segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Direitos humanos, tô nessa!

Direitos humanos, tô nessa!

Nei Alberto Pies, professor e militante de direitos humanos.

E aprendi que se depende sempre/De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas"
Gonzaguinha

Direitos Humanos é uma idéia nascida de uma consciência de que é preciso preservar a vida e tudo o que dela é uma decorrência. Ao longo dos tempos, este conceito foi assimilado culturalmente como se os portadores destes direitos (humanos) fossem sempre os outros, aqueles e aquelas que estão numa situação de extrema indignidade e nunca, a gente (eu, você e nós). Faz-se necessário um grande esforço para re-significar as palavras, lembrando que os conceitos "dão nome às coisas, dizem o que coisas são".

A cultura é formada por todos os valores, as posturas, as atitudes, os costumes, a educação, os conceitos e a construção de identidades que são materializadas nos cotidianos. Através da cultura foi-se alimentando a idéia de que temos mais deveres do que direitos. Muitas vezes, ainda, entendeu-se que direitos são privilégios de uma classe social, povo ou nação, em detrimento dos demais. Desta forma, gerou-se um grande distanciamento entre o conceito e as pessoas, o que leva muitos de nós a não nos sentirmos incluídos quando se fala de direitos humanos.

A defesa da vida, que também é defesa da dignidade humana, engloba o que a humanidade, através de muita luta e conquista, reconheceu como direitos humanos. O que vem a ser dignidade humana? É difícil definir, mas todos entendemos quando ela falta a alguém (como aquilo que define a própria noção de humanidade, enquanto condições mínimas para ser gente).

Existem os que lutam pela dignidade alheia, existem os que são violados em seus direitos e existem os que querem reduzir direitos humanos à defesa daqueles que transgrediram regras e leis sociais. Os que lutam pelos seus direitos e os direitos dos outros, por sua vez, nem sempre são bem compreendidos, porque a defesa da vida humana (da dignidade) exige uma postura firme e radical. Vida e morte não podem ser meio-termos.

Mas como criar identidade com direitos humanos? Que tal começar considerando-se a si mesmo como portador de direitos, de liberdade, de dignidade, ao mesmo tempo diferenças e igual aos outros. Pois, diferenças e semelhanças não são critérios para auferir nossa dignidade. O que temos em comum é o fato de que somos humanos e comungarmos das mesmas necessidades.
Se me considero portador de direitos humanos, assim devo também considerar meus familiares, meus amigos, aqueles que conheço e aqueles que ainda não conheço, aqueles de quem gosto e até aqueles de quem não gosto. Sim, todos aqueles e aquelas que são humanos, como eu.

Desconhecemos outra maneira de mudar culturalmente conceitos ou idéias senão pelo caminho da educação. É por isso que a Comissão de Direitos Humanos de
Passo Fundo está lançando a campanha de afirmação dos direitos humanos, com a chamada: em cada diferença a igualdade Direitos Humanos. O faz em parceria com a mídia, instituições de ensino, órgãos públicos, organizações da sociedade civil, enfim, todas as pessoas que quiserem se engajar.

Mas, para que serve uma Campanha? Serve para motivar, sensibilizar, semear, estudar, criar laços. Serve, também, para estimular novas e diferentes compreensões de vida e de ser humano.

Esperamos que a sensibilidade, que todos temos, gere compromissos solidários para uma incondicional defesa da dignidade de todos e de todas. O convite é para transformarmos nossas palavras em ações a favor da humanidade, a que está nos outros e a que está em nós. Já dizia Gonzaguinha: "e é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar".

Nei Alberto Pies
Márcia Carbonari

Fonte: Centro de Filosofia
Educação para o Pensar

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