Texto da Semana
Atualização Blog Casa de Paragens
poema: Espera
Texto da Semana
Breve premonição para uma viagem
Domingo. Final de tarde. Ele irá atravessar a cidade com uma mala cheia de roupa suja. Levará as roupas para serem lavadas. Ele andará até o ponto de ônibus. Notará que os cães da vizinhança estarão agitados, como se algo os prendesse no final de tarde. Os cães latirão uma agonia ou alegria que seu idioma não entende.
Ele chegará ao ponto de ônibus. Antes do ônibus chegar, um motorista pedirá uma informação de como sair dali. Ele terá vontade de mentir, mas não, dirá a rota certa para sair do labirinto. A vida ao redor murmurará: skates, bicicletas, uma mulher de amarelo.
Ouvirá um ronco. O ônibus. Fará um sinal. Perceberá que é uma mulher motorista. Entrará, passará a catraca, se atrapalhará com a mala de roupas sujas. A motorista continuará conversando com a única passageira, além dele. Contará que, nas manhãs, é professora e nas tardes dirige ônibus. Contará que, nas manhãs, o marido é
operário e, nas tardes, cuida da própria empresinha. A passageira ouvinte descerá antes dele e o deixará sozinho com a motorista, que nada mais falará até que ele desça.
Ele descerá para esperar o outro ônibus. Sentará ao lado de uma mulher velha. Sorrirão timidamente um para o outro. O ônibus virá. Estará lotado mesmo sendo domingo à tarde. Ele ficará em pé. Sua mala de roupas sujas atrapalhará alguns passageiros. Pedirá desculpas. A mulher velha conseguirá sentar-se ao lado de um homem que estará dormindo. Ele verá a fragilidade do homem dormindo. Os demais passageiros também serão frágeis.
Chegará ao terminal central. Notará pequenas ilhas de conflito. Mãe e filho. Adolescentes. Dois homens num canto. Aguardará mais um pouco o próximo ônibus. Perceberá que o ônibus se aproxima porque de repente várias pessoas ficarão à sua frente. Todos estarão ávidos por um assento. Ele não, ele ficará em pé
novamente. Aos seus pés a mala de roupas sujas. Ele verá nesse ônibus quase o mesmo que viu no outro. De diferente, apenas uma moça estará lendo "Homens Gostam de Mulheres que Gostam de Si Mesmas". Ele pensará que ela não necessitava ler um livro pra saber disso. Ele olhará os demais passageiros e todos estarão olhando para ele e sua mala.
Então, descerá perto da casa da lavadora. Terá de andar três quadras. Ele carregará sua mala como quem carrega um corpo morto. Com cuidado e constrangimento. Ele terá dificuldades de atravessar a rua e não ouvirá nenhum cachorro latir. Rirá por dentro. Aqui nesse bairro os carros fazem às vezes de cachorro.
Chegará à casa da mulher que lava suas roupas. Pagará pelo serviço do mês passado. Descobrirá novas coisas superficiais da vida dela: uma filha promovida, o seu retorno ao antigo emprego e a morte do cachorro que estavam criando. "Estava tão bonito, daí secou, secou e
morreu." Ele lamentará um pouco.
Depois, irá despedir-se e voltará pelo mesmo caminho até a sua casa. Não terá mais a mala de roupas sujas para diferenciá-lo. Será mais um homem dentro do ônibus num começo de noite. Domingo à noite. Não verá mais nada diferente. Nem a lua cheia. Chegará em casa, ligará a TV e logo depois dormirá um sono longo e ininterrupto. Até que o despertador o acorde na manhã trabalhadora de segunda-feira.
Ele chegará ao ponto de ônibus. Antes do ônibus chegar, um motorista pedirá uma informação de como sair dali. Ele terá vontade de mentir, mas não, dirá a rota certa para sair do labirinto. A vida ao redor murmurará: skates, bicicletas, uma mulher de amarelo.
Ouvirá um ronco. O ônibus. Fará um sinal. Perceberá que é uma mulher motorista. Entrará, passará a catraca, se atrapalhará com a mala de roupas sujas. A motorista continuará conversando com a única passageira, além dele. Contará que, nas manhãs, é professora e nas tardes dirige ônibus. Contará que, nas manhãs, o marido é
operário e, nas tardes, cuida da própria empresinha. A passageira ouvinte descerá antes dele e o deixará sozinho com a motorista, que nada mais falará até que ele desça.
Ele descerá para esperar o outro ônibus. Sentará ao lado de uma mulher velha. Sorrirão timidamente um para o outro. O ônibus virá. Estará lotado mesmo sendo domingo à tarde. Ele ficará em pé. Sua mala de roupas sujas atrapalhará alguns passageiros. Pedirá desculpas. A mulher velha conseguirá sentar-se ao lado de um homem que estará dormindo. Ele verá a fragilidade do homem dormindo. Os demais passageiros também serão frágeis.
Chegará ao terminal central. Notará pequenas ilhas de conflito. Mãe e filho. Adolescentes. Dois homens num canto. Aguardará mais um pouco o próximo ônibus. Perceberá que o ônibus se aproxima porque de repente várias pessoas ficarão à sua frente. Todos estarão ávidos por um assento. Ele não, ele ficará em pé
novamente. Aos seus pés a mala de roupas sujas. Ele verá nesse ônibus quase o mesmo que viu no outro. De diferente, apenas uma moça estará lendo "Homens Gostam de Mulheres que Gostam de Si Mesmas". Ele pensará que ela não necessitava ler um livro pra saber disso. Ele olhará os demais passageiros e todos estarão olhando para ele e sua mala.
Então, descerá perto da casa da lavadora. Terá de andar três quadras. Ele carregará sua mala como quem carrega um corpo morto. Com cuidado e constrangimento. Ele terá dificuldades de atravessar a rua e não ouvirá nenhum cachorro latir. Rirá por dentro. Aqui nesse bairro os carros fazem às vezes de cachorro.
Chegará à casa da mulher que lava suas roupas. Pagará pelo serviço do mês passado. Descobrirá novas coisas superficiais da vida dela: uma filha promovida, o seu retorno ao antigo emprego e a morte do cachorro que estavam criando. "Estava tão bonito, daí secou, secou e
morreu." Ele lamentará um pouco.
Depois, irá despedir-se e voltará pelo mesmo caminho até a sua casa. Não terá mais a mala de roupas sujas para diferenciá-lo. Será mais um homem dentro do ônibus num começo de noite. Domingo à noite. Não verá mais nada diferente. Nem a lua cheia. Chegará em casa, ligará a TV e logo depois dormirá um sono longo e ininterrupto. Até que o despertador o acorde na manhã trabalhadora de segunda-feira.
Rubens da Cunha
Últimas Poemas antologia ME - 18 no Blog.
Visitem:
www.mulheresemergentes.blogspotTânia Diniz
poeta e editora
telefax (31) 3332 21 11
www.mulheresemergentes.blogspot
0 Comments:
Post a Comment