Areté Inclusão Mídia e Cidadania
Estudo inédito - Adolescentes com deficiência não se consideram retratados na Mídia de três países latino-americanos
Garotas e garotos com deficiência pouco se reconhecem na programação de tevê, nos jornais e nas revistas. É o que revela o estudo "Mais Janela que Espelho: a percepção dos adolescentes com deficiência sobre os meios de comunicação na Argentina, no Brasil e no Paraguai", lançado hoje (11/02) pela ANDI, Rede ANDI América Latina e Save the Children Suécia.
A pesquisa ouviu 67 adolescentes, a maioria na faixa dos 11 a 13 anos, com deficiência, de diferentes classes sociais, em três países latino-americanos – Brasil, Argentina e Paraguai – divididos em oito grupos focais nas cidades de São Paulo, Salvador, Buenos Aires e Assunção. A maioria esmagadora deles não se recordou de nenhuma notícia ou personagem televisivo que abordavam essa condição. "Apenas depois de diretamente questionados eles lembravam de algo e falavam no assunto", conta Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e do estudo.
Quando estimulados, os adolescentes brasileiros se lembraram de mais personagens do que os argentinos e os paraguaios. Isso se deve, especialmente, a ações de merchandising social que incluem pessoas com deficiência nas telenovelas (especialmente as da Rede Globo), em histórias em quadrinhos e programas infantis. Personagens como os cegos Flor e Jatobá, da novela América (rede Globo), Clarinha, que tinha Síndrome de Down na novela Páginas da Vida (também da rede Globo) ou o cadeirante Luca, da Turma da Mônica criada por Maurício de Souza, foram mencionados pelos meninos e meninas.
Além de lembrar personagens criados para abordar a questão, o grupo brasileiro se identificou com o que era mostrado na telinha ou no papel. E não foi uma identificação negativa. "Os adolescentes não demonstraram autopiedade. Essas ações têm um impacto muito interessante", explica Canela. Clara por exemplo, foi considerada 'legal', 'bonita', 'mais desenvolvida'. A identificação com a personagem foi tanta que uma participante da pesquisa chegou a dizer que "Clara era igual a mim".
Uma janela para outros mundos
Embora o merchandising social tenha demonstrado certo impacto, o fato de os participantes da pesquisa não se recordarem espontaneamente de personagens e notícias sobre essa parcela da população é preocupante. "Por se reconhecerem pouco na programação da tevê, os adolescentes com deficiência não têm na televisão um espelho, mas uma janela", conclui a pesquisa. Isso significa que a realidade que esses garotos e garotas apreendem por meio dos veículos de comunicação não reflete, ainda que minimamente, seu mundo e suas experiências. Nesse sentido, os meios de comunicação funcionariam como uma vitrine, uma janela para outros mundos.
Uma das conseqüências disso, segundo Guilherme Canela, pode ser uma dificuldade extrema de reflexão sobre sua condição – um dos componentes essenciais para a luta pela garantia dos seus direitos. "A mídia deveria mostrar, de forma menos desigual, a sociedade tal qual é com pessoas de diferentes gêneros, etnias, classes sociais, condições físicas e psíquicas – independentemente de ações de merchandising social". O estudo apontou, por exemplo, que os meninos e meninas estão mais preocupados com a situação de crianças pobres ou de idosos do que com os seus próprios entraves para a plena efetivação de seus direitos.
Gostos semelhantes - Ao contrário do que pode pensar boa parte da população, os gostos e preferências dos adolescentes com deficiência em relação à televisão são semelhantes ao de garotos e garotas em geral. Os meninos e meninas ouvidos nos grupos focais demonstraram preocupações com conteúdos violentos e apelativos. Suas preferências mesclam um consumo ainda característico da infância – como desenhos animados – e hábitos adultos – como a atração por novelas e reality shows. O resultado foi semelhante a outros estudos do tipo conduzidos pela ANDI com adolescentes sem deficiência.
Segundo o consultor da pesquisa, Romeu Sassaki – que há quatro décadas se dedica ao estudo das mais diversas questões sobre deficiência e que acompanhou todos os grupos –, "os adolescentes com deficiência são, antes de tudo, adolescentes".
Acessibilidade
Nos grupos realizados no Brasil, foi possível estabelecer uma discussão sobre a Classificação Indicativa, levantada pelos próprios adolescentes. No anúncio da indicação, símbolos específicos informam a classificação e simultaneamente uma intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) traduz a mensagem às pessoas com deficiência auditiva. Os meninos e meninas surdos disseram que os intérpretes gesticulam muito rápido e o espaço destinado a eles é pequeno. A conseqüência é que não entendem as mensagens veiculadas. Os garotos e garotas com deficiência auditiva também levantaram a necessidade de que mais programas televisivos sejam traduzidos em Libras – com a devida visibilidade.
Conheça a metodologia utilizada
O grupo focal é uma metodologia científica utilizada para avaliar qualitativamente a opinião de uma parcela específica da população a respeito de determinado assunto. Não interessa, portanto, a quantidade de pessoas ouvidas e sim, o tipo de conhecimento que foi obtido. É uma estratégia de coleta de informações baseada na premissa de que as respostas do indivíduo, em grupo, serão mais elaboradas do que quando ele está sozinho com um entrevistador.
Para que funcione, o grupo deve ter, idealmente, entre seis a dez participantes e contar com um moderador que provoca as discussões, mas não faz perguntas fechadas, como um entrevistador. No caso dessa pesquisa, foram realizados grupos nas cidades de Buenos Aires, Assunção, São Paulo e Salvador.
Esta não é a primeira vez que a ANDI realiza grupos focais. As opiniões de adolescentes a respeito da abordagem dos meios de comunicação sobre diversos assuntos – como programas juvenis, trabalho infantil doméstico e saúde – já foram ouvidas em outros estudos da Agência.
Clique aqui para baixar a íntegra do estudo.
Informações:
Guilherme Canela – coordenador do estudo
(61) 2102-6537
gcanela@andi.org.br
Fábio Senne – assistente da Coordenação de Relações Acadêmicas
(61) 2102-6535
fsenne@andi.org.br
Romeu Sassaki – Consultor da pesquisa
(11) 3507-4115
romeukf@uol.com.br
InFormação - Programa de Cooperação para Qualificação de Estudantes de Jornalismo
Coordenação de Relações Acadêmicas
ANDI - Agencia de Notícias dos Direitos da Infância
SDS Ed. Boulevard Center, Bl. A, Sl. 106
70391-900 - Brasília - DF - Brasil
Tel: (+55 61) 2102.6535/2102.6537/2102.6547
Fax: (+55 61) 2102.6550
www.andi.org.br
Fabíola Ortiz
(21) 9938-0313
fabiola.ortizsantos@gmail.com
Estudo inédito - Adolescentes com deficiência não se consideram retratados na Mídia de três países latino-americanos
Garotas e garotos com deficiência pouco se reconhecem na programação de tevê, nos jornais e nas revistas. É o que revela o estudo "Mais Janela que Espelho: a percepção dos adolescentes com deficiência sobre os meios de comunicação na Argentina, no Brasil e no Paraguai", lançado hoje (11/02) pela ANDI, Rede ANDI América Latina e Save the Children Suécia.
A pesquisa ouviu 67 adolescentes, a maioria na faixa dos 11 a 13 anos, com deficiência, de diferentes classes sociais, em três países latino-americanos – Brasil, Argentina e Paraguai – divididos em oito grupos focais nas cidades de São Paulo, Salvador, Buenos Aires e Assunção. A maioria esmagadora deles não se recordou de nenhuma notícia ou personagem televisivo que abordavam essa condição. "Apenas depois de diretamente questionados eles lembravam de algo e falavam no assunto", conta Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e do estudo.
Quando estimulados, os adolescentes brasileiros se lembraram de mais personagens do que os argentinos e os paraguaios. Isso se deve, especialmente, a ações de merchandising social que incluem pessoas com deficiência nas telenovelas (especialmente as da Rede Globo), em histórias em quadrinhos e programas infantis. Personagens como os cegos Flor e Jatobá, da novela América (rede Globo), Clarinha, que tinha Síndrome de Down na novela Páginas da Vida (também da rede Globo) ou o cadeirante Luca, da Turma da Mônica criada por Maurício de Souza, foram mencionados pelos meninos e meninas.
Além de lembrar personagens criados para abordar a questão, o grupo brasileiro se identificou com o que era mostrado na telinha ou no papel. E não foi uma identificação negativa. "Os adolescentes não demonstraram autopiedade. Essas ações têm um impacto muito interessante", explica Canela. Clara por exemplo, foi considerada 'legal', 'bonita', 'mais desenvolvida'. A identificação com a personagem foi tanta que uma participante da pesquisa chegou a dizer que "Clara era igual a mim".
Uma janela para outros mundos
Embora o merchandising social tenha demonstrado certo impacto, o fato de os participantes da pesquisa não se recordarem espontaneamente de personagens e notícias sobre essa parcela da população é preocupante. "Por se reconhecerem pouco na programação da tevê, os adolescentes com deficiência não têm na televisão um espelho, mas uma janela", conclui a pesquisa. Isso significa que a realidade que esses garotos e garotas apreendem por meio dos veículos de comunicação não reflete, ainda que minimamente, seu mundo e suas experiências. Nesse sentido, os meios de comunicação funcionariam como uma vitrine, uma janela para outros mundos.
Uma das conseqüências disso, segundo Guilherme Canela, pode ser uma dificuldade extrema de reflexão sobre sua condição – um dos componentes essenciais para a luta pela garantia dos seus direitos. "A mídia deveria mostrar, de forma menos desigual, a sociedade tal qual é com pessoas de diferentes gêneros, etnias, classes sociais, condições físicas e psíquicas – independentemente de ações de merchandising social". O estudo apontou, por exemplo, que os meninos e meninas estão mais preocupados com a situação de crianças pobres ou de idosos do que com os seus próprios entraves para a plena efetivação de seus direitos.
Gostos semelhantes - Ao contrário do que pode pensar boa parte da população, os gostos e preferências dos adolescentes com deficiência em relação à televisão são semelhantes ao de garotos e garotas em geral. Os meninos e meninas ouvidos nos grupos focais demonstraram preocupações com conteúdos violentos e apelativos. Suas preferências mesclam um consumo ainda característico da infância – como desenhos animados – e hábitos adultos – como a atração por novelas e reality shows. O resultado foi semelhante a outros estudos do tipo conduzidos pela ANDI com adolescentes sem deficiência.
Segundo o consultor da pesquisa, Romeu Sassaki – que há quatro décadas se dedica ao estudo das mais diversas questões sobre deficiência e que acompanhou todos os grupos –, "os adolescentes com deficiência são, antes de tudo, adolescentes".
Acessibilidade
Nos grupos realizados no Brasil, foi possível estabelecer uma discussão sobre a Classificação Indicativa, levantada pelos próprios adolescentes. No anúncio da indicação, símbolos específicos informam a classificação e simultaneamente uma intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) traduz a mensagem às pessoas com deficiência auditiva. Os meninos e meninas surdos disseram que os intérpretes gesticulam muito rápido e o espaço destinado a eles é pequeno. A conseqüência é que não entendem as mensagens veiculadas. Os garotos e garotas com deficiência auditiva também levantaram a necessidade de que mais programas televisivos sejam traduzidos em Libras – com a devida visibilidade.
Conheça a metodologia utilizada
O grupo focal é uma metodologia científica utilizada para avaliar qualitativamente a opinião de uma parcela específica da população a respeito de determinado assunto. Não interessa, portanto, a quantidade de pessoas ouvidas e sim, o tipo de conhecimento que foi obtido. É uma estratégia de coleta de informações baseada na premissa de que as respostas do indivíduo, em grupo, serão mais elaboradas do que quando ele está sozinho com um entrevistador.
Para que funcione, o grupo deve ter, idealmente, entre seis a dez participantes e contar com um moderador que provoca as discussões, mas não faz perguntas fechadas, como um entrevistador. No caso dessa pesquisa, foram realizados grupos nas cidades de Buenos Aires, Assunção, São Paulo e Salvador.
Esta não é a primeira vez que a ANDI realiza grupos focais. As opiniões de adolescentes a respeito da abordagem dos meios de comunicação sobre diversos assuntos – como programas juvenis, trabalho infantil doméstico e saúde – já foram ouvidas em outros estudos da Agência.
Clique aqui para baixar a íntegra do estudo.
Informações:
Guilherme Canela – coordenador do estudo
(61) 2102-6537
gcanela@andi.org.br
Fábio Senne – assistente da Coordenação de Relações Acadêmicas
(61) 2102-6535
fsenne@andi.org.br
Romeu Sassaki – Consultor da pesquisa
(11) 3507-4115
romeukf@uol.com.br
InFormação - Programa de Cooperação para Qualificação de Estudantes de Jornalismo
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Tel: (+55 61) 2102.6535/2102.6537/2102.6547
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Fabíola Ortiz
(21) 9938-0313
fabiola.ortizsantos@gmail.com
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