Palestrante critica atuação da FAO sobre segurança alimentar
Letra
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Adital -
Em agosto último, Víctor Suárez Carrera deixou o parlamento mexicano e voltou a atuar nos movimentos sociais camponeses do México. A frente da Associação Nacional de Empresas Comercializadoras de Produtores do Campo, Víctor ajuda camponeses a se organizarem para conseguir competição no mercado mexicano de grãos.
Em entrevista à Adital, Víctor criticou a atuação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO, sigla em inglês) e falou da questão da segurança alimentar no México. O ex-deputado fez também uma avaliação acerca da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, da qual foi um dos palestrantes.
Adital - O que é a Associação Nacional de Empresas Comercializadoras do Campo? Como funciona?
Víctor Suárez - Nós organizamos produtores de grãos básicos (milho, feijão, trigo, arroz) e empresas comercializadoras camponesas a nível local, regional, controlando lojas e armazéns para desenvolver estratégias de compactação da oferta e ter maior capacidade de participação nos mercados, defesa de preços, busca de financiamento, capacitação. Também ajudamos a elaborar propostas de políticas no setor de um modo geral.
Adital - Na Adital, sempre recebemos denúncias contra as violações de direitos dos trabalhadores da América Latina, mas no México é muito forte e freqüente. Como você vê esta situação?
Víctor Suárez - No México há um retrocesso a respeito dos trabalhadores. Existe a idéia de flexibilização das condições de contratação dos trabalhadores de empresas com a idéia de que vão ser mais competitivos. Há pressões para fazer uma reforma trabalhista que dê mais direitos aos patrões e que tire os poucos direitos que têm no México, há reformas que buscam modificar os sistemas de proibição social aos trabalhadores, privatizá-los, como uma forma de conseguir eficiência do capital financeiro para mover recursos. No setor agronegócio se utiliza muita mão de obra infantil,
trabalhadores que estão expostos a condições inadequadas de trabalho por contaminação de agrotóxico. Nada que se queira fazer pelos direitos dos trabalhadores avança porque isso afasta os investimentos. Temos uma situação precária no só com os trabalhadores sindicalizados. Mais de 55% dos trabalhadores estão no setor informal da economia e não têm sindicato, não têm seguro social, nem direitos. É um processo de informalização da economia, de regulação e flexibilização das condições trabalhistas. Isto faz com que a migração para os Estados Unidos seja um fenômeno. A cada ano, 600 mil mexicanos se vêem obrigados a emigrar para os Estados Unidos definitivamente. Os que tentam fazê-lo são muitos, mas os que conseguem são estes.
Adital - O que vê de mais positivo no Brasil?
Víctor Suárez- Primeiro, me parece extremadamente positivo o fato de que a sociedade civil e plural esteja deliberando, propondo e se inserindo nas orientações da política de segurança alimentar e nutricional no Brasil e que esta sociedade civil é muito vigorosa, ativa, prepositiva e que tem um furto impulso que é o que permite que as decisões governamentais e parlamentares a favor da segurança alimentar não fiquem somente como decisões de caráter formal e burocrático.
Adital - Qual é sua avaliação da segurança alimentar no México?
Víctor Suárez - No México estamos vivendo uma crise de insegurança e de vulnerabilidade alimentar. Quinze por cento da população de 105 milhões de mexicanos vive em situação de desnutrição, mas esta média aumenta se falamos da população rural, onde existem 32% de desnutridos. Na população indígena, 44% das pessoas estão desnutridas.
A segurança alimentar também tem outra dimensão que é má nutrição por excesso, o que deu lugar ao fenômeno da obesidade como um problema de saúde pública. O México impôs um sistema de alimentação pelas grandes corporações alimentares mexicanas e internacionais, nisso predominam os refrescos, as sopas instantâneas, comidas que não prestam, o que faz o México ser o segundo país em obesidade e em consumo de refrescos e outros produtos com alto conteúdo de carboidratos. Temos um a população desnutrida na fase infantil que é derivado da pobreza, da falta de empregos, de dinheiro, da pouca capacidade aquisitiva da moeda. E esta população na fase de infância, adolescência e adulta começa também a consumir estes alimentos que proporcionam grande satisfação energética no momento a baixo custo, mas que não alimenta.
É um sistema de má nutrição que já atinge também aos pobres, que em uma etapa foram desnutridos, agora são obesos. Existe uma correlação entre desnutrição e obesidade nas pessoas pobres e então tudo é o que caracteriza a situação de insegurança. Há 25 anos os governos mexicanos levam à frente a política de defender a importação de alimentos dos Estados Unidos e Canadá com a falsa idéia de que são mais baratos do que os que se produzem no
México. Hoje, 40% dos alimentos que se consomem no México são das importações e isto se complica porque com o aumento dos preços internacionais derivados do uso crescente de alimentos para produzir combustível pelas reservas de alimentos se esgotaram demasiadamente e as importações ficaram caras. Portanto, os preços dos alimentos básicos no México, hoje, são muito altos, se vive uma escalada de preço, afetando a população de baixa renda que já tem problemas de má nutrição e deficiência.
É nesta situação que o México padece hoje, em termo de insegurança e vulnerabilidade alimentar derivada de mais de 25 anos de políticas neoliberais e derivada do controle do sistema alimentar por 20 grandes empresas oligopólicas que estabelecem as condições do consumo de alimentos.
Adital - Que tipos de experiências em segurança alimentar possui o México hoje?
Víctor Suárez- Há uma forte corrente no México pela produção orgânica de alimentos a partir de pequenos e médios produtores e correntes de produção na lógica do comércio justo. Tem-se experiência para que podem ser inseridas como políticas públicas pelo congresso, para possibilitar um maior orçamento para o setor agro-alimentar, ao de pequenos agricultores, ao de programas de segurança alimentar como a distribuição de leite a preços subsidiados. São ações que, como sociedade civil empreendem e fream um pouquinho a política de privatização, de deliberalização do setor agro-alimentar.
Adital - Que avaliação o senhor pode fazer da atuação da FAO na América
Latina?
Víctor Suárez- Com toda confiança posso dizer que é uma atuação muito fraca. A FAO esteve praticamente subordinada às políticas globais de livre comércio, de privatização, de livre mercado e esteve muito complacente com os governos da América latina e do Caribe, com excepciones, claro. A FAO não jogou o papel mais ativo, é um organismo de governos, não há muita possibilidade de ir contra os próprios governos. Devemos ter uma ação mais rigorosa da FAO. Ela esteve muito complacente com as políticas neoliberais e não trabalhou para a promoção e defesa dos agricultores e das pessoas.
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Adital -
Em agosto último, Víctor Suárez Carrera deixou o parlamento mexicano e voltou a atuar nos movimentos sociais camponeses do México. A frente da Associação Nacional de Empresas Comercializadoras de Produtores do Campo, Víctor ajuda camponeses a se organizarem para conseguir competição no mercado mexicano de grãos.
Em entrevista à Adital, Víctor criticou a atuação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO, sigla em inglês) e falou da questão da segurança alimentar no México. O ex-deputado fez também uma avaliação acerca da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, da qual foi um dos palestrantes.
Adital - O que é a Associação Nacional de Empresas Comercializadoras do Campo? Como funciona?
Víctor Suárez - Nós organizamos produtores de grãos básicos (milho, feijão, trigo, arroz) e empresas comercializadoras camponesas a nível local, regional, controlando lojas e armazéns para desenvolver estratégias de compactação da oferta e ter maior capacidade de participação nos mercados, defesa de preços, busca de financiamento, capacitação. Também ajudamos a elaborar propostas de políticas no setor de um modo geral.
Adital - Na Adital, sempre recebemos denúncias contra as violações de direitos dos trabalhadores da América Latina, mas no México é muito forte e freqüente. Como você vê esta situação?
Víctor Suárez - No México há um retrocesso a respeito dos trabalhadores. Existe a idéia de flexibilização das condições de contratação dos trabalhadores de empresas com a idéia de que vão ser mais competitivos. Há pressões para fazer uma reforma trabalhista que dê mais direitos aos patrões e que tire os poucos direitos que têm no México, há reformas que buscam modificar os sistemas de proibição social aos trabalhadores, privatizá-los, como uma forma de conseguir eficiência do capital financeiro para mover recursos. No setor agronegócio se utiliza muita mão de obra infantil,
trabalhadores que estão expostos a condições inadequadas de trabalho por contaminação de agrotóxico. Nada que se queira fazer pelos direitos dos trabalhadores avança porque isso afasta os investimentos. Temos uma situação precária no só com os trabalhadores sindicalizados. Mais de 55% dos trabalhadores estão no setor informal da economia e não têm sindicato, não têm seguro social, nem direitos. É um processo de informalização da economia, de regulação e flexibilização das condições trabalhistas. Isto faz com que a migração para os Estados Unidos seja um fenômeno. A cada ano, 600 mil mexicanos se vêem obrigados a emigrar para os Estados Unidos definitivamente. Os que tentam fazê-lo são muitos, mas os que conseguem são estes.
Adital - O que vê de mais positivo no Brasil?
Víctor Suárez- Primeiro, me parece extremadamente positivo o fato de que a sociedade civil e plural esteja deliberando, propondo e se inserindo nas orientações da política de segurança alimentar e nutricional no Brasil e que esta sociedade civil é muito vigorosa, ativa, prepositiva e que tem um furto impulso que é o que permite que as decisões governamentais e parlamentares a favor da segurança alimentar não fiquem somente como decisões de caráter formal e burocrático.
Adital - Qual é sua avaliação da segurança alimentar no México?
Víctor Suárez - No México estamos vivendo uma crise de insegurança e de vulnerabilidade alimentar. Quinze por cento da população de 105 milhões de mexicanos vive em situação de desnutrição, mas esta média aumenta se falamos da população rural, onde existem 32% de desnutridos. Na população indígena, 44% das pessoas estão desnutridas.
A segurança alimentar também tem outra dimensão que é má nutrição por excesso, o que deu lugar ao fenômeno da obesidade como um problema de saúde pública. O México impôs um sistema de alimentação pelas grandes corporações alimentares mexicanas e internacionais, nisso predominam os refrescos, as sopas instantâneas, comidas que não prestam, o que faz o México ser o segundo país em obesidade e em consumo de refrescos e outros produtos com alto conteúdo de carboidratos. Temos um a população desnutrida na fase infantil que é derivado da pobreza, da falta de empregos, de dinheiro, da pouca capacidade aquisitiva da moeda. E esta população na fase de infância, adolescência e adulta começa também a consumir estes alimentos que proporcionam grande satisfação energética no momento a baixo custo, mas que não alimenta.
É um sistema de má nutrição que já atinge também aos pobres, que em uma etapa foram desnutridos, agora são obesos. Existe uma correlação entre desnutrição e obesidade nas pessoas pobres e então tudo é o que caracteriza a situação de insegurança. Há 25 anos os governos mexicanos levam à frente a política de defender a importação de alimentos dos Estados Unidos e Canadá com a falsa idéia de que são mais baratos do que os que se produzem no
México. Hoje, 40% dos alimentos que se consomem no México são das importações e isto se complica porque com o aumento dos preços internacionais derivados do uso crescente de alimentos para produzir combustível pelas reservas de alimentos se esgotaram demasiadamente e as importações ficaram caras. Portanto, os preços dos alimentos básicos no México, hoje, são muito altos, se vive uma escalada de preço, afetando a população de baixa renda que já tem problemas de má nutrição e deficiência.
É nesta situação que o México padece hoje, em termo de insegurança e vulnerabilidade alimentar derivada de mais de 25 anos de políticas neoliberais e derivada do controle do sistema alimentar por 20 grandes empresas oligopólicas que estabelecem as condições do consumo de alimentos.
Adital - Que tipos de experiências em segurança alimentar possui o México hoje?
Víctor Suárez- Há uma forte corrente no México pela produção orgânica de alimentos a partir de pequenos e médios produtores e correntes de produção na lógica do comércio justo. Tem-se experiência para que podem ser inseridas como políticas públicas pelo congresso, para possibilitar um maior orçamento para o setor agro-alimentar, ao de pequenos agricultores, ao de programas de segurança alimentar como a distribuição de leite a preços subsidiados. São ações que, como sociedade civil empreendem e fream um pouquinho a política de privatização, de deliberalização do setor agro-alimentar.
Adital - Que avaliação o senhor pode fazer da atuação da FAO na América
Latina?
Víctor Suárez- Com toda confiança posso dizer que é uma atuação muito fraca. A FAO esteve praticamente subordinada às políticas globais de livre comércio, de privatização, de livre mercado e esteve muito complacente com os governos da América latina e do Caribe, com excepciones, claro. A FAO não jogou o papel mais ativo, é um organismo de governos, não há muita possibilidade de ir contra os próprios governos. Devemos ter uma ação mais rigorosa da FAO. Ela esteve muito complacente com as políticas neoliberais e não trabalhou para a promoção e defesa dos agricultores e das pessoas.
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