segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Feitos para a imensidão

Feitos para a imensidão

Nei Alberto Pies,
Professor e militante de direitos humanos.

"Sou um rio que se abre para a vida e que possui o sabor de suas águas. Sinto-me contente pela vida que trago dentro de mim." (extraído do filme "O rio")

Para que definir o que somos? Ao definir quem somos, aumentam as possibilidades de compreensão de nós mesmos, e dos outros. Não basta compreender-se a si mesmo. A humanidade que está em mim também reside nos outros. Para postularmos uma compreensão do ser humano, usaremos de uma
metáfora. Sim, "para isto servem as metáforas, as analogias, as parábolas: para nos despertar para novas possibilidades, na medida da semelhança que percebemos, das ligações que fazemos entre o contexto da metáfora ou da parábola e a situação real" (Virgílio V. Vilela).

No vídeo "O Rio", o diretor Décio Zandonade faz uma interessante analogia entre a trajetória de um rio e a vida de um ser humano. Rio e ser humano possuem razões que os fazem viver, existir. O rio, com seu desejo de conhecer a imensidão do oceano. O ser humano, com a felicidade, sua maior razão de ser. Ambos, um caminho em aberto e por construir, feito de obstáculos, companhias, medos, frustrações, conquistas, fascínios, limites.

Todo rio sabe a água que tem e o sabor que ela possui.Todo rio é capaz de acolher outras águas que a ele desejam se agregar para conhecer o mar, mesmo aquelas pequenas e franzinas. Somadas, estas forças possibilitarão o sonho que é de todos: conhecer a imensidão do oceano.

Os medos, dos rios e dos humanos, significam a necessidade de proteção e cautela, pois viver é sempre perigoso. Sim, pois "o novo, o desconhecido, é sempre preocupante"."O futuro, ah!, o futuro, sempre dá medo". Mas os medos não podem deixar ninguém imobilizado, sem ação. O medo está na essência daquele que vive, mas sabe que, inevitavelmente, um dia irá morrer. Mas é "esta mistura de medo de fascínio é que me impulsiona, que me faz buscar, que não me deixa ficar parado".

O que é comum entre os humanos, o desejo de felicidade. De cada um e cada uma, em particular, os sonhos, os objetivos, as metas. E é bom que seja assim, pois são as diferenças que nos permitem a complementariedade. E a felicidade é sempre construída pelas pequenas e grandes conquistas do cotidiano. E as conquistas não esgotam, jamais, nosso desejo de felicidade. A cada conquista, criamos novas necessidades e nos desafiamos a concretizá-las.

E onde entra a tão discutida liberdade? Liberdade é a possibilidade de exercermos nossas escolhas. Estas escolhas, por sua vez, nos permitem os diferentes caminhos. Livre é todo aquele que é capaz de assumir todas as responsabilidades que recaem sobre seus atos. Liberdade também se adquire conquistando as coisas que a gente descobre e que a gente gosta, mesmo aquelas mais perigosas.

O futuro pessoal e profissional, sobretudo dos jovens, é carregado de muitas dúvidas, num tempo de poucas certezas. E os jovens de hoje sentem dificuldades para projetar metas e sonhos, pessoais e profissionais. No universo juvenil é recorrente a idéia de que o futuro é um mundo com poucas perspectivas. Esta idéia gera apatia, desinteresse e desilusão, fazendo com que percam a dimensão do traçado de um rio, que vê no caminho a sua força, a sua liberdade.

Somos seres de projeto, inacabados. E "a vontade de viver e ânsia de liberdade" são os segredos da vida, vida compartilhada. Sabemos, todos, que nossos tempos são de difíceis caminhos e distintos modos de caminhar. Os jovens é que têm um amanhã mais longo e mais incerto. E há perguntas que não querem calar: nossa tão proclamada experiência de vida ainda é referência para a vida dos jovens? O que é possível prever? O futuro é só de horizontes? Quais as referências que hoje orientam a construção do nosso amanhã? São as perguntas que alicerçam a construção dos humanos. Esta construção, por sua vez, tem como limite a imensidão (de possibilidades).
Tenhamos, todos, muita sorte!

Centro de Filosofia e Educação Para O Pensar

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