quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Doe livros e contribua para a educação

Doe livros e contribua para a educação

Daniel D. Schlottfeldt

Muitas pessoas desconhecem a riqueza que está submersa nas lixeiras e lixões das grandes cidades: os livros. Todos os dias, livros didáticos, técnicos ou de literatura são despejados em sacolas, agregadas de latas, materiais orgânicos, etc. Em um país como o Brasil, onde o povo espera [e acredita] que a educação seja a "salvação" para os muitos problemas do dia-a-dia, esta, talvez, não seja a melhor solução. O que fazer com os livros que estão "sobrando" em nossas casas? Pretendemos despertar nos estudantes, pais e professores a missão de preservar a educação através da doação.

Embora vivamos em um país onde muitas escolas e universidades são públicas, estes ambientes necessitam do material de apoio didático. Sem ele é um tanto difícil desenvolver a leitura, a compreensão, a reflexão e, até mesmo, realizar exercícios de fixação. Imagine quando este material é único na biblioteca. Para um aluno sem condições de comprar livros, - ou 'xerocar', um hábito comum nas escolas e universidades - qual será o material disponível para estudar? As bibliotecas da rede pública de ensino, muitas vezes, não dispõem de livros novos. Quando estes surgem, representam poucas unidades. Então, o que falar dos livros antigos e usados? Por exemplo, tente estudar em um livro que trate sobre 'Geografia Política', datado dos anos 60 e 70. O acompanhamento progressivo das informações são necessários para estar atualizado no mundo.

Tomemos o 'outro lado da moeda'. Nas escolas da rede particular de ensino, encontramos vários recursos à disposição dos alunos. Bibliotecas informatizadas e estantes que disponibilizam livros novos ou 'quase' novos. O mesmo vale para os livros de Ensino Superior das universidades particulares. Neste lado da moeda, os alunos - em grande parte - também apresentam condições de obter o material solicitado. Assim, estar informado e estudar através de materiais atualizados poderá ser um recurso a mais no bom desempenho dos estudantes. É nesse sentido que, grande parte dos estudantes oriundos de escolas particulares superam alunos da rede pública. Entenda-se, aqui, claramente, o fato de uma porcentagem de estudantes oriundos de escolas públicas como sendo carentes. Ora, se fosse o inverso, por qual razão - um dos motivos - teriam criado o "Programa de Ações Afirmativas" - popularmente conhecido por 'cotas' - para uma parcela oriunda da rede pública de ensino [dentro das universidades federais] com o objetivo de igualdade? Logicamente, deixemos claro: não é o fato de doar livros novos e/ou usados para os menos favorecidos o fator determinante para solucionar o problema da desigualdade na educação. Mas, acreditamos que a carência dos mesmos nas bibliotecas representa um motivo a mais para 'alimentar' a desigualdade no processo educativo.

Agora, pense na sua educação: o que você faz com os livros que estão 'sobrando' em casa? Doa, recicla ou coloca em uma embalagem de lixo? É possível observar um péssimo hábito - há quem diga "falta de educação" - de uma parcela da população nas cidades: misturar o lixo sortido em uma única embalagem: restos orgânicos, papéis, plásticos, vidros, metais, etc. Ainda que existam campanhas de reciclagem, parece que a população pouco adere. Em meio às embalagens, encontram-se livros didáticos, técnicos ou de literatura. Seria difícil separar este livro e doar para uma biblioteca? Muitas pessoas, antes mesmo de doar, pensam no 'trabalho' que irá dar [ou no tempo perdido] ao levar este material até uma escola que esteja necessitando este recurso. Outra parcela, por exemplo, quer aproveitar os 'últimos centavos' deste material: por míseros reais, investe o livro em uma espécie de 'sucata': "vale quanto pesa". Outros, doam para os chamados 'sebos' (livrarias especializadas em livros usados) em troca de uma pequena quantia. Ainda que seja uma decisão pessoal, devemos, como educadores, atentar sobre a importância de preservar o livro. Porém, o que se vê, muitas vezes, é mais ou menos assim: "para suprir as necessidades é melhor receber R$ 5,00 para cada 20Kg de livros 'dados' para reciclagem, em uma sucata, do que doar para a biblioteca da escola em que os próprios filhos estudam". Ora, todos os dias, toneladas de plástico e metais são colocados no lixo. Este material poderia 'poupar' os livros, não?

Seria muito bonito falar em ética, cidadania ou boas ações. E mais, apontar a educação como solução para os problemas do país. Mas, a partir do momento que estamos, também, colocando a educação na "lata do lixo", contribuímos, inclusive, na retirada das crianças e jovens da escola: eles estão 'catando este lixo'. Não para ler o livro mas, para lucrar com o seu volumoso e pesado número de páginas em troca de alguns reais. Imagine: se você que já estudou e não valoriza mais o seu livro - sendo capaz de colocá-lo no lixo - o que podemos esperar, então, de uma pessoa que pouco - ou nunca - estudou? Embora, como vimos anteriormente, seja importante salientar que o dinheiro represente maior valor do que o livro nessas circunstâncias. Então, resta-nos ação e conscientização. A nossa (doar) e a da biblioteca (oferecer, disponibilizar). Como deve ser esta doação?

Quando tratamos de educação, devemos lembrar que 'descartar livros' é apenas um dos muitos problemas existentes. Poderíamos ir além, analisando questões como higiene [saúde], alimentação, transporte escolar e, até mesmo, a falta de material escolar. Muitas vezes, um estudante de graduação - seja de qualquer área: educação, saúde ou ciências humanas - vivencia, apenas, a teoria nos primeiros anos de seu curso. O problema, a visão e a reflexão, surgem em grande parte nos estágios - já no final do curso. É aí que o aluno enfrenta a realidade - muitas vezes desconhecida e incrível pelos mesmos: escolas em péssimas condições, saúde e alimentação inadequada. Logo, não bastaria apenas doar livros sem haver 'doação própria' , também. Devemos ser voluntários nessa caminhada. A sociedade não pode esperar 'autodidatas': dar o livro e, sem apoio algum, esperar que o aluno saia lendo; dar escova de dentes e creme dental sem que a pessoa saiba utilizar corretamente. Esta troca teoria-prática e vice-versa deve compor a 'escola da vida'. Quem sabe esta doação acadêmica poderia evitar a evasão escolar?

Vamos voltar até Paulo Freire. É possível encontrar na obra do autor, intitulada "Pedagogia da Autonomia" alguns tópicos em que o mestre enfatizava "Ensinar exige...". Assim, vejamos o que o autor destaca: "Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo", "Ensinar exige querer bem aos educando", "Ensinar exige apreensão da realidade" e "Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível". Utilizemos, nas palavras de Paulo Freire, o 'verbo' como 'ação' rumo à solução: compreender a necessidade dos mais carentes e intervir na separação dos livros; queira - e faça - bem o futuro do seu país: doe o livro que não utilize mais; observe e reflita a realidade do universo na qual reside: existem muitas pessoas com "sede" do saber; faça de suas idéias uma realidade e mude ela hoje mesmo. Mesmo assim, devemos ter a humildade e a consciência do inacabado, ou seja, devemos conquistar novos doadores na concretização desta missão.

Assim, esperamos - e enfatizamos - esta idéia como uma forma de contribuir para educação. É a partir da compreensão, da intervenção, do fazer, da reflexão e do agir que podemos mudar a realidade. A educação deve ser como um espelho: se quisermos que os menos favorecidos dêem valor à ela, comecemos por nós mesmos, valorizando - e doando - nossa aprendizagem (os livros). Esta conscientização estará ajudando a construir o saber de milhares de crianças e jovens.

Bibliografia:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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