quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Juvenília: Uma cidade com sintomas de depressão coletiva

Juvenília: Uma cidade com sintomas de depressão coletiva

Por Gildázio Santos*

Ao retornar a Belo Horizonte, após o recesso de final de ano, gostaria de externar algumas reflexões e questionamentos, com os quais me ocupei durante o período de 24 de dezembro de 2008 a 10 de janeiro de 2009, tempo que estive na cidade de Juvenília.
Em uma palavra tentarei sintetizar o mal estar que afeta Juvenília nos dias atuais: Depressão, sentimento coletivo, pois atinge toda a população em geral.
Sou filósofo de formação, não sou médico, psicólogo, nem psiquiatra ou algum especialista no tema, mas, com base no senso comum, ousei encontrar a palavra que julgo melhor expressar o momento crítico que, a meu ver, é a soma de reflexos e conseqüências dos mais variados problemas lá vividos nos últimos anos. Tal impacto atinge as pessoas individualmente e a cidade como um todo.
Ao recorrer a uma ligeira pesquisa, encontrei uma definição de depressão feita por Rosemeire Zago, especialista no tema, que diz: “A depressão é uma alteração do humor na forma de uma tristeza profunda que induz a diminuição da estima por si próprio e muitas vezes a necessidade de autopunição, comprometendo a alegria de viver. Há uma incapacidade em sentir prazer e instala-se uma indiferença em relação a outras pessoas, com o mundo, perdendo a esperança que algo possa melhorar. É como se não houvesse mais um sentido para a vida.” (IN:http://www2.uol.com.br/vyaestelar/depressao_comportamento.htm)
Temos hoje uma cidade dividida, em dois lados. Isso tomou conta, de maneira especial, da vida das pessoas. Mas a depressão não é só para quem está fora da administração municipal. A depressão a que refiro atinge a todos. Em geral, Juvenília perdeu o dinamismo e a alegria.
A cidade dorme cedo, uma tristeza generalizada toma conta das pessoas que não saem de casa e uma falsa alegria externada na queima de fogos tenta romper o pouco brilho no rosto das pessoas.
As músicas tocadas repetidas vezes se limitam a fazer defesa ao uso do álcool, “ Deixa eu beber minha cachaça, enquanto eu bebo a minha tristeza passa”, ou “Eu vô beber cachaça, eu vou tomar mé,
eu vou encher a cara por causa dessa mulher”. Só que, no outro dia, a tristeza da cidade continua, parece uma ressaca sem fim.
Seja de um lado ou de outro, o sofrimento é real e abrange toda uma população. Sofrer não é “sofrê” o pássaro, mas um estado de espírito marcado pela significativa perda da auto-estima.
Sentimento de tristeza profunda, desesperança, impotência, vontade de ir embora atinge famílias e principalmente os jovens, em especial os que acabaram de tirar o terceiro ano do ensino médio. A decepção atinge os que vieram visitar a cidade.
Estamos vivendo com esse sofrimento a repressão instituída, em nossa terra, pelo “governo democrata”. Chegará a hora em que a consciência e a sabedoria poderão gerar um povo livre e crítico da realidade que se vive no momento, que não desejamos nem para o presente nem para o futuro próximo.
Romperemos o silêncio, a escuridão, haveremos de construir novas manhãs com a luz do sol e o grito da liberdade.
Não ficaremos isolados, curtindo a nossa própria melancolia e voltaremos a ser alegres e saudáveis.
No posto de saúde não faltará vacina para as crianças e a cidade terá a vacina do respeito para com as pessoas; os eleitores estarão vacinados contra os políticos que colocam a cidade em depressão e insistem em dizer que são os melhores.
A feira do domingo e o mercado voltarão a alegrar, os comerciantes em geral venderão como nunca, os dizimistas da Igreja Católica doarão sua parte com entusiasmo, sem correr o risco de serem linchados e levados à morte...
Os cantos serão entoados com alegria, com a única certeza que aos Cristãos de verdade cabe defender a vida, como exemplo maior, e não incitar a morte e a violência a quem quer que seja.
As famílias poderão se reunir e confraternizar tranquilamente, sem medo dos invasores e agressores, e todos dirão: Juvenília voltou a ser o que era, e isso é bom para todos.
Superar a depressão é atitude que depende de todos e principalmente de cada um de nós, para voltarmos a ter uma cidade feliz.
Belo Horizonte, janeiro de 2009.

Filósofo, editor do blog:
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