sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Por que queremos uma Educação Reflexiva?

Por que queremos uma Educação Reflexiva?

Coordenação filosófico-pedagógica do S.E.R (Sistema de Ensino Reflexivo)

A reflexão tem sido um dos esforços hábeis dos seres humanos desde os tempos mais remotos. Ainda na Grécia Antiga a sociedade mostrava-se empenhada em organizar sistemas de reflexão sobre temas polêmicos ligados ao modo de vida da época. Esses temas continuam atuais pela filosofia que herdamos dos filósofos clássicos. Os temas clássicos, ainda hoje atuais, nos colocam desafios, sobretudo quanto à ética, estética, lógica e a política.

Entendendo a educação como um processo contínuo de permanente superação e desdobramentos, não temos como negar as práticas reflexivas que são de fato decisivas para as mudanças e para o alcance de novos conceitos e modos de atuação no ensino formal. Partimos do pressuposto de que a reflexão é uma habilidade essencialmente humana, não sendo possível confundi-la com informações técnicas e ações previamente determinadas, ainda que pareçam dinamizadas pelos modismos ou mesmo pelo conservadorismo muitas vezes presentes na educação.

O Sistema de Ensino Reflexivo quer romper com as práticas repetitivas e sem compromisso com o desenvolvimento da criatividade aplicada à resolução de problemas tanto na vida pessoal como no campo profissional dos homens e mulheres que estamos formando nos sistemas de educação atuais.

Defendemos como proposta pedagógica e projeto educacional, a reflexão construída processualmente com a formação de professores e o apoio de um material didático alternativo ao que comumente encontramos no mercado e nas escolas, sobretudo no Ensino Fundamental. A prática da reflexão relaciona-se com as finalidades éticas da vida humana, corresponde ao apelo de indagar os sentidos filosóficos e existenciais de cada pessoa, fato ou coisa em suas relações de produção social da vida e convivência com os demais semelhantes.

Nesta direção, não há como inferir uma formação plena e integral de nossos alunos se não desencadearmos nestes uma indagação reflexiva sobre as vivências que experienciam na direção de possibilidades criativas de engendramento da vida. Para tanto, a escola cumpre papel fundamental, no sentido de ter o discernimento institucional de assumir o papel de formadora de seres reflexivos cientes de seus direitos e deveres no momento e lugar social onde vivem. Cabe ao professor ser a expressão e a garantia deste movimento, pela sua formação e prática pedagógica e pelo material utilizados nas aulas e vivências escolares que devem repercutir para além do universo oficial de formação. A ação reflexiva precisa de um apoio didático qualificante desta prática para o desenvolvimento de hábitos reflexivos através de uma metodologia que possibilite a criatividade e o senso de necessidade de superação dos desafios a serem vividos. A reflexão entendida desta forma é uma possibilidade humanizadora dado à natureza humana que tem por excelência o privilégio da reflexão.

Perfil Pedagógico
O material didático-pedagógico reflexivo é aquele que facilita a criatividade e a crítica na operacionalização e aprendizagem dos conteúdos. Para tanto é necessário uma metodologia adequada aos critérios filosóficos dos processos de ensinar a aprender. Desenvolver o pensamento crítico e investigativo requer a decodificação de parâmetros lógicos para a análise do que se apresenta na realidade cotidiana. Esses parâmetros e essa decodificação estão dispostos na filosofia como mecanismos para o entendimento do mundo.

A reflexão à qual o sistema em questão se dedica é amparada no cultivo da investigação, da formação filosófica continuada, no exercício da interdisciplinaridade, na facilitação da criatividade e em uma metodologia que priorize o pensamento filosófico sobre os temas estudados, ligando-os com o tempo e lugar real onde a escola, o educador e educando circunscrevem sua existência social e política.

A identidade filosófica do material estará assegurada na medida em que os textos trouxerem, sempre que possível, uma identidade histórica dos temas e obrigatoriamente, noções dos pensamentos e grandes questões filosóficas da humanidade. As noções apontadas aqui terão ligações diretas com os grandes movimentos filosóficos. Os textos deverão delinear um estilo provocativo para que os estudos destes possam problematizar questões que façam progredir as investigações sobre o tema.

Espera-se que haja também, como característica do material, questões subjacentes ao texto favorecendo desta maneira o desenvolvimento do pensamento e da linguagem de argumentação por parte dos estudantes. E ainda, quando o autor julgar importante, explicitar exemplos apontando raciocíneo pertinente a métodos filosóficos de resolução de problemas.

A orientação para a organização deste material prevê um tema filosófico como referencial de investigação por série e outros temas filosóficos introdutórios e complementares vejamos:

- Temas Filosóficos Referenciais por série:

1a. SÉRIE - Investigação Conceitual

5a. SÉRIE - Teoria do Conhecimento

Os três outros temas que ficam fora do tema referencial de cada série devem perpassar todas as séries de maneira secundária e introdutória.

Fundamentação
O material a ser desenvolvido deve constituir-se como alternativa aos materiais já existentes. O sentido alternativo aqui é entendido como proposta sistemática e inovadora de apresentação estética e didática e também metodológica de trabalho. O principal diferencial é um exercício de reflexão onde haja relação entre a filosofia e as disciplinas da grade num tratamento temático especial dos programas de ensino.
Desta forma, este diferencial estará amparado nos seguintes elementos:

1. a característica investigativa da proposta;

2. a possibilidade que o material abre apara se fazer um trabalho interdisciplinar na escola;

3. a facilitação da criatividade;

4. a metodologia;

5. a formação filosófica continuada de professores e gestores da educação.

Portanto o Sistema de Ensino Reflexivo não pode reduzir-se ao voluntarismo e motivações espontaneístas das metodologias empregadas é necessário um planejamento da ação pedagógica a partir do conteúdo enfocado em cada série e disciplina da grade curricular.

Compreendemos que o sistema educacional vigente guarda limites e contradições que deverão ser analisadas de acordo com a natureza institucional das escolas suas propostas e seus projetos pedagógicos. Neste sentido é fundamental que os livros editados pelas coleções do S.E.R tenham amplitude temática e especificidade metodológica. Amplitude para abranger as propostas curriculares oficiais e especificidade metodológica para viabilizar o trabalho reflexivo. É inegável assim a importância da intervenção na formação de professores em serviço e no material didático utilizado por estes profissionais. Uma conceituação qualificada do que vem a ser a educação reflexiva amparada numa proposta diferenciada de material didático, acreditamos, pode colaborar para alcançarmos a tão sonhada educação crítica e interdisciplinar.

Esta é a justificativa para que empreendamos este trabalho: fornecer subsídios conceituais e metodológicos visando uma ação pedagógica reflexiva.

Sabemos há muito tempo que não se ensina filosofia. Muitos trabalhos que buscaram este ensinar conseguiram no máximo ensinar a história da filosofia, o que não dá conta da amplitude do que a filosofia da qual nossas recentes gerações são tributárias. Dessa forma, temos a convicção que o ideal é tornar a filosofia uma fonte de ferramentas para o pensar. Nossa intenção não é incentivar o estudo pragmático das idéias dos filósofos ou exigir que os estudantes saibam repetir as temáticas ou teses dos pensadores, o que seria uma "anti-filosofia". Pensar o já pensado, repetir as palavras dos textos clássicos é o "não filosofar". Pensar por si só é o pensar filosófico. No primeiro caso a filosofia poderá se tornar um entrave.
Aprender com os filósofos a resolver problemas e dificuldades cognitivas é filosofar.

Objetivos:

Gerais
Criar material para uma intervenção filosófica nos programas de ensino das disciplinas do Ensino Fundamental;
Promover relação entre a filosofia e as disciplinas com seus respectivos programas de ensino.

Específicos
Possibilitar aos especialistas e professores a apropriação de metodologias e conhecimentos sobre o que é ser reflexivo, desenvolvendo um trabalho orientado reflexivamente;
Desenvolver organicamente um sistema didático-pedagógicos que priorize a reflexão crítica e aproxime a vida cotidiana dos estudantes da vida pedagógica da instituição escolar.

Avaliação:
A avaliação está compreendida como uma série de processos interdependentes. Em última análise trata-se de um exercício de acompanhamento para retro-aprendizagem onde concorrem a participação e desempenho dos estudantes, professores, gestores, autores dos livros, utilização do material didático em questão e adequação da metodologia para o trabalho que se pretende.

Por ser processual a avaliação teve início de fato, no momento em que se identificou a necessidade nas escolas do material didático-pedagógico com um aporte filosófico, característica que acreditamos pode fazer diferença para a educação de crianças e adolescentes.

Considerando seu sentido teórico-prático a avaliação transforma-se, como resultado, em organização temática de conteúdos e metodológica dos trabalhos de produção do material a ser editado. Ainda como característica desta dinâmica, no que podemos considerar como vivência interdisciplinar os autores convivem trabalhando os temas de maneira a socializar impressões, preocupações e conhecimentos.

A avaliação que buscamos quer acompanhar os trabalhos com o material ainda depois de adotados nas escolas. Para esta avaliação há a previsão de encontros com autores e assessoria do S.E.R, privilegiando o contato com professores e alunos. Esta atividade nos permitirá aperfeiçoar as ações pedagógicas e o próprio material produzido.

Quanto ao trabalho específico em sala a processualidade da avaliação torna-se mais importante ainda. Sendo um trabalho filosófico é necessário que os professores estejam atentos ao tempo de amadurecimento das idéias dos alunos quanto aos temas e sua contextualidade. A habilidade de observação é fundamental para uma avaliação justa, onde estão presentes o bom senso e disponibilidade para julgamento, não no sentido moral, mas no sentido pedagógico de aprendizagem. Promover espaço para a participação de todos, considerar seriamente as características do grupo e na máxima medida possível as características individuais de seus componentes. A vez e a voz respeitadas, preservadas e articuladas didaticamente trazem retornos muito bons nos processos de ensinar e aprender.

É importante sensibilizar os estudantes para este tipo de trabalho avaliativo que se pretende acima de tudo: não autoritário, participativo e de corresponsabilização dos integrantes do grupo, inclusive dos professores.
Assim, o quotidiano de trabalho e avaliação prevê: debates, seminários, verificação da produção e aprendizagem individuais, auto-avaliação, associação temática interdisciplinar, estabelecimento de regras e metas didáticas, socialização do conhecimento, reconhecimento da responsabilidadeindividual e grupal para o ensino e a aprendizagem, valorização da crítica e da criatividade, exercícios incentivadores de altruísmo e de participação coletiva entre outros...

Assessoria Pedagógica
O Sistema de Ensino Reflexivo conta com uma assessoria para assuntos pedagógicos com relação ao material didático. Esta assessoria é composta por uma equipe multidisciplinar que está à disposição das escolas e professores que adotarem o material e quiserem tirar dúvidas, ampliar suas leituras em relação aos conteúdos filosóficos constantes nos livros, fazer sugestões ou críticas, enfim para dar respaldo e colaborar com o trabalho visando o melhor desempenho em sala.

A assessoria prevê ainda encontros regionais periódicos com seminários, palestras e oficinas voltadas para a utilização do material. Há ainda uma agenda para visitas nas escolas para acompanhamento dos trabalhos dos professores, além do atendimento via chats e sites da editora.

Fonte: Centro de Filosofia
Educação para o Pensar

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