Aprender ainda é a melhor ginástica para os neurônios
Para especialistas, jogos são válidos, mas não bastam para estimular o cérebro.
Estudo de línguas, aulas de dança e leitura são a receita, aliados ao bem-estar físico.
Daniella Clark Do G1, no Rio
Aprender a aprender: enquanto se multiplicam sites, jogos e exercícios que prometem turbinar os neurônios, o aprendizado ainda é, para especialistas, a melhor receita de "malhação cerebral".
Segundo médicos e neurocientistas, enquanto jogos como palavras cruzadas, sudoku, quebra-cabeça baseado na colocação lógica de números, ou charadas matemáticas exercitam capacidades específicas do nosso cérebro, o estudo de línguas, aulas de dança, de instrumentos musicais ou mesmo uma boa leitura o protegem de doenças e o ajudam a ficar mais resistente. Tudo isso aliado a boas noites de sono e atividades físicas.
"Não existe a receita: fazer palavras cruzadas basta. Não basta. O que se sabe que confere proteção, ajuda o cérebro a ficar mais resistente é o estudo de uma maneira geral. O importante é aprender a aprender. Criar o hábito de exigir o seu cérebro", explica a neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana Herculano Houzel, autora do livro "Fique de bem com seu cérebro", lançado recentemente pela Editora Sextante.
"Se você faz palavras cruzadas, desenvolve o raciocínio espacial com letras, mas é só isso. Se gosta de charadas matemáticas, desenvolve o raciocínio lógico e matemático. Não existe fórmula mágica. Fazer palavra cruzada e sudoku é bom, mas nada disso basta. É legal combinar isso com outras coisas".
Na Oficina da memória, no Rio, há 17 anos a palavra cruzada dá lugar a cursos em que a aprendizagem é estimulada por meio não só de jogos, como também problemas de raciocício lógico e abstrato, desenhos e teatro, entre outras técnicas. E o público-alvo não se restringe à terceira idade: há aulas oferecidas a empresas, adolescentes e crianças. Nesse último caso, o objetivo é estimular o aprendizado de uma forma mais lúdica.
"Só exercitar a mente com jogos e exercícios é muito pouco. Nossa proposta é sensibilizar a pessoa para seu aprendizado constante. Não adianta jogar e não cuidar da pressão arterial e do bem-estar físico. Os jogos são válidos, mas se feitos com equilíbrio e variados", explica Tania Guerreiro, médica geriatra especialista em memória, diretora da oficina.
Jogos e cérebro: parceiros de longa data
Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor de pesquisa científica do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte, jogos e cérebro são uma dobradinha antiga. Novo é o computador, que aumentou a complexidade dos jogos.
"Não necessariamente são mais eficazes", explica Sidarta, ressaltando que pensar é sempre bom e jogar é botar o cérebro para funcionar. "Um ponto é se é divertido ou não. Outro aspecto é se aquilo vai causar uma mudança no aprendizado. A pessoa pode ficar muito boa em apertar o mouse do computador, é um aprendizado motor. Isso é bom na vida real? Não, só no jogo. Mas jogar xadrez é melhor do que nada. A pessoa pode se especializar num único jogo e ele ser muito completo".
Foi como passatempo que os irmãos Tiago e Vinícius Serafim, de 23 e 19 anos, ambos estudantes de Ciência da Computação na Unicamp, criaram dois sites que atraem fãs de jogos que desafiam o raciocínio lógico. O primeiro, www.sudoku.hex.com.br, que entrou no ar em 2005, foi, segundo eles, a primeira versão em português do Sudoku. Menos de um ano depois veio o rachacuca.com.br. Ambos recebem de seis mil a oito mil acessos por dia.
"É bom para exercitar o cérebro e como diversão. Além de usar a lógica, é um passatempo também", conta Tiago, que busca jogos na internet e os traduz para português.
Se aqui o objetivo é divertir, lá fora é lucrar. No site BrainBuilder, a promessa é melhorar a memória e prevenir o envelhecimento do cérebro em menos de dez minutos por dia, por US$ 7,95 por mês. Já o My brain trainer se define como um ginásio cerebral virtual. O site oferece ao internauta um exercício gratuito (em inglês) como teste.
Correntes nos Estados Unidos defendem exercícios
A prática de exercícios de estimulação cerebral é defendida por duas correntes, nos Estados Unidos. Uma delas é a neuróbica, ou aeróbica dos neurônios, apresentada no livro "Mantenha seu cérebro vivo" (Editora Sextante), de Lawrence Katz e Manning Rubin. Com mais de cem mil exemplares vendidos no Brasil, o livro traz exercícios que prometem melhorar a capacidade cerebral. Defende-se, por exemplo, que um dos caminhos seria a quebra da rotina, como destros escovarem os dentes com a mão esquerda.
"Escovar o dente com a mão esquerda não vai fazer você ficar mais inteligente", rebate a neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana Herculano Houzel.
Já a "ginástica cerebral", criada por Paul E. Dennison, doutor em educação pela Universidade do Sul da Califórnia, defende a prática de exercícios que atingiriam determinadas partes do cérebro. "Movimento é a porta do aprendizado", escreve ele em seu site. Segundo o publicitário e advogado Luiz Eduardo Gasparetto, no Brasil, a marca "ginástica cerebral" foi registrada pela empresa Serap, da qual ele é diretor, e que oferece programas de exercícios para o cérebro a empresas há três anos.
"São todos exercícios físicos, mas movimentos suaves, que qualquer pessoa pode fazer", diz Gasparetto.
Serviço
O cérebro nosso de cada dia
www.cerebronosso.bio.br
Site mantido pela neurocientista Suzana Herculano Houzel, onde o internauta encontra dicas para manter o cérebro saudável e curiosidades, como a que o cérebro tem 22 Watts de potência, bem menos do que uma lâmpada.
Oficina da memória
www.oficinadamemoria.com
A oficina funciona na Tijuca, na Zona Norte do Rio, ou em Copacabana, na Zona Sul.
Telefones: 2254-3679 e 2255-3719
Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI)
www.unati.uerj.br
Funciona no campus da Uerj, onde Tania Guerreiro, da Oficina da memória, também atua em cursos e workshops.
Telefone: (21) 2587-7236
Para especialistas, jogos são válidos, mas não bastam para estimular o cérebro.
Estudo de línguas, aulas de dança e leitura são a receita, aliados ao bem-estar físico.
Daniella Clark Do G1, no Rio
Aprender a aprender: enquanto se multiplicam sites, jogos e exercícios que prometem turbinar os neurônios, o aprendizado ainda é, para especialistas, a melhor receita de "malhação cerebral".
Segundo médicos e neurocientistas, enquanto jogos como palavras cruzadas, sudoku, quebra-cabeça baseado na colocação lógica de números, ou charadas matemáticas exercitam capacidades específicas do nosso cérebro, o estudo de línguas, aulas de dança, de instrumentos musicais ou mesmo uma boa leitura o protegem de doenças e o ajudam a ficar mais resistente. Tudo isso aliado a boas noites de sono e atividades físicas.
"Não existe a receita: fazer palavras cruzadas basta. Não basta. O que se sabe que confere proteção, ajuda o cérebro a ficar mais resistente é o estudo de uma maneira geral. O importante é aprender a aprender. Criar o hábito de exigir o seu cérebro", explica a neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana Herculano Houzel, autora do livro "Fique de bem com seu cérebro", lançado recentemente pela Editora Sextante.
"Se você faz palavras cruzadas, desenvolve o raciocínio espacial com letras, mas é só isso. Se gosta de charadas matemáticas, desenvolve o raciocínio lógico e matemático. Não existe fórmula mágica. Fazer palavra cruzada e sudoku é bom, mas nada disso basta. É legal combinar isso com outras coisas".
Na Oficina da memória, no Rio, há 17 anos a palavra cruzada dá lugar a cursos em que a aprendizagem é estimulada por meio não só de jogos, como também problemas de raciocício lógico e abstrato, desenhos e teatro, entre outras técnicas. E o público-alvo não se restringe à terceira idade: há aulas oferecidas a empresas, adolescentes e crianças. Nesse último caso, o objetivo é estimular o aprendizado de uma forma mais lúdica.
"Só exercitar a mente com jogos e exercícios é muito pouco. Nossa proposta é sensibilizar a pessoa para seu aprendizado constante. Não adianta jogar e não cuidar da pressão arterial e do bem-estar físico. Os jogos são válidos, mas se feitos com equilíbrio e variados", explica Tania Guerreiro, médica geriatra especialista em memória, diretora da oficina.
Jogos e cérebro: parceiros de longa data
Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor de pesquisa científica do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte, jogos e cérebro são uma dobradinha antiga. Novo é o computador, que aumentou a complexidade dos jogos.
"Não necessariamente são mais eficazes", explica Sidarta, ressaltando que pensar é sempre bom e jogar é botar o cérebro para funcionar. "Um ponto é se é divertido ou não. Outro aspecto é se aquilo vai causar uma mudança no aprendizado. A pessoa pode ficar muito boa em apertar o mouse do computador, é um aprendizado motor. Isso é bom na vida real? Não, só no jogo. Mas jogar xadrez é melhor do que nada. A pessoa pode se especializar num único jogo e ele ser muito completo".
Foi como passatempo que os irmãos Tiago e Vinícius Serafim, de 23 e 19 anos, ambos estudantes de Ciência da Computação na Unicamp, criaram dois sites que atraem fãs de jogos que desafiam o raciocínio lógico. O primeiro, www.sudoku.hex.com.br, que entrou no ar em 2005, foi, segundo eles, a primeira versão em português do Sudoku. Menos de um ano depois veio o rachacuca.com.br. Ambos recebem de seis mil a oito mil acessos por dia.
"É bom para exercitar o cérebro e como diversão. Além de usar a lógica, é um passatempo também", conta Tiago, que busca jogos na internet e os traduz para português.
Se aqui o objetivo é divertir, lá fora é lucrar. No site BrainBuilder, a promessa é melhorar a memória e prevenir o envelhecimento do cérebro em menos de dez minutos por dia, por US$ 7,95 por mês. Já o My brain trainer se define como um ginásio cerebral virtual. O site oferece ao internauta um exercício gratuito (em inglês) como teste.
Correntes nos Estados Unidos defendem exercícios
A prática de exercícios de estimulação cerebral é defendida por duas correntes, nos Estados Unidos. Uma delas é a neuróbica, ou aeróbica dos neurônios, apresentada no livro "Mantenha seu cérebro vivo" (Editora Sextante), de Lawrence Katz e Manning Rubin. Com mais de cem mil exemplares vendidos no Brasil, o livro traz exercícios que prometem melhorar a capacidade cerebral. Defende-se, por exemplo, que um dos caminhos seria a quebra da rotina, como destros escovarem os dentes com a mão esquerda.
"Escovar o dente com a mão esquerda não vai fazer você ficar mais inteligente", rebate a neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana Herculano Houzel.
Já a "ginástica cerebral", criada por Paul E. Dennison, doutor em educação pela Universidade do Sul da Califórnia, defende a prática de exercícios que atingiriam determinadas partes do cérebro. "Movimento é a porta do aprendizado", escreve ele em seu site. Segundo o publicitário e advogado Luiz Eduardo Gasparetto, no Brasil, a marca "ginástica cerebral" foi registrada pela empresa Serap, da qual ele é diretor, e que oferece programas de exercícios para o cérebro a empresas há três anos.
"São todos exercícios físicos, mas movimentos suaves, que qualquer pessoa pode fazer", diz Gasparetto.
Serviço
O cérebro nosso de cada dia
www.cerebronosso.bio.br
Site mantido pela neurocientista Suzana Herculano Houzel, onde o internauta encontra dicas para manter o cérebro saudável e curiosidades, como a que o cérebro tem 22 Watts de potência, bem menos do que uma lâmpada.
Oficina da memória
www.oficinadamemoria.com
A oficina funciona na Tijuca, na Zona Norte do Rio, ou em Copacabana, na Zona Sul.
Telefones: 2254-3679 e 2255-3719
Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI)
www.unati.uerj.br
Funciona no campus da Uerj, onde Tania Guerreiro, da Oficina da memória, também atua em cursos e workshops.
Telefone: (21) 2587-7236
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