sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Dia Nacional do Livro Didático

Dia Nacional do Livro Didático
27 de Fevereiro

Prioridade Absoluta nº 367 18 de fevereiro a 2 de março de 2009

Livros didáticos não contemplam diversidade brasileira

Contexto do semi-árido brasileiro não está refletido nos livros de forma adequada;
Livro adequado à realidade do aluno ajuda a melhorar níveis de aprendizagem;
Pesquisadores relatam impactos provocados pela ausência de questões regionais nestas publicações;

Na sexta-feira, 27 de fevereiro, se comemorado o Dia Nacional do Livro Didático, uma das principais ferramentas utilizadas pelos professores no processo educativo. Ao longo de quase um século de presença no país, os livros passaram por diversas alterações, de forma a se tornarem mais atrativa para as crianças (ver Box). Mas existe uma questão que ainda não foi superada: são poucos os materiais didáticos que abordam aspectos da realidade em que o estudante se encontra.

"Esse problema está relacionado com a elaboração, com a forma que os autores escrevem os livros. E é também um problema de produção, porque se formos elaborar um material especializado para cada região do país, temos que falar de um sistema grande de produção, considerando que hoje o Governo Federal é o grande produtor e distribuidor de livros didáticos no Brasil", destaca a coordenadora do Programa Nacional do Livro Didático e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da UFMG, Ceris Ribas. A pesquisadora também aponta como problema a predominância de determinados pontos de vista. "Os textos circulam em diversas regiões, mas adivinha de qual região prevalecem? Os do sudeste. Não há representação do nosso país como um todo, representação dos diversos autores e etnias", argumenta.

Reflexos na aprendizagem
No Semi-árido, a identificação dos estudantes com o livro didático se torna ainda mais difícil. "Tem melhorado, mas ainda está longe do ideal. Principalmente os livros de geografia e história, que não abordam as questões regionais. Nós temos que pegar o material e adaptar", revela a coordenadora pedagógica da Escola Estadual Antônio Figueira, em Montes Claros, norte de Minas Gerais. A escola conseguiu classificar todos os seus alunos do 3º ano do Ensino Fundamental no nível mais alto de proficiência, de acordo com o Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa), realizado pela Secretaria de Estado de Educação.

O coordenador do escritório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para os estados da Bahia e Sergipe, Ruy Pavan, explica que a educação contextualizada possibilita levar conteúdos relacionados ao local onde os estudantes vivem para dentro das escolas e espaços alternativos de aprendizagem. "Os livros didáticos têm que refletir o contexto onde a criança está inserida. A capacidade de aprendizado aumenta muito quando os assuntos são apresentados de forma contextualizada, pois o aluno percebe que o mundo em que vive está também dentro da sala de aula", explica.

A coordenadora do Programa Nacional do Livro Didático, Ceris Ribas, exemplifica como a ausência do olhar regional pode dificultar a alfabetização, processo em que a criança deve estabelecer uma relação entre os sons da fala e a escrita: "um livro didático que pega algumas palavras e diz que o som daquela letra é apenas de uma forma, cria um problema. Por exemplo, para vogais mais fechadas ou mais abertas, como se fala no nordeste. Se não levar em conta essa diferença, pode se criar uma forma muito artificial de ler a palavra", aponta.

Livro especializado
Uma experiência interessante foi realizada pela Rede de Educação do Semi-árido Brasileiro (Resab), que reuniu autores, estudiosos e educadores para elaborar a publicação experimental "Conhecendo o Semi-Árido". O livro é inspirado em experiências municipais de educação contextualizada e valoriza a diversidade, a cultura, a história, as vivências e a força do povo do sertão, com apresentação de alternativas para a permanência das pessoas na região. A produção do livro só se tornou possível com o apoio do Unicef e do Centro de Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). A edição foi realizada com foco nos alunos de 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental de escolas públicas dos onze estados que integram a região do Semi-Árido.

Nos meses de novembro e dezembro de 2006, a Resab aplicou um teste de recepção da publicação com 4.080 crianças de 17 municípios dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Segundo Lucineide Martins, membro da Secretaria Executiva da Resab, a pesquisa revelou que a receptividade do livro foi positiva, tanto entre professores, quanto entre os alunos. Segundo ela, a aplicação do "Conhecendo o Semi-Árido" despertou os jovens para o conhecimento da realidade ao redor da escola, a exemplo da vegetação do semi-árido, assim como para aprender e explorar as capacidades e habilidades da região. "Os alunos ainda passaram a levar os livros para casa e a compartilhar os conteúdos com a família", relata.

Nos dias 26 e 27 de fevereiro, a secretaria executiva da Resab se reúne em Juazeiro, na Bahia, para discutir a liberação por parte das editoras das músicas e textos que compõem o livro, para que ele possa ser disseminado.

De onde veio o livro didático?

O livro didático caracteriza-se por ser uma publicação de caráter pedagógico que surgiu da iniciativa de alguns autores-educadores como complemento aos livros clássicos. Utilizado nas escolas, ele busca ajudar na alfabetização, divulgação e construção dos conhecimentos.

A trajetória do livro didático no Brasil é datada de 1929, durante o governo de Getúlio Vargas. O pontapé inicial para a criação da política oficial para o livro didático se deu com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL), em 1937. Nessa época, os livros didáticos eram elaborados como coleções, por autores célebres, e passados pela família de geração em geração, com pouquíssimas atualizações. Alguns intelectuais como Augusto Meyer, Sérgio Buarque de Holanda e Mário de Andrade estavam ligados ao INL.

Ao longo das décadas, a política oficial para o livro didático passou por adaptações, até que em 1985 foi criado o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). A iniciativa possibilita que o professor escolha o livro mais adequado aos seus alunos e ao projeto político-pedagógico da escola. Com o tempo, o material pedagógico também se tornou mais maleável às novidades das diversas ciências. Como resultado, os livros hoje não têm a duração de mais de 3 anos. O maior produtor e distrubuidor de livros didáticos do País é o Governo Federal, uma vez que o material das escolas públicas não é mais de de responsabilidades dos alunos.

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