Para onde nos levarão os pessimistas?
"Aos olhos de um pessimista tudo pode piorar ainda mais.
O otimista tem uma tendência de enxergar beleza onde os outros jamais conseguirão ver nada e procura tirar aprendizados das piores situações...
A tendência de um otimista é a de tentar construir relações saudáveis,
visões de mundo, novas parcerias, novos empreendimentos".
(Armando Ribeiro)
É fácil falar de pessimismo. Mas para falar de otimismo, é preciso superar-se para descobrir as razões que nos mantém vivos, dispostos a contribuir para um projeto de humanidade. É difícil manter-se otimista voltado sobre si mesmo. É impossível realizar-se plenamente como ser humano sem compartilhar de nossos anseios, desejos, vontades e crenças. Não somos felizes sozinhos, nem adianta tentar.
Não somos educados numa perspectiva altiva, criativa e empreendedora. Além disso, estamos contaminados por uma cultura do pessimismo, alimentada pela "falta de esperanças e perspectivas". Em tempo de poucas certezas, tememos pelo futuro. E então, a realidade cotidiana torna-se cada vez mais dura e difícil. Perdemos de vista os horizontes e aí parece que nada mais tem solução. E a vida, a mais complexa e fascinante das nossas construções, perde então sentido e razão de ser.
Os horizontes do ser humano são as utopias, os sonhos. E não dá para viver sem sonhar, porque os sonhos são o alimento de nossa alma. Quem deixa de sonhar perde sua sensibilidade de humano. Chamuscados em nossas identidades e horizontes, nossa luta é para sermos aceitos, acolhidos e amados. Viver bem é compreender-se bem e ser bem compreendido pelos outros, vivendo em relação recíproca e de trocas.
Diluíram-se as utopias revolucionárias, mas não acabaram os ideais de ser humano, mundo e humanidade. E, num mundo de ligeiras e complexas transformações, é necessário descobrir qual é a nossa parte a cumprir para mudar a realidade. O que posso fazer? Onde e como posso contribuir? Como manter viva a minha esperança e a esperança dos outros em dias melhores?
Os verdadeiros otimistas são lutadores, tomam posição diante das realidades humanas e mundanas, não compactuam com falsas ilusões e não acreditam que "tudo é de fácil solução". Descobriram que tem sua parte a cumprir, como aquele professor, da estória "Menina do Vestido Azul", de Gardel Costa.
Conta-se que havia um professor que resolveu que resolveu dar a uma de suas alunas um vestido azul. Ela, inteligente e encantadora, vinha mal vestida e desarrumada para a escola, todos os dias. De posse do vestido, seu pai e sua mãe perceberam, então, que já não combinava mais uma menina tão bem vestida, mas tão mal arrumada. Resolveram então arrumar a menina, dando-lhe banho e cuidado todos os dias. Dias depois, sua percepção os fez descobrir que já não combinava mais uma menina bem vestida e arrumada com uma casa suja e descuidada. Resolveram, então, arrumar sua casa, por dentro e por fora. Também os vizinhos percebendo a diferença da casa, resolveram arrumar melhor as suas, por dentro e por fora. Certo dia, um visitante percebeu que gente tão humilde e batalhadora era merecedora de uma ação governamental muito mais ousada e levou este pleito ao prefeito. O prefeito ordenou que o bairro recebesse melhorias, a partir da organização e definição de seus moradores.
Estória? Talvez, mas aquele professor não podia imaginar que a sua ação desencadeasse um processo de transformação no bairro onde moravam seus alunos. Ele fez bem a sua parte, porque tinha crença nas possibilidades de superação humanas. "É difícil reconstruir um bairro, mas é possível dar um vestido azul".
Os pessimistas talvez dirão que cada um fazer sua parte é ingenuidade, que não resolvemos o problema do mundo sem grandes revoluções. Não importa. O que importa é que todas as crianças pobres deste país merecem seu "vestido azul" e um olhar de esperança. Merecem oportunidades e um olhar afetuoso e acolhedor, muito antes de um olhar "incriminador".
Nei Alberto Pies, professor e militante de direitos humanos.
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