quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

De onde avistam horizontes

De onde avistam horizontes
Nei Alberto Pies

“A gente colhe o que planta/ disso ninguém vai fugir/ Por isso é que não adianta/ A gente não pode mais se omitir/ Mais coragem, mais vontade/ Tá faltando, eu reconheço/ Todos querem a verdade, mas no fundo ninguém quer pagar o preço”. (Fábio Junior/Marinho Marcos)

As correrias que antecedem o Natal e as festas do final de ano sugerem que estamos querendo fugir de todo mundo, também de nós mesmos. Nesta época do ano surgem as inevitáveis avaliações do ano que finda, surgem reavaliações de nossos propósitos pessoais e coletivos, surgem pressões por nossas sempre adiadas mudanças. O Natal é mesmo um tempo de renovação; resta saber se a renovação a que estamos dispostos a fazer é apenas de roupagem ou se tem implicações substanciais nos nossos modos de ser, pensar e agir sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo.

O Natal é o aniversário de Jesus Cristo. É a oportunidade de reconhecer o que este grande homem fez e ensinou para toda a humanidade: a força do amor. E todos nós temos necessidade e curiosidade de saber o que este amor tem a nos dizer e ensinar. Para tanto, precisamos trabalhar todos os nossos sentidos humanos: ver, ouvir, cheirar, palpar e degustar. Amar não está dissociado de nossa condição humana, das nossas necessidades e das nossas carências.

O amor é a mensagem mais poderosa que podemos vivenciar por conta de mais um Natal. Por ser uma das experiências mais revolucionárias ensinada por Jesus Cristo há mais de dois mil anos, a comemoração de seu nascimento invoca a linguagem universal da fraternidade. Mas tem sido difícil viver a fraternidade em tempos em que as coisas valem mais do que as pessoas, em tempos em que corremos para lugares ou objetivos que nem sempre conhecemos.

Padre Fábio de Mello, em participação no programa humorístico Turma do Didi da Rede Globo lembrou que deveríamos, por ocasião desta data, oferecer o que de melhor temos de nós aos outros, ao invés de nos preocuparmos tanto em presentear os outros com bens materiais e presentes. Talvez quisesse dizer que não somos seres que podem ser comprados. Mas vejo tantas pessoas próximas dizerem que estão cansadas de se doar aos outros. E aí pergunto e afirmo: Amar verdadeiramente não é doar-se aos outros sem esperar nada em troca? Será que não temos nada a oferecer aos outros para tornar sua vida melhor? Fazer algum gesto que alivie ou cure o sofrimento alheio não será o que de mais nobre podemos esperar de quem diz que ama?

Uma criança, de apenas sete anos, em programa de rádio da nossa cidade, avista em seus horizontes, como presente de Natal, a volta de sua mãe, presa por tráfico ou consumo de drogas. E qual é o seu horizonte para seu presente de Natal? Qual é o seu horizonte de vida?

Um dos maiores desafios humanos está em humanizar-se. A solidariedade e a fraternidade, compreendidas em todas as dimensões, são ingredientes indispensáveis para nossa humanização. Nossa vida tem janelas e paisagens, mas nem sempre nos damos o tempo e as condições para apreciar a beleza que se desnuda nos horizontes. Que os nossos horizontes sejam sempre aqueles que promovem a vida, na dignidade. A vida nunca tem preço, a vida tem valor. Boas festas!

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
Email:
pies.neialberto@gmail.com

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