quinta-feira, 17 de março de 2011

Dia Mundial das Águas - Convite

O Rio São francisco e a Articulação Popular São Francisco-Vivo, contam com sua presença.

No lançamento do livro:
"O Rio São Francisco e As Águas no Sertão" do fotógrafo João Zinclar
22 de Março -"Dia Mundial da Água"
Auditório das Irmãs Paulinas
Av. Afonso Pena - nº2142 - 19:30 horas

Participação especial dos cantores e violeiros: Joaci Ornelas e Bilora.

Conviver com o semi-árido é a solução!

Resenha - Zinclar, João. O Rio São Francisco e as águas no sertão. 2010. Campinas- SP
Autor: Thiago Pereira de Carvalho, jornalista

Fragmentos sobre um conflito eminente

O livro de João Zinclar aborda questões que estão inextricavelmente ligadas ao meio ambiente e à luta de classes em seu conceito mais genuíno. O projeto faraônico de transposição das águas do São Francisco conclama as militâncias dos mais diversos movimentos sociais a um debate franco e sem precedentes contra argumentos falaciosos. Além dos movimentos sindicalistas, as ONG’s, educadores, ambientalistas, pastorais, populações ribeirinhas, indígenas e quilombolas estão amealhados numa discussão que os engloba de forma peremptória.

Por ser um livro repleto de fotografias, a intenção de João Zinclar é denunciar a imprevidência e demagogia do governo para com aqueles que vivem às margens da bacia do rio. A união indissociável entre rio e povo é algo transmitido pelas lentes do fotógrafo com a sinceridade de quem não prescinde da luta pela água como direito elementar à vida.

O processo de transformação em mercadoria pelo qual passa nossa sociedade é alvo renitente da obra fotográfica de Zinclar. A serviço de interesses das grandes corporações do segmento extrativista (mineradoras, siderúrgicas e afins) e hoteleiro, o Estado desrespeita um dos bens mais preciosos e necessários à vida. A água é tratada como apenas um meio para se obter lucros cada vez mais robustos. Sem qualquer preocupação com os danos trazidos ao meio ambiente, muitas empresas conseguem ainda burlar com desfaçatez as multas aplicadas por órgãos fiscalizadores do Estado. As mobilizações sociais ainda são tidas como um estorvo a ser retirado para que não se aplaque a busca incessante por dividendos. A poluição da bacia do São Francisco e de seus afluentes tem como principais responsáveis as mineradoras e siderúrgicas atreladas à conivência nociva dos governos federal, estaduais e municipais como um todo.

A indolência do Estado brasileiro está retratada nas páginas do livro. Os conflitos oriundos do cenário entre capital e trabalho trazem ao século XXI mais do que problemas ambientais. A luta de classes inserida no prisma de fotos e textos traz à tona um antigo e emblemático conflito amalgamado pela persistência de imbróglios socioeconômicos que o capitalismo nunca foi capaz de solucionar. Como muito bem enfatiza o autor, o modo de produção capitalista somente valoriza aquilo que pertence a alguém enquanto propriedade privada, como fruto de uma rocambolesca e mórbida demanda de mercado. Desta forma, as ações enviesadas e distorcidas de conluios entre governos e empresas manifestam a tendência da atual conjuntura para converter tudo em mercadorias e lucros. Rio e povo passam a ser descartáveis, ventríloquos a serem manipulados ao bel-prazer de quem manda, naturalmente aqueles com maior poderio econômico e que se sentem capazes de comprar tudo e todos.

As raízes de um povo, assim como seu modelo de sustento e sobrevivência não podem ser atropelados por mandos e desmandos de quem a princípio “pode mais”. Para mostrar essa aterradora realidade, “O Rio São Francisco e as águas no sertão” convocam o leitor a uma reflexão austera sobre uma tomada de posição combatente em relação à empáfia e descaso materializados no projeto de transposição da bacia do São Francisco. Preservação do rio e respeito às comunidades que dele dependem para sobreviver são o fio condutor desta obra.

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