segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um século de Dom Hélder, o Dom da Paz

Um século de Dom Hélder, o Dom da Paz

Um dos mais importantes e influentes religiosos e defensores dos direitos humanos brasileiros, dom Hélder Pessoa Câmara, completaria 100 anos no último dia 7 de fevereiro.

"A figura de dom Hélder vai além do Brasil, lembra o coordenador nacional do MNDH, Gilson Cardoso. Não podemos nos esquecer que durante os duros anos da ditadura militar (1964-1985) foi uma das vozes ouvidas em qualquer lugar do mundo. Sempre clamando pelo fim do arbítrio e por aqueles que foram a vítimas daquele momento da vida política e social nacional".

Dom Hélder nasceu em Fortaleza (Ceará) no dia 7 de fevereiro de 1909. Sua vocação religiosa já aparece com apenas quatro anos, graças à influência dos padres lazaristas, que atuavam na arquidiocese de Fortaleza, no Seminário da Prainha.

Recebe sua primeira eucaristia aos oito anos e aos quatorze entra para o Seminário da Prainha de São José, onde faz os cursos preparatórios e cursa, sem seguida, filosofia e teologia.

Estudante lúcido e atento, desde cedo dom Hélder conhecimento de demonstra desenvoltura para debater filosofia e teologia.

Na festa da assunção de Nossa Senhora, no dia 15 de agosto de 1931, é ordenado sacerdote, por especial autorização da Santa Sé, já que não havia completado a idade mínima exigida para ordenação: 24 anos.

Sua primeira missa é celebrada no dia seguinte. Meses mais tarde e nomeado diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará, cargo que exerce por cinco anos.

Rio de Janeiro

Passador esse período, o ainda sacerdote Hélder é transferido para o Rio de Janeiro, onde mora e trabalha por 28 anos.

"A passagem dele pelo Rio – quase três décadas – é marcante não só para ele, com para cariocas e fluminenses. É impossível ter vivido nessa época do Rio de Janeiro e não conhecer o trabalho desenvolvido por dom Hélder", diz Gilson Cardoso.

Na então capital federal, dom Hélder colabora com revistas católicas, organiza o 36º Congresso Eucarístico Internacional, exerce funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação, funda a Cruzada São Sebastião - para atender favelados - e o Banco da Providência, destinado a ajudar famílias pobres.

"As ações de dom Hélder junto às comunidades mais pobres do Rio de Janeiro foi marcante. Podemos quase dizer que esse contato com os pobres do Rio moldou o caráter de luta do religioso", diz Gilson Cardoso.

O Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no dia 20 de abril de 1952, o elege bispo auxiliar do Rio de Janeiro. No período em que permanece lá, exerce o cargo de Secretário Geral da CNBB, implanta os ideais da Organização, promove interação entre os bispos do Brasil, participa de congressos para atualização e adaptação da Igreja Católica aos tempos modernos, sobretudo integrando a Igreja na luta em defesa da justiça e cidadania.

Olinda-Recife

Aos 55 anos, dom Hélder Câmara é nomeado arcebispo de Olinda e Recife e assume a arquidiocese no dia 12 de março de 1964, permanecendo neste cargo durante vinte anos.

"Ou seja, lembra Gilson Cardoso, dom Hélder volta para o Nordeste – agora para Pernambuco – quando eclode ditadura militar. É neste momento que se torna importante ativista e um líder fundamental contra o autoritarismo e os abusos aos direitos humanos praticados pelos militares brasileiros."

Durante toda sua vida, mas especialmente a partir do golpe militar de 64, dom Hélder desempenha inúmeras funções, principalmente em organizações não-governamentais, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria.

"Como sacerdote que era, dom Helder pode levantar sua voz em defesa da comunidade sem vez e sem voz na escala social", relembra Gilson Cardoso. "Durante toda sua vida, teve como ideário nas suas pregações a luta pela fé cristã e a caridade aos pobres e oprimidos".

Projetos

Paralelamente às atividades religiosas, dom Helder cria projetos e organizações pastorais, destinadas a atender às comunidades do Nordeste, que viviam em situação de miséria.

Sua atuação política e social e sua pregação libertadora em defesa dos mais pobres lhe valem perseguições e a identificação com ideais comunistas. A partir de então, sofre retaliações e perseguições por parte das autoridades militares. É impedido de ter acesso aos meios de comunicação de massa e de divulgar suas mensagens durante todo o período ditatorial.

Quanto mais perseguido, mais dom Hélder ganhava notoriedade no Brasil e no exterior. Recebia, constantemente, convites para proferir palestras e presidir solenidades nas universidades brasileiras e em instituições internacionais.

No final da década de 90, com o apoio de outras instituições filantrópicas, lança oficialmente, na Fundação Joaquim Nabuco, (no Recife) a campanha Ano 2000 Sem Miséria. Para ele era grande o constrangimento em saber que, às vésperas do segundo milênio do nascimento de Jesus Cristo, milhares de pessoas ainda vivessem na miséria.

Livros e homenagens

Dom Hélder escreveu diversos livros que foram traduzidos em vários idiomas, entre os quais, japonês, inglês, alemão, francês, espanhol, italiano, norueguês, sueco, dinamarquês, holandês, finlandês.

Recebeu cerca de seiscentas condecorações, entre placas, diplomas, medalhas, certificados, troféus e comendas.

Foi orador de massas no Brasil e no exterior, onde expressou, com densidade e força, seus ideais, posicionamentos, questionamentos religiosos, políticos e sociais.

Foi distinguido com 32 títulos de Doutor Honoris Causa, vinte e quatro prêmios dos mais diversos órgãos internacionais. Diversas cidades brasileiras concederam-lhe cerca de 30 títulos de cidadão honorário.

O arcebispo D. Hélder Câmara é lembrado na história da Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil e no mundo, como um Apóstolo, que soube honrar o Brasil e usar o carisma de defensor da paz e da justiça para os filhos de Deus.

No dia 27 de agosto de 1999, a figura do grande peregrino do povo, com sua aparência frágil e a palavra forte, vitimada por uma parada cardiorrespiratória, calou a voz, para dar início à infinita caminhada para a verdadeira vida, que era assim como ele via morte.

"...quando dou pão aos pobres,
chamam-me de santo, quando
pergunto pelas causas da pobreza,
me chamam de comunista."...

Dom Hélder Câmara

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