sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Abrindo janelas e construindo pontes

Abrindo janelas e construindo pontes

"Se a educação não transforma sozinha a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda".
(Paulo Freire)

Viver é a maior das nossas oportunidades. E o desenrolar da vida gera os desafios, os projetos, os sonhos que decidimos enfrentar. Como seres em construção, fazemos opções que podem mudar radicalmente nossa vida. Quando retornamos aos estudos, ganhamos uma oportunidade de re-construir pontes, projetar novas realidades, mudar de atitudes. É a chance de sairmos da solidão, porque como nos diz Joseph F. Newton, "as pessoas são solitárias porque constroem paredes em vez de pontes".

Estudar é emaranhar-se num coletivo de pensantes mentes brilhantes, oportunizando que o saber acumulado e construído por cada um seja re-significado através das trocas e através da aquisição de saberes historicamente construídos pelas ciências. Em todo espaço de construção de saber, geram-se conflitos, interesses, disputas. Nenhum saber é neutro, os saberes são permeados de crenças, ideologias, interesses e vaidades. E é por isso mesmo que precisamos discernir para não brigar entre a gente (os saberes que construímos carregam as contradições da vida). Nas contradições, da vida e dos saberes, moram também grandes verdades.

Os ritmos diferentes, a pouca disciplina para o estudo, as nossas diferenças e as dificuldades de convivência, a indefinição dos objetivos de vida de cada um são aspectos a serem observados, para serem modificados, se quisermos galgar o sucesso individual e da coletividade de uma turma ou sala-de-aula. "Nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado. Mas nada pode ser modificado enquanto não for enfrentado". (James Baldwin)

Todos nascemos capazes de pensar, brilhar e mudar a realidade. Por conta de nossas idéias, nos fazemos sujeitos de nossa história. O conhecimento, em permanente construção, requer da gente atitudes de aprendentes. Conhecer não é saber tudo, mas é estar aberto às possibilidades de aprendizagem que a vida e o mundo nos oferece. A verdade é uma constante busca, não uma posse de um ou de outro. Somos, todos, capazes de apreender e conhecer a verdade, mas muitos preferem viver a mediocridade (preferem não saber). É que todo conhecimento aprendido gera compromissos e responsabilidades, que nem todos desejam arcar.

Quanto mais conhecemos sobre nós mesmos, sobre nossas vidas e sobre a realidade, maiores as condições de nos reconhecermos como sujeitos de pensamento e de ação. Como seres de projeto, devemos estar atentos para avaliar se nossas escolhas estão em sintonia com aquilo que definimos como projeto de vida. Nunca é bom ser sem rumo; nunca é bom ser pensado pelos outros e sempre é melhor quando a vida é a marca de nossas opções.

A educação é a possibilidade de construirmos pontes. Pontes entre pessoas, pontes entre saberes, pontes entre os desejos e mudanças na vida real de todos nós. Estas pontes ajudam a nos lapidar como seres humanos, para sermos cada dia melhores. Pontes sempre indicam caminhos e horizontes que ainda desejamos trilhar. E neste fazer educação, coletivo e de trocas, ficarão as marcas de cada um e de cada uma. Ficarão, também, os desafios pessoais da aprendizagem que cada um deve superar, pois somos eternamente incompletos e insatisfeitos. Se é verdade que "a educação é aquilo que permanece depois de esquecermos tudo o que nos foi ensinado" (Halifax), façamos a nossa parte (educadores e educandos), em mais um ano letivo que começa. Cada ano, com seus novos desafios.

Nei Alberto Pies, professor e militante de direitos humanos.

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