sexta-feira, 13 de junho de 2008

Filosofia em Alta

Filosofia em ALTA

Ela é disciplina obrigatória nas escolas, mania na tevê, nas empresas e até nos livros para crianças

Rodrigo Cardoso


Empresas contratam filósofos para palestras e consultorias, crianças de cinco anos travam o primeiro contato com o tema e, fora da sala de aula, adolescentes se reúnem para debater idéias de Nietzsche e Platão. Nascida na Grécia há mais de dois mil anos, a filosofia encontra terreno cada vez mais fértil no Brasil – até mesmo na tevê. No programa Fantástico, da Rede Globo, o quadro "Ser ou não ser" sobre filosofia entrará em sua terceira temporada. "A filosofia está em alta", afirma a filósofa Viviane Mosé, apresentadora da atração. Ela, que carrega o mérito de tornar didático um tema pouco palatável, conclui: "O que está em baixa é a forma acadêmica de pensar."

A crítica de Viviane é para o projeto de lei, recém-sancionado pelo governo federal, que obriga as escolas do País a incluir filosofia e sociologia no currículo do ensino médio. "Da maneira como o ensino é fragmentado, a filosofia vai ser mais uma decoreba sobre quem é Sócrates e quando nasceu Platão", teme ela. Mas há boas iniciativas, como a do Centro de Filosofia Educação para o Pensar – Filosofia com Crianças, Jovens e Adolescentes, que ensina o tema para alunos a partir de cinco anos. Constituída de educadores e filósofos, o centro tem parcerias com 300 escolas do País. O método de ensino faz o aluno discutir filosofia em todas as disciplinas, e não apenas em uma matéria. "Prestamos assessoria pedagógica para professores e produzimos o material didático, que é adaptado ao nível cognitivo do aluno", explica José Carlos Freire, assessor pedagógico do centro. Filósofo e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Mário Sérgio Cortella também foca nos filósofos mirins. Ele lançará este ano O que é pergunta, seu primeiro livro sobre filosofia para crianças. O interesse do mercado editorial pelo tema é crescente.

"Por muito tempo, a tecnologia fez o mundo focar no 'como' em detrimento dos 'porquês' e, enfadadas, hoje as pessoas procuram reflexões", explica Cortella. No ano passado, ele deu 30 palestras sobre filosofia e ética para gestores do Banco Bradesco. "Ficou chique consumir filosofia", diz o acadêmico, que discursa ainda aos funcionários da metalúrgica Gerdau sobre a diversidade humana. No Rio, a filósofa Viviane segue o mesmo caminho. "Ajudo o executivo a ler o que acontece no mundo contemporâneo e a agir no presente", afirma.

Entre seus clientes estão a Petrobras, a Vale, O Boticário e o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, que a contratou para falar sobre ética e comprometimento aos funcionários. Um dos maiores centros de cursos livres na área de humanidade, a Casa do Saber também percebe o maior interesse pelo tema. Criada em São Paulo, hoje atua também no Rio de Janeiro e expandiu o número de cursos de filosofia de nove, em 2004, para os atuais 175.

Componente curricular excluído da escola pela ditadura em 1968, a filosofia seguiu existindo em colégios particulares, como o Santo Américo, em São Paulo, que desde 1975 ensina a disciplina. Aluna do terceiro ano do ensino médio, Gabriela Campana, 17 anos, reúne-se com amigos, durante as férias, para debater as idéias de Nietzsche e Maquiavel. E filosofa ao falar do valor do conhecimento: "Para estabelecer princípios e formar uma maneira própria de agir é preciso saber como outras pessoas pensavam o mundo e tentavam melhorá-lo."

Fonte: Revista Istoé

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