises de angústia, e teve de superar isso sem rancores. Ele não guarda ódio do pai, que o internou no hospício três vezes, ele não guarda ódio dos amigos, que o abandonaram depois que ele foi seqüestrado. Ele foi a primeira pessoa a me indicar inimigos dele para eu ouvir.
ZH - Paulo Coelho comentou que a formação marxista do senhor poderia ser incompatível...
Morais - Eu tinha lido só os dois primeiros livros dele. Para escrever a biografia, li a obra inteira. Umberto Eco falou do Paulo o seguinte: "Ele escreve para pessoas que têm fé". Eu não tenho crença religiosa, mas certas coisas me impressionam muito como, por exemplo, quando ele diz ter vivido uma epifania no campo de concentração de Dachau, na Alemanha. Lá, ele tem uma iluminação e uma conversa com uma entidade. Não importa se o que ele teve lá foi um surto psicótico, uma alucinação ou se de fato foi uma epifania. Uma coisa é certa: mesmo o mais ateu dos ateus haverá de reconhecer que alguma coisa importante aconteceu aquele dia para ter produzido transformações tão profundas na vida do Paulo. Ele abandona as drogas, o satanismo, passa a ser um marido em tempo integral, coisa que não era antes - era um mulherengo - e vira o que ele queria ser a vida inteira: um autor reconhecido no mundo inteiro.
Zero Hora, Porto Alegre, 31 maio 2008.
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