domingo, 8 de fevereiro de 2009

Centenário d e D.Hélder Câmara, começa hoje, 07/02/2009


D.Hélder Câmara, primo não sei em que grau de minha avó Theófila Theonila Câmara de Araújo, riograndense do norte, uma santinha, foi o bispo dos pobres, lutou pelas causas sociais e sofreu reprimendas porque o bispo de Recife e Olinda - ele não andava paramentado nem aparecia com pompas, andava para todo lado, cercado por jovens, pelo povo, mas amado por pessoas de todas classes sociais, vestido com sua velha batina, simples e...Poeta.

Hoje, é seu aniversário: faria cem anos e por certo estaria se pronunciando sobre a Faixa de Gaza. Certa feita, mandei-lhe uns recortes onde publicara poemas seus e ele respondeu. Na enchente que sofri na Ilha do Amor, em São Luiz, MA, perdi esse precioso envelope.
Mas em 1988, eu morava em Belém e assinava "O Mensageiro de Santo Antonio, revista católica, que eu apreciava por causa do enganjamento social dos franciscanos, dos artigos de psicologia e porque escrevia nela(*), a convite de um certo e encantador Frei Luiz.

D.Hélder estava completando 79 anos. Fotos em preto e branco muito interessantes, o pastor falando ás ovelhas, com a legenda "Franzino de estatura e chegando aos 79 anos de idade, D.Hélder mostra a sua força interior quando fala às pessoas". O braço direito de D.Hélder parece flutuar - estaria pregando ou dizendo poemas?
Descobri que sua mãe também era Pessoa e alegrei-me - seria um duplo parentesco?
A revista cite a entrevista, ao "Bispo Comunista", vejam esse momento de desabafafo:

MSA;- "Quais os desafios que a Igreja ou mesmo um simples cristão tem de enfrentar hoje, no Brasil?"

D.Hélder- "Estamos nesta situação: se um trabalhador rural,ou alguém da pastoral da terra (leigo engajado, padre,religiosa, bispo) trabalha para os pobres, levando alimento, fornecendo remédios, ajudando a refazer o barraco, é considerado um santo. Mas se esta mesma pessoa tiver a audácia de falar em justiça social, em direitos humanos ou em reforma agrária que no momento é o maior desafio, imediatamente é acusada de subversiva, de comunista. Eu fui chamado de bispo por muitos anos! Agora este apedlido está desmoralizado porque não adianta mais chamar de comunista quem procura promover a dignidade dos filhos de Deus. Quando fui,recentemente, aos Estados unidos, recebi um livro com o título: "Está o Brasil descambando rapidamente para o Comunismo por causa da reforma agrária?"
Respondi que todo mundo viu pela televisão o papa João Paulo II afirmar que "a reforma agrária no Brasil deve ser feita". Desta vez ela ainda é possível sem ódio e sem violência. Nas minhas andanças pelo Brasil nunca ouvi frases como estas: "já fui muito pisado, agora o que eu quero é pisar": o povo simples, da base, está cansado de injustiças, não quer mais ser pisado. Basta de "pisadura"! Mas daqui para a frente,se a situação não melhorar quem pode garantir que a paciência não se esgota?"

Então, vejam o quanto esse homem que tinha a doçura inconteste dos justos ("Há pessoas como a cana de açúcar, que postas na moenda só sabem destilar doçuras" - parece-me seu próprio auto-retrato num se seus famosos poemetos), filtrava-se pelo crivo do outro, do necessitado. Quando fala em que se pode perder um dia a paciência, não traz discursos melífluos de falsidade a respeito do perdão inconseqüente e inconsciente, da acomodação, pelo contrário, sempre chamou à razão os pobre, os donos do poder.

Aos 14 anos, vai para os Seminário, em 36 vai para o Rio, onde é eleito bispo em 03/03/62. Em 64, o ano do golpe militar, é eleito Bispo de Olinda e Recife e toma posse em 12 de abril de 64. Trabalha 12 anos sem parar em sua Diocese e em 10 de abril, torna-se um Bispo "renunciatário". Pode-se aquilatar o que isso quis dizer.
Mas quando tinha 75 anos(em 1984) continuava muito ativo e ouviu de um papa que o compreendeu muito bem, João Paulo II, um decreto, conforme conta à revista acima cita: "(...) quando eu já tinha passado dos 75 anos de idade(a idade oficial para a aposentadoria dos bispos é precisamente esta), me convedeu um, dois anos ainda de trabalho, como arcebispo de Recife e Olinda; depois me disse: "olhe, a aposentadoria é para a Diocese. Enquanto Deus lhe der vida e saúde, continue circulando dentro do Brasil, circulando ao redor do mundo". Tenho feito as duas coisas, dando palestras e dando retiros"(...)

À época da Anistia, em 1978, escreveu os poemas ilustrados por vários desenhistas, entre os quais Fortuna, Caulos, Ziraldo, os corajosos enfrentadores da situação em nosso País. A Fundação Perseu Abramo, publicou os que hoje aqui posto.

Sempre achei que o poeta deve ser um missionário da PAZ. D.Hélder foi literalmente um deles e beijos seus pés andarilhos, em respeito a quem tanto amou o povo simples brasileiro. Independente de credos, não há quem deixe de nele reconhecer aquele que "combateu o bom combate". E foi chamado de "comunista" á época em que se prendia a respiração ao passar perto de um, os comunistas cercados de lendas, mitos e preconceitos. Mas ele perseverou e até morrer, usou a palavra e a poesia para defender os pobres e seus direitos.

Eis os poemas, dois cartões, pela PAZ e pela ANISTIA:

Água por todos os lados...
Nem sombra de margem....
Nem sombra de sombra de terra...
Nem sombra de sombra de homens...
A quem entregarei o ramo de oliveira
que o Pai me encarrega de entregar
a quem o segure, e plante,
e dele cuide como a árvore de paz!?...

Ilustração de Ciça

Já me sinto angulosa...
Mais pareço de papel
quem sabe, de plástico!
depois de tanto voar,
buscando em vão
um lugar de pouso....
O cansaço me obriga
a esticar as pernas
que mais parecem armas...
Verde, cheio de vida,
só mesmo o ramo de paz
que tenho que levar aos Homens,
de qualquer maneira...

Ilustração de Caulos

Longe de mim, Senhor
Julgar-me melhor que ninguém...
Mas não te parece que se alguém
não se deve crispar,
enrigecer-se,
cobrir-se de arame ou de espinho
é quem recebeu de Ti missão
de brancura e de paz!?

Amigos, perdõem
se pareço prosa,
convencida, orgulhosa...
Move-me a alegria
de entrever em pleno dilúvio,
que continua e se agrava
indícios de terra firme,
onde plantar meu ramo de oliveira!

Ilustração de Fortuna

Arrancaram-me o ramo de oliveira,
razão de meu vôo...
Quiseram impingir-me
outro ramo de pseudo-paz.
Já descobri, em meio ao dilúvio
de ódio e de guerra
em maré crescente, minorias que cultivam
oliveiras de verdade,
símbolos fiéis da paz verdadeira...

Ilustração de Henfil

Pensando bem
que importa
que a sombra
que atinge a todos
me atinga, também!?...
Nem me sentiria à vontade
diferente de todos...
Essencialé que seja de luz
o ramo cuja entrega
é a razão da minha vida
e de meu vôo!...

Ilustração de Alfredo

Para cumprir a missão sagrada de levar a paz,
vôo de qualquer maneira,
em qualquer direção,
com vento ou sem vento,
com força ou sem força,
até cair, até morrer...

Ilustração de Zélio

Parti banhada de luz
Há tanta sombra,
tanta escuridão,
tanta falta de esperança,
tanta falta de alegria,
que eu sinto, Senhor,
o perigo vivo
de ser contagiada...
Tú és minha Luz!
Vais permitir
que o próprio ramo de paz, de vida,
se transforme em ramo de morte!?

Ilustração de Chico

Os artistas, Senhor
- sabes melhor que ninguém -
não só participam
de Teu Poder Criador,
mas têm antenas sensibilíssimas
para captar
todos os grandes sofrimentos humanos,
e as mais tênues esperanças
e os mais remotos perigos...
Repara como sentem e pressentem
que tipo de paz anda rondando a Terra
e sendo ofertada aos filhos dos Homens!...

Ilustração de Conceição Canu

Que importa, que ao chegar
eu nem pareça pássaro!
Que importa se ao chegar
venha me rebentando
caindo aos pedaços,
sem aprumo e sem beleza!...
Fundamental é cumprir a missão
e cumpri-la até o fim!...

Ilustração de Gandré

O ramo com que parti
já se transformou em árvore,
que nem eu sei
como tenho tido força
para carregar...
Também, quando puder confiá-la
ao chão dos Homens
já não terá que crescer...
É só florir e frutificar!...

Ilustração de Ziraldo

Fonte: Fundação Perseu Abramo

Criada em Minas, para onde vim, da Ilha de fernando de Noronha, aos seis anos de idade, jamais tive o prazer de conversar pessoalmente com esse parente, mas sempre o amei, respeitei e admirei.
Ao chegar a São Luiz, tendo conversado sobre esses sentimentos com Joel jacinto, um jovem colega do INAMPS, com quem trabalhava na superintendência regional, hoje jornalista, ele levou para eu ler um dos livros de poemas de D.Hélder.Eu não conseguia encontrar um exemplar para comprar, então,ele acabou vindo comigo na mudança, sem querer. Ao retornar a Belo Horizonte, depois de morar em Belém , comprei outro e devolvi a preciosidade, pelo Correio ao Joel.


O que eu quero dizer é que não imporrta religião ou idade, ler D.Hélder é ter lições de Humanismo.

Emprestei meu próprio volume e jamais o tive de volta. Felizmente, então em época de Internet, mas do tipo que adoro folhear e ler no papel - menina antiga - penso que a exemplo dos cartões à época das lutas pela anistia, educadores deveriam promover concursos de desenho, para ilustrar poemas de D.Hélder, aproveitar e despertar a necessidade absoluta de paz em nosso planeta e ensinar a verdade simples. O OUTRO É NOSSO IRMÃO...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte
07/02/2009
Início do Centenário de D.Hélder Câmara.

Caldo de cana e Caju para o nordestino D.Hélder Câmara

Garapa e caldo-de-cana,
asas brancas e voz branca,
nenhum desperdício do verbo
em sua POIESIS plena.
Nordestino pequenino,
cajueiro gigante, de teu tronco,
as lágrimas escorridas serviram de lacre à energia,
à alegria de viver.
De teus sermões e discursos,
a carne sumarenta do fruto com cores de pássaro fecundo.
Da semente, encolhida qual um feto,
o gosto saboroso,
depois de passar pela prova do fogo,
o segredo da multiplicação,
da Bondade absoluta
e da Paz entre os homens...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Embaixadora Universal da Paz
(Pelo Cercle de les Ambassadeurs Univ. de La Paix-Genebra, Suiça, Orange, França).

Uma de minhas antigas trovas para ele:

Bom Pastor,
também um bardo,
fez mil versos pela PAZ,
flor do povo,
verde cardo,
na Lei do Amor,
um primaz...

Clevane Pessoa

(*) Um dia, recebi um convite de Frei Luiz, para escrever em o Mensageiro de Santo Antonio, onde ele era redator, depois que enviei-lhe algo escrito por mim mesmo cartas de leitores, onde a psicologia fazia-se necessária, ele as encaminhava para que eu desse uma palavrinha. Escrevi, entre outros, um artigo sobre "Mães- Meninas", que depois foi tema livre, em 1986, no Congresso de Adolescência do Rio de Janeiro, da Sociedade de Pedatria e está nos anais do congresso.
Um dia, mandei outro artigo, e recebi um recado malcriado de um novo redator chefe, outro frei, dizendo que não tinha obrigação de publicar o que ali caía de paraquedas. E cobrou-me o valor da assinatura. Eu o fôra, mas o bondoso frei Luiz mandara-me, ao receber um cheque anual, dizer que o rasgara, pois eu era colaboradora efetiva da revista, ele não aceitaria que eu pagasse para receber meus exemplares mensais.
Mandei outro cheque e expliquei ao novo contato, que já escrevia há anos, na revista. Ele jamais respondeu, eu não soube se Frei Luiz morrera, fora transferido ou afastado. Até entre os freis, deduzo, que devem seguir as sandálias de São Francisco e de Santo Antonio, há os que não são tão mansos quanto é preciso ser.

Clevane

Disse o bom pastor:
Cheios de esperança,
deixemos que parta a pomba da paz,
com o anúncio,
de aparência absurda,
do surgimento de um Mundo
mais respeitável,
mais justo e mais humano!

D.Hélder Câmara

(Ele apunha a cruz a preceder seu nome. D.Hélder nasceu em Fortaleza, Ceará, filho da professora primária Adelaide Pessoa Câmara e João Cãmara Filho, guarda-livros. A genitora deu à luz 13 filhos. Dos oito sobreviventes, cinco ainda se foram em uma epidemia). Vocação vem do latim vocare, chamar: o chamamento de D.Hélder Câmara é uma prova que foi tocado pelas coisas do Alto.

"Para mim, uma das felicidades, é que Deus não exige êxito. Ele exige SINCERIDADE", revela o irmão dos pobres, naquele ano de 1988.

E num dos box da reportagem , afirma o redator: "A preferência dele sempre foi pelos mais esquecidos, "os pobres"; sua atenção sempre voltada para o assunto mais
importante na caminhada da humanidade: "A PAZ"(...)

Pax et LUX!Poetas, façam a sua parte!

Clevane

Amigos
Vou organizar um e-book comemorativo, então, desenhistas, poetas,musicistas, poetas e prosadores, chargistas,ativistas pela PAZ (etc), mandem suas colaborações para triagem, que publicarei em meu blog acima e ainda, ao final (depois enviarei o prazo-linite para envio, mas já podem enviar), publicarei um livro virtual ("D.Helder Câmara, pastor e Poeta").
Aguardo, por favor, divulguem

Clevane Pessoa

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