terça-feira, 22 de setembro de 2009

Desvendado - Dez Mitos Alimentares Mais Comuns

Nutricionista desvenda os dez mitos alimentares mais comuns

Rosana Ferreira

Comer equilibradamente durante a semana e abusar no fim de semana, seguir dietas indicadas por amigos, passar dias ingerindo somente líquidos para desintoxicar o organismo, incluir alimentos diet e light na dieta com o objetivo de emagrecer.

Esses são alguns dos comportamentos observados pela nutricionista Lara Natacci Cunha, autora do livro Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar (Editora Atheneu), em pessoas que desejam emagrecer a qualquer custo. Se esse é o seu caso, fique alerta: "Nada melhor que uma dieta individualizada e com a ingestão de todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento orgânico", avisa a profissional. Abaixo, ela desvenda dez mitos sobre a alimentação.

1) É saudável comer bife, salada, frutas, alimentos diet e light durante a semana e compensar no fim de semana, devorando pizzas, doces, massas frituras e álcool, entre outros alimentos calóricos?
De forma alguma. Muitas vezes, o excesso do fim de semana compensa o sacrifício de toda a semana. Tudo depende do tamanho do pecado e da restrição durante a semana.

Mas, seguramente, se passarmos muitos dias restringindo a alimentação, nosso organismo lançará mão de um mecanismo de defesa e começará a poupar energia, em função da baixa oferta calórica. No fim de semana, com um metabolismo mais baixo e uma ingestão alimentar exagerada, o ganho de peso pode até ser superior à perda que ocorreu em função da restrição.

2) Dá para seguir por 15 dias a dieta que leu na revista para perder 2 quilos antes de um casamento e depois voltar a se descontrolar?
Vai acontecer o mesmo que na situação acima. O metabolismo vai diminuir, além da perda de peso ser composta em grande parte de massa magra (e não de gordura), em função da restrição severa.

Será instalado no corpo o "efeito sanfona". Cada vez que perdemos peso rapidamente, com restrições severas, e voltarmos a ganhá-lo, após desistir da dieta, iremos trocar um pouco da massa magra pela massa gorda, mudando a composição corporal e diminuindo o metabolismo. A consequência é um círculo vicioso, que torna o emagrecimento ou mesmo a manutenção de peso uma tarefa cada vez mais difícil.

3) É correto passar dias inteiros ingerindo só líquidos para se "desintoxicar"?
Não. Uma dieta líquida só é indicada para quem não tem capacidade de mastigar ou então apresenta distúrbios digestivos. Uma dieta restritiva - em fibras e líquida - pode não proporcionar a ingestão de todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento orgânico, e mesmo para uma desintoxicação adequada.

No caso de necessidade de dieta líquida, esta deve ser prescrita pelo nutricionista para proporcionar todos os nutrientes necessários.

4) Vale deixar de consumir um grupo inteiro de alimentos (como os carboidratos) para emagrecer?
Não. Cada grupo de alimento desempenha um papel específico para a manutenção do equilíbrio orgânico. Os carboidratos, por exemplo, fornecem energia para que possamos desenvolver nossas atividades diárias e suas versões integrais ainda são ricas em fibras, vitaminas e minerais.

As proteínas auxiliam no desenvolvimento e reparo dos tecidos corporais, além de fazerem parte de enzimas e auxiliar na imunidade. As gorduras, por sua vez, são necessárias ao transporte e absorção de algumas vitaminas, proteção contra choque, isolamento térmico, além de fazerem parte de hormônios e da composição celular.

A dieta com restrição de carboidratos pode causar um acúmulo de corpos cetônicos, produtos resultantes do metabolismo das gorduras, que diminuem o pH dos fluidos corpóreos, tornando-os ácidos.

É necessária uma alta ingestão de água para capacitar os rins a eliminarem os altos níveis de corpos cetônicos e o nitrogênio (resultante da digestão das proteínas). Com isso há um aumento da diurese e perda de água, refletida na perda inicial de peso.

À medida que o organismo se adapta, em duas ou três semanas, a água pode ser retida até o ponto de causar ganho de peso. Esta dieta ainda causa o risco de se desenvolver altos níveis de ácido úrico e perda de potássio, que junto com a cetose pode se tornar fatal.

5) Quem substitui refeições balanceadas por shakes ou sopões tem um comportamento alimentar normal?
Não, pois não é um hábito deixar de fazer uma refeição para consumir um substituto industrializado. Isso pode diminuir a oferta de nutrientes (principalmente se comparado a uma refeição que tenha ingredientes naturais), interferindo no metabolismo e no equilíbrio orgânico.

Além disso, esse comportamento não é eterno, e quando o indivíduo voltar a se alimentar como antes, como não realizou nenhuma mudança comportamental (apenas substituiu a refeição por um tempo determinado), vai acabar, no mínimo, recuperando o peso perdido (se é que perdeu algum peso antes).

6) Fazer dietas indicadas por amigos que seguiram e obtiveram sucesso, mas sem indicação médica, é uma opção para emagrecer?
Não, a dieta deve ser individualizada. Cada pessoa tem necessidades orgânicas diferentes, baseadas na genética, no estado de saúde, sexo, idade, atividade diária e nível de atividade física, além do fato de cada um ter suas preferências e hábitos alimentares. Essa necessidade deve ser considerada individualmente no momento de se elaborar um plano alimentar.

7) Tomar remédios para saciar ou conter a fome é uma forma de "educar" o organismo a comer menos?
Além de possíveis efeitos colaterais, que dependem da sensibilidade individual, os remédios só agirão durante o tempo em que o indivíduo consumi-los. Se não houver mudança de hábito alimentar e a inclusão de atividade física, a tendência é recuperar o peso perdido assim que o remédio terminar, pois sua ação na supressão da fome e/ou no aumento do gasto energético não ocorrerá mais.

8) Incluir alimentos diet e light na alimentação diária é suficiente para perder quilos?
Não. Os alimentos diet nem sempre apresentam redução calórica. Podem ser reduzidos em um nutriente, mas compensar no outro. Um exemplo é o chocolate diet, indicado para diabéticos, pois não contém açúcar, mas, em contrapartida, possui maior teor de gordura e valor calórico semelhante ao tradicional. Os produtos light apresentam redução de pelo menos 25% do valor calórico. Por isso, se consumidos em excesso, vão engordar também.

9) Comer uma caixa de bombons e depois "queimar" na esteira funciona?
Não é bem assim. Meio quilo de chocolate fornece cerca de 3 mil calorias. Para queimar isso, seria necessário correr em velocidade alta por quase 3 horas. Isso sem contar o aumento do colesterol e da glicemia que esse alimento gera.

10) Um indivíduo cujo organismo gasta diariamente em média 2,5 mil calorias e que a cada dia consome 25 calorias a mais - o que significa 1/3 de uma banana ou uma bolachinha sem recheio - aumentaria seu peso em 13 quilos depois de dez anos?
Sim. E por incrível que pareça, todos nós conhecemos várias pessoas que não engordaram 13 quilos em dez anos, não é mesmo? Se durante todos esses anos, uma boa parte da população consegue manter o peso, podemos deduzir que essas pessoas não cometeram o minúsculo erro de adicionar uma colher de açúcar ou o equivalente em sua necessidade alimentar diária? Será que eles conhecem detalhadamente seus níveis de gasto e consumo energético? Seguramente não, pois não existe uma forma simples de medir esses mecanismos. Como eles fazem, então?

Simplesmente deixam guiar por suas sensações alimentares. As únicas informações que essas pessoas têm são sua fome e sua saciedade. "Escutando" o organismo, elas sabem sempre quando a comida é necessária e em que quantidade. Comer bem e normalmente não é questão de força de vontade, mas sim uma resposta ao nosso organismo, que sabe muito bem do que precisa, em que momento e em que quantidade.

As sensações alimentares resultam de diferentes sistemas de regulação do organismo. Eles envolvem a interação de sinais gastrointestinais, metabólicos e hormonais, que são interpretados no cérebro e causam a liberação de neuropeptídios, que por sua vez inibem ou estimulam o consumo de alimentos. Esse sistema permite ao cérebro identificar a cada instante de quais nutrientes o organismo necessita e em que quantidade.

E por quais razões, apesar de todo esse sistema, muitas pessoas que não apresentam alterações metabólicas ou na transmissão das sensações alimentares acabam engordando ou emagrecendo demais?

Bem, muitas vezes não são os sinais orgânicos que nos levam a agir, mas sim nossa percepção desses sinais. Há uma série de fenômenos que podemos interpretar como sinais de fome. Podemos, por exemplo, confundi-la com uma vontade específica, como a fadiga, a ansiedade, a cólera ou com qualquer outra emoção.

O mesmo se aplica à saciedade. Uma vez que os sinais que percebemos não correspondem aos sinais que foram realmente emitidos pelo nosso organismo, a adequação entre consumo e gasto energético deixa de existir e a estabilidade ponderal não é mais garantida. O indivíduo pode então engordar ou mesmo emagrecer.

Além disso, os fatores cognitivos, como a educação, a tradição, a religião e as crenças alimentares que adquirimos e aprendemos durante a nossa vida podem sobrepor-se ao controle fisiológico da alimentação. Sabemos que os seres humanos são perfeitamente capazes de comer quando não estão com fome, motivados por ocasiões sociais, eventos gastronômicos, ou pela simples vergonha de recusar um alimento oferecido por um amigo.

Somos também capazes de restringir o consumo alimentar, mesmo em caso de necessidade, como nas greves de fome ou dos regimes de emagrecimento. É isso mesmo, os regimes alimentares restritivos podem desregular o equilíbrio e o comportamento alimentar.

Especial para Terra

Leia esta notícia no original em:
Terra - Brasil
http://saude.terra.com.br/interna/0,,OI3885132-EI1497,00.html

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