sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ronaldo Werneck

Agora e a seguir, exclusivamente pra vocês.

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Liberal de Cabo Verde

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Domingo, nas páginas gloriosas do jornal "Cataguases".

Há Controvérsias

Brasília-Cataguases: escritores nascituros

No Bistrô Bom Demais (CCBB-Brasília) RW ensaia uma
queda-de-braço com a poesia (Foto Robson Correa Araújo)


Falou-se poemas nas ruas, nos museus, nas universidades, nos teatros, nos espaços mais inusitados. Liberta das mais recônditas gôndolas das livrarias – onde é quase sempre jogada às traças – a poesia invadiu a cidade. E ganhou finalmente a praça pública: como antes, na ágora dos gregos. Bom Demais, Balaio, Martinica, Savana, Rayuela, Açougue Cultural T-Bone: a poesia tomou de assalto cafés e bistrôs da Capital Federal, trafegou pela Barca Brasília no Lago Paranoá e avançou pelas cidades-satélites. Imaginada como um espaço para o confronto das linguagens e formatos em que acontece a poesia contemporânea, em sua diversidade, a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília – que ocupou vários espaços da Capital Federal entre os dias 03 e 07 de setembro de 2008 – foi um acontecimento fundador, um museu vivo e internacional da poesia que se faz no momento, uma tentativa de revitalização poética como há muito não se via. Segundo seu idealizador, o poeta-professor Antonio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, a Bienal foi “uma espécie de caleidoscópio, de vitral ou mural em que se expuseram todas as tendências para um confronto entre os criadores, mas aberto ao público”.

A Bienal não foi somente um festival de poesia para os poetas-participantes, mas – como afirmou o professor Miranda – “um encontro de poetas, editores, ensaístas e toda a classe de ativistas culturais com públicos em diversas escalas, desde os freqüentadores dos cafés literários e academias até os espaços abertos, em shows, em ônibus, praças públicas”. Daí, e não por acaso, a tomada da poesia em frentes diversificadas e nos pontos mais distantes da capital, um evento que não se deteve no mainstream do eixo central, mas espraiou-se pelos bistrôs e cafés-concertos de Brasília e pelas cidades-satélites.

Apesar de contar com o apoio da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal – tanto os Secretários de Cultura e de Educação, como o Governado José Roberto Arruda estiveram presentes à sessão de abertura no Museu Nacional, que teve palestra do poeta Affonso Romano de SantAnna – a I BIP não foi um evento “chapa branca”, mas manifestação solidária, cooperativa, democrática, em que muitos parceiros e voluntários se prestaram à montagem de sessões em diversos locais, com a total liberdade de organização e escolha. Mesmo oferecendo uma programação formatada, com nomes célebres em seus países de origem, o evento esteve aberto para que qualquer poeta pudesse divulgar seu trabalho, sem a mínima censura.

A Bienal prestou homenagens especiais aos poetas Thiago de Mello, Affonso Romano de SantAnna, Reynaldo Jardim (que ganhou uma exposição de suas criações literárias e multiartísticas na Biblioteca Nacional, intitulada “Revanguarda”) e ao poeta-processo Wlademir Dias-Pino, que acaba de completar 80 anos, e que teve suas obras em destaque na exposição de poesia visual “ObraNome”, realizada no Museu Nacional de Brasília. Na área experimental, o poeta Robson Correa Araújo apresentou na Biblioteca Nacional a mostra “Y-Semiótico”, projeção de vídeos com poesia de experimentação de linguagem semiótica.

Com curadoria do poeta Paco Cac, a Biblioteca Central da Universidade de Brasília exibiu a mostra “Revistas de Poesia”, com 50 revistas que refletiam a diversidade dos projetos poéticos surgidos nos últimos 50 anos. Paco Cac encenou ainda na Sala de Som do Museu Nacional o míni-show “O Menor Espetáculo da Terra”, uma audição realizada em sete minutos para sete pessoas, com poemas de Torquato Neto, Samaral, Sousândrade, Ferreira Gullar, Nelson Cavaquinho, kzé, Paulo Leminski. Também no Museu Nacional e na Praça do Conjunto Cultural da República, acontecia a mostra “Utopia e Modernidade: de Brasília à Tropicália”, com curadoria de Ana Queiroz.

A I BIP lançou na ocasião três antologias, o “Poemário”, com trabalhos de poetas-convidados dos vários países participantes; “Deste Planalto Central – Poetas de Brasília”; e “ObraNome”, catálogo com os trabalhos dos poetas visuais que participaram da exposição homônima no Museu Nacional de Brasília. E também os poetas-mirins não foram esquecidos: tiveram sua hora e vez na “Antologia da Poesia em Superdotação”, resultante de concurso nacional patrocinado pelo Ministério da Educação, com textos bilíngues, português e espanhol.

“Muito que bem”. Surge aqui o “link-Cataguases”, que não podia faltar se é de poesia que estamos a falar. Na Bienal de Brasília, Cataguases fez-se representar por Francisco Marcelo Cabral, Lina Tâmega Peixoto e por este controvertido cronista. Mal voltara eu do “federal porre poético” – onde, como já sabemos, houve o lançamento da antologia-mirim “Poesia em Superdotação” –, e eis que recebo convite para o lançamento de outra antologia-mirim, o volume “Assim Nasce um Escritor”, resultante de concurso promovido pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com o Proler, e que contempla alunos de diversas faixas etárias das escolas de Cataguases.

Fui mais para ver do que se tratava, mas acabei convidado pelo prefeito Tarcísio Henriques para participar da mesa e entregar os prêmios aos jovens escritores “nascituros”, palavra que sapeco aqui para mostrar alguma erudição, como a justificar minha presença em tão digna mesa, ao lado da Secretária de Educação, Ana Maria Paixão Resende, e do “mais político de nossos políticos”, Galba Rodriguez Ferraz, autor da Lei Municipal 2731/97, que criou o projeto “Assim Nasce um Escritor”.

“Palavras doces, palavras fortes/ palavras pequenas, palavras de emoção/ palavras pesadas, palavras leves/ palavras da alma, puras ou não”, diz o poema de Carla Ramalho Procópio, da 7ª. Série do Colégio de Aplicação-FIC, que fecha com o quarteto “Palavras são palavras/insubstituíveis e sem fim/ para algumas pessoas, comuns/ mas são eternas para mim”. Isso aí, Carla: insubstituíveis e sem fim, as palavras são um mundo infinito. Fica assim gravado aqui o poema de Carla como exemplo ao acaso da antologia “Assim Nasce um Escritor”, que já se encontra em seu oitavo ano de realização.

Mais do que revelar escritores – vá lá, e de novo – “nascituros”, a importância do concurso “Assim Nasce um Escritor” é despertar esses jovens para a leitura e, principalmente, estimular sua curiosidade para o mundo à sua volta. Curiosidade acoplada à leitura – ponto de partida para a formação de um escritor, qualquer escritor. Ponto pro Galba, pro Tarcísio, pra Ana Maria Paixão. Ponto principalmente para as professoras cataguasenses que orientaram esses jovens poetescritores “nascituros”: é assim que nasce, assim que cresce – como cresceram as folhas de relva do poeta Walt Whitman – um projeto bem idealizado.

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