Ensino de cultura afro-brasileira é prejudicado pela falta de professores
Renato Sanchez
renato.sanchez@usp.br
Faltam materiais didáticos e professores preparados para o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas de todo o País. A afirmação é da professora Regiane Augusto de Mattos, mestre em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ela lembra que desde 2003, a lei federal nº 10.639 tornou obrigatório o ensino de História da África e da cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio.
Para Regiane, a nova legislação representa um avanço no reconhecimento da cultura africana como uma das principais matrizes da cultura brasileira. Ela aponta, no entanto, algumas dificuldades para que a lei seja implementada de fato nas escolas. A principal delas é a questão da formação dos professores já que o tema é pouco abordado mesmo nas faculdades de história. "Para se ter uma idéia, a disciplina de História da África só foi introduzida no currículo da FFLCH em 1997. Imagine quantos professores se formaram sem nunca ter estudado o tema", avalia.
Quase cinco anos depois da aprovação da lei, Regiane publicou o livro A história e a influência cultural da África no Brasil (Editora Contexto, 224 páginas, R$29,00). Ela afirma que a idéia é suprir a carência por material didático. O livro aborda em três capítulos temas relacionados aos conteúdos exigidos pela nova legislação: a História da África antes do século XV; a África depois da chegada dos europeus; e a influência na cultura brasileira.
Os críticos da obrigatoriedade afirmam que ela inclui a historiografia africana mas exclui a dos árabes, judeus, asiáticos etc. Regiane discorda: "A cultura brasileira vem de três matrizes principais: a africana, a européia e a indígena. Seria desejável incluir também a história indígena no currículo para que as crianças entendam como se originou a cultura com a qual elas hoje se identificam".
Prova de que há uma deficiência no ensino do tema, são as noções equivocadas do senso-comum sobre a África e sua cultura. Um dos enganos mais comuns, afirma a pesquisadora, é pensar o continente como uma coisa única e homogênea. "Há muita diversidade de organização política, cultos religiosos e etnias e é importante ter em mente essa diversidade para entender a influência dessa diversidade na formação da cultura brasileira", afirma.
Para exemplificar, ela usa a questão religiosa. "Quando se fala na religião dos escravos, pensamos exclusivamente no candomblé. Mas poucos sabem que, em 1853, houve uma revolta no nordeste do Brasil liderada por escravos de religião islâmica, a chamada Revolta dos Malês", conta a professora. Ela critica também a associação automática que se costuma fazer entre os termos africano e escravo: "Havia tribos que participavam do comércio de escravos capturando pessoas das tribos inimigas e comercializando. Além disso eram economicamente relevantes o comércio de ouro e do marfim extraído das presas de elefantes", afirma Regiane.
Outro ponto interessante, e comumente ignorado, é a tradição oral existente na maioria dos povos africanos. "Havia algumas sociedades que apresentavam formas de escrita mas, em geral, a transmissão de conhecimento era feita oralmente", conta. "Talvez por isso, os idosos tinham um papel muito importante, participavam de conselhos de anciãos e gozavam de muito respeitos entre os outros integrantes das tribos", finaliza.
Mais informações: (0XX11) 3801-2076 ou e-mail regianemattos@uol.com.br
Agência USP , 7 dez. 2007.
Renato Sanchez
renato.sanchez@usp.br
Faltam materiais didáticos e professores preparados para o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas de todo o País. A afirmação é da professora Regiane Augusto de Mattos, mestre em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ela lembra que desde 2003, a lei federal nº 10.639 tornou obrigatório o ensino de História da África e da cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio.
Para Regiane, a nova legislação representa um avanço no reconhecimento da cultura africana como uma das principais matrizes da cultura brasileira. Ela aponta, no entanto, algumas dificuldades para que a lei seja implementada de fato nas escolas. A principal delas é a questão da formação dos professores já que o tema é pouco abordado mesmo nas faculdades de história. "Para se ter uma idéia, a disciplina de História da África só foi introduzida no currículo da FFLCH em 1997. Imagine quantos professores se formaram sem nunca ter estudado o tema", avalia.
Quase cinco anos depois da aprovação da lei, Regiane publicou o livro A história e a influência cultural da África no Brasil (Editora Contexto, 224 páginas, R$29,00). Ela afirma que a idéia é suprir a carência por material didático. O livro aborda em três capítulos temas relacionados aos conteúdos exigidos pela nova legislação: a História da África antes do século XV; a África depois da chegada dos europeus; e a influência na cultura brasileira.
Os críticos da obrigatoriedade afirmam que ela inclui a historiografia africana mas exclui a dos árabes, judeus, asiáticos etc. Regiane discorda: "A cultura brasileira vem de três matrizes principais: a africana, a européia e a indígena. Seria desejável incluir também a história indígena no currículo para que as crianças entendam como se originou a cultura com a qual elas hoje se identificam".
Prova de que há uma deficiência no ensino do tema, são as noções equivocadas do senso-comum sobre a África e sua cultura. Um dos enganos mais comuns, afirma a pesquisadora, é pensar o continente como uma coisa única e homogênea. "Há muita diversidade de organização política, cultos religiosos e etnias e é importante ter em mente essa diversidade para entender a influência dessa diversidade na formação da cultura brasileira", afirma.
Para exemplificar, ela usa a questão religiosa. "Quando se fala na religião dos escravos, pensamos exclusivamente no candomblé. Mas poucos sabem que, em 1853, houve uma revolta no nordeste do Brasil liderada por escravos de religião islâmica, a chamada Revolta dos Malês", conta a professora. Ela critica também a associação automática que se costuma fazer entre os termos africano e escravo: "Havia tribos que participavam do comércio de escravos capturando pessoas das tribos inimigas e comercializando. Além disso eram economicamente relevantes o comércio de ouro e do marfim extraído das presas de elefantes", afirma Regiane.
Outro ponto interessante, e comumente ignorado, é a tradição oral existente na maioria dos povos africanos. "Havia algumas sociedades que apresentavam formas de escrita mas, em geral, a transmissão de conhecimento era feita oralmente", conta. "Talvez por isso, os idosos tinham um papel muito importante, participavam de conselhos de anciãos e gozavam de muito respeitos entre os outros integrantes das tribos", finaliza.
Mais informações: (0XX11) 3801-2076 ou e-mail regianemattos@uol.com.br
Agência USP , 7 dez. 2007.
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