segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Crise da Ética

A Crise da Ética: uma reflexão sobre o conflito da ética moderna

Ana Maria Dantas de Alencar Belfort
Graduada em Filosofia com Especialização em Filosofia Kantiana


Os valores morais existem unicamente em atos ou produtos humanos, esses produtos "valores" Humanos por sua vez existem na ordem da afetividade podemos dizer que a consciência moral (a pessoa) e a consciência política (o cidadão) formam-se pelas relações entre as vivências do eu e os valores e as instituições de sua sociedade ou de sua cultura. A vida humana é convívio. É neste viver e conviver da vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como me comportar perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer.
É por meio dos comportamentos e práticas determinados pelos códigos morais (que definem deveres, obrigações, virtudes) e políticos (que definem direitos, deveres e instituições coletivas públicas), a partir do modo como uma cultura e uma sociedade determinadas definem o bem e o mal, o justo e o injusto, o legítimo e o ilegítimo, o legal e o ilegal, o privado e o público.
Hoje é justamente pela deficiência de parâmetros claros e definidos de tais limites, que as pessoas estão muito mais autocentradas em suas próprias necessidades. Não estão conseguindo pensar no outro, nas necessidades do outro e, conseqüentemente, não confiam que o outro genuinamente possa fazê-lo também.
O eu é uma vivência e uma experiência que se realiza por comportamentos; a pessoa e o cidadão são a consciência como agente (moral e político), como práxis. Logo tudo vale a pena dentro do esforço por um bem comum e coletivo, o fazer pelo outro como já falava Aristóteles, onde todas atividades humanas aspiram a algum bem comum, dentre os quais o maior é a felicidade, esta consiste na atividade da alma segundo a razão.
No Brasil, nos encontramos em uma crise de ética, de posse da origem da palavra ética que vem do grego "ethos", que quer dizer o modo de ser, o caráter, onde este indica um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é "adquirido ou conquistado por hábito" (VÁZQUEZ).Diante do exposto, a realidade brasileira nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios que com o passar do tempo nos acostumamos com nossas misérias de toda ordem. Historicamente o Brasil é marcado pelas injustiças sócio-econômicas, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão-de-obra infantil, pelo "jeitinho brasileiro" e etc, etc.
Esses incidentes já são tão corriqueiros hoje no Brasil, que naturalizamos injustiça e consideramos normal conviver lado a lado as mansões e os barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo etário quem procura ser honesto. Na vida pública, exemplos é o que não faltam na nossa história recente: «caso Valdomiro Diniz, Jader Barbalho, A.C.M, impeachment de presidente por corrupção, compras de parlamentares para a reeleição, máfia do crime organizado, desvio do Fundef, etc. etc.
A ética brasileira encontra-se, portanto em crise já que tal realidade não pode ser reduzida tão somente ao campo político-econômico. Envolve questões de valor, de convivência, de consciência, de justiça. Envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente uns problemas éticos. O homem, enquanto ser ético, enxerga o seu semelhante, não lhe é indiferente. O apelo que o outro me lança é de ser tratado como gente e não como coisa ou bicho. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser humano concreto é desrespeitado na sua condição humana. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

3.2 O HOMEM E A SOCIEDADE
A realização plena do homem com a natureza consiste na relação de dependência que o mesmo mantém com o meio que vive um famoso filósofo inglês Thomas Morus, disse que:
"Nenhum homem é uma ilha".
Esta frase ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético é também nesta junção com o outro que o homem forma uma unidade superior. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como me comportar perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer? O tema nuclear da ética são os atos do ser humano enquanto possuidor de razão. Os atos que são livres e enquanto tais "o correto ou incorretos" "justos ou injustos" "bons ou maus", o objetivo da ética é a virtude na condução da vida, mas até que ponto somos virtuosos?
Existe vários tipos de sociedade, econômica cultural, recreativas esportivas, religiosas etc, a mais expansiva de todas com certeza é a família, pois é nela que o homem nasce, e dela só se retira para formar o seu próprio núcleo familiar, é tida como natural, pois não se escolhe onde se quer nascer, a família é responsável pela socialização do homem, com o mundo ao seu redor, através dos seus valores, regras e aprendizados fundamentais para a vida.
Na verdade, a sociedade, é o resultado da atuação do homem no mundo com o objetivo de atingir um propósito unitário e comum, a felicidade.
Na busca da felicidade, o homem faz esforços permanentes para satisfazer seus próprios interesses, e usas desses argumentos para muitas vezes explicar o seu próprio egoísmo, uma vez que a vida em sociedade é uma necessidade humana, o homem na maioria das vezes precisa do outro para alcançar seus objetivos, dentro dessas fraquezas de caráter humano, a formação da sociedade consiste em normas e regras que precisam ser obedecidas, estas normas visam à organização de uma sociedade igualitária, uma vez violada essas normas o homem paga com sua própria liberdade as conseqüências de sua rebelião.
Partindo do pressuposto que a ética está fundamentada em valores de alcance universal – a conquista da felicidade e do bem estar através da liberdade. Suas manifestações concretas são a cooperação e a solidariedade (orgânica, sempre segundo E. Durkheim) numa organização social pluralista e de democracia participativa. A ética se refere a um devir, uma visão do futuro da humanidade que se pretende realizável. Ética seria alcançada pelo comportamento virtuoso, ou seja, em conformidade coma natureza dos atores e dos fins buscados por eles. Postularam que o ser humano seria, por natureza, um ser racional e, portanto, a virtude ou o comportamento ético seria aquele no qual a razão comanda as paixões.
Cada ser humano, sob a inspiração da razão, realizará a boa finalidade ética determinada por seu lugar na ordem do mundo, social, político e familiar. Essas virtudes seriam efeitos de uma potencialidade da natureza humana, desde que a razão comande as paixões e oriente a vontade, pois só o ignorante é passional e vicioso.

3.3 A ÉTICA QUE CONSTRUIMOS
Atualmente essa conquista de hábitos éticos está sendo substituído pelo mito da certeza racional (a razão torna-se o único instrumento para conhecer a verdade). O mito da cientificidade, do progresso, consumismo desenfreado, da subjetividade, etc. Na modernidade, os mitos que criamos foram deixados sem controle e tornaram-se loucos. Eles povoam o nosso cotidiano. No plano da ética, o problema se torna bem mais crucial. A pergunta a ser feita, hoje, é se os valores éticos se constituem em padrões uniformes, imutáveis e universais ou devemos ter regras casuísticas de conduta? Devemos adotar a subjetividade ou a objetividade axiológica? A absolutividade ou relatividade dos valores éticos? A sua Igualdade ou hierarquia? Vivemos em estado fluido e maleável da violência. O antigo já não tem a importância que tinha. O passado enfraqueceu seu poder e o futuro se, de certa forma, já veio, ainda não se instalou de todo. Nesta entrada de terceiro milênio, estamos num intervalo histórico. Estamos, pois, em transição de princípio. Sentimos a passagem para algo que não sabemos ainda o que venha ser. O passo essencial desta passagem é a pergunta, se é possível uma compreensão da virada do milênio, sem se saber qual é o verbo que a História conjuga: será fazer, será agir, será acontecer, será proceder, será produzir, será aterrorizar ou será fadar, destinar, encaminhar? Qual será mesmo o verbo que a História conjuga? Pressupor todos ou qualquer um não será a grande artimanha da consciência na crise radical da ética, buscando desvencilhar-se de todo valor, na ilusão de assim poder dominar a própria História?
Na sociedade moderna constata-se uma determinação bem precisa do real e uma decisão bem definida da história humana. O vigor histórico da modernidade está na descoberta de que tudo resulta do trabalho de uma racionalidade instrumental e de que o trabalho racional produz tudo, mas o que muitos tem esquecido justamente dentro deste quesito de produção profissional, é a elaboração de uma ética profissional, hoje até ouvimos muito a palavra ética, mas apenas a palavra, pois a sua aplicação parece estar sendo esquecida, o real e o irreal, o bem e o mal, a verdade e a não verdade, mas o que vem a ser estas palavras nos dias de hoje, dias onde o individualismo cresce a todo vapor, dias em que a obsessão pelo consumismo e os interesses particulares se fundem com os interesses das empresas, dias em que os investimentos duvidosos e a corrupção nas empresas públicas e privadas aumentam cada vez mais. É por isso que, para ser moderna mesmo, a modernidade teve de transformar-se numa avalanche histórica, que tudo atropela e modifica de acordo consigo mesma, com seus padrões e paradigmas. Esta expansão planetária é a forma mais sutil, de que se reveste a ligação intrínseca entre modernidade e violência, entre racionalidade e agressividade, onde a verdade da verdade esta cada vez mais difícil de ser encontrada, onde será que estamos aplicando a ética que discutimos tanto?

Fonte: Centro de Filosofia e Educação para o Pensar

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