terça-feira, 29 de abril de 2008

Profissão Professor: Uma paixão da alma

PROFISSÃO PROFESSOR: uma paixão da alma

Nos dicionários encontramos a definição de alma, como princípio da vida. Na filosofia, em geral significa entidade a que se atribuem, por necessidade de um princípio de unificação, as características essenciais à vida (do nível orgânico às manifestações mais diferenciadas da sensibilidade) e ao pensamento, e que se define em oposição a corpo (embora não necessariamente a matéria) e, às vezes, a espírito, estando associadas à consideração da idéia de alma as questões da imortalidade, da personalidade, da individualidade, da consciência, etc., com todas as implicações morais, religiosas e metafísicas que elas suscitam. Princípio espiritual do homem concebido como separável do corpo e imortal. O conjunto das funções psíquicas e dos estados de consciência do ser humano que lhe determina o comportamento, embora não tenha realidade física ou material; espírito. Sede de afetos, dos sentimentos, das paixões. Aurélio Agostinho (354-430) mais conhecido por Santo Agostinho, numa doutrina sobre a alma, escreve que "a alma é a sede das capacidades humanas de compreensão, percepção, sentimento, raciocínio, em suma, de todas as potencialidades do espírito".

A alma não é o produto das condições fisiológicas, mas a forma do corpo, o qual recebe dela o ser e o operar.

É a consciência e a personalidade intelectual e moral, sobretudo razão e conhecimento.

Descartes relacionou na obra 'As Paixões da Alma' o que ele definiu como as seis paixões primitivas:

1. Admiração = quando o primeiro contato com algum objeto nos surpreende e o consideramos novo ou muito diferente do que conhecíamos antes ou então do que supúnhamos que ele devia ser, isso faz que o admiremos e fiquemos espantados com ele. À admiração une-se a estima ou o desprezo, dependendo de o que admirarmos ser a grandeza de um objeto ou sua insignificância.

2. Alegria = é a consideração do bem que nos é representado como pertencente a nós que excita em nós a alegria.

3. Amor = quando uma coisa nos é representada como boa com relação a nós, isto é, como nos sendo conveniente, isso nos faz ter amor por ela.

4. Desejo = quando desejamos adquirir um bem que ainda não possuímos ou evitar um mal que julgamos poder acontecer, mas também quando apenas desejamos a conservação de um bem ou a ausência de um mal. É evidente que ela sempre leva em conta o futuro.

5. Ódio = quando uma coisa nos é representada como má ou prejudicial, isso nos excita ao ódio.

6. Tristeza = é a consideração do mal que nos é representado como pertencente a nós que excita em nós a tristeza.

Definindo, as paixões da alma como sendo "percepções, ou sentimentos, ou emoções da alma, que relacionamos especificamente com ela e que são causadas, alimentadas e fortalecidas por algum movimento dos espíritos".

O termo emoção [émotion] designa "um movimento extraordinário que agita o corpo ou o espírito e que lhe perturba o temperamento ou a disposição". Da mesma forma, "emocionar" [émouvoir] significa "abalar para pôr em movimento".

Segundo Descartes, a alma é o agente em suas volições que terminam na própria alma ou no corpo.

Das funções da alma:

VONTADE – São de dois tipos. Nossas vontades são de dois tipos, pois umas são ações da alma, que terminam na própria alma (aplicar nosso pensamento em algum objeto que não é material). As outras são ações que terminam em nosso corpo, como quando, somente porque sentimos vontade de passear, segue-se que nossas pernas se mexem e nós caminhamos.

PERCEPÇÃO – também são de dois tipos. Umas têm como causa a alma, e as outras o corpo. As que têm como causa a alma são as percepções e nossas vontades e de todas as imaginações ou outros pensamentos que dependem de nossas vontades. As percepções que relacionamos somente com a alma são aquelas cujos efeitos sentimos como estando na própria alma, e das quais habitualmente não conhecemos uma causa próxima à qual possamos atribuí-las.

Na segunda parte são examinadas as paixões define cada uma das paixões Admiração; Alegria; Amor; Desejo; Ódio; Tristeza.

Na terceira parte do tratado examina as diferentes paixões derivadas das originais, denominadas por ele de 'paixões específicas', e relaciona 31 delas:

1. Arrependimento – é diretamente contrário à satisfação consigo mesmo; e é uma espécie de tristeza, que provém de acreditarmos que fizemos alguma ação má; e é muito amarga, porque sua causa provém somente de nós.

2. Ciúme = é uma espécie de temor, que se relaciona com o desejo de conservarmos a posse de algum bem; e não provém tanto da força das razões que levam a julgar que podemos perdê-lo, como da grande estima que temos por ele, a qual nos leva a examinar até os menores motivos de suspeita e a tomá-los por razões muito dignas de consideração.

3. Cólera – é também uma espécie de ódio ou de aversão, que sentimos contra os que fizeram algum mal ou tentaram prejudicar não a qualquer pessoa indiferentemente, mas particularmente a nós. Assim, ela contém exatamente o mesmo que a indignação, e ademais fundamenta-se em uma ação que nos atinge e da qual temos desejo de vingar-nos.

Nota: Por uma opção pessoal, sempre preferi a expressão ira (impulso violento contra o que nos ofende, fere ou indigna; raiva, fúria, furor, zanga) em vez de cólera, de vez que essa atualmente está correlacionada com uma doença. Apenas uma questão semântica.

4. Coragem / Ousadia = Coragem, quando é uma paixão e não um hábito ou uma inclinação natural, é um certo calor ou agitação que dispõe alma a aplicar-se intensamente na execução das coisas eu quer fazer, qualquer que seja a natureza delas. E a ousadia é uma espécie de coragem que dispõe a alma para a execução das coisas que são as mais perigosas.

5. Covardia / Medo = A covardia é diretamente oposta à coragem, e é uma languidez ou frialdade que impede a alma de aplicar-se na execução das coisas que faria se estivesse isenta dessa paixão. E o medo ou pavor, que é contrário à ousadia, não é somente uma frialdade mas também uma perturbação e uma estupefação da alma, que lhe tiram o poder de resistir aos males que julga estarem próximos.

6. Desdém = é a inclinação que a alma tem para desprezar uma causa livre, julgando que, embora por sua natureza ela seja capaz de fazer o bem e o mal, no entanto está tão abaixo de nós que não pode fazer-nos nem um nem outro.

7. Desprezo - Falta de apreço; desconsideração, desdém. Fazer-se desprezível; abandalhar-se, aviltar-se.

8. Emulação = é tão somente um calor que dispõe a alma a empreender coisas em que espera poder ser bem sucedida, porque vê outros serem bem sucedidos nelas; e assim, é uma espécie de coragem cuja causa externa é o exemplo.

9. Esperança / Temor = a esperança é uma disposição da alma para se persuadir de que aquilo que deseja acontecerá, é causada por um movimento particular dos espíritos, ou seja, pelos da alegria e do desejo misturados simultaneamente. E o temor é uma outra disposição da alma, que a persuade de que aquilo não acontecerá. Quando a esperança é forte se denomina segurança. Quando o temor é extremo se converte em desespero.

10. Estima - Sentimento da importância ou do valor de alguém ou de alguma coisa; apreço, consideração, respeito. Afeição, afeto; amizade.

11. Fastio – é uma espécie de tristeza, que provém da mesma causa de que proveio antes a alegria.

12. Favor – é propriamente um desejo de ver acontecer o bem a alguém para com quem temos boa vontade. É uma espécie de amor, não de desejo, ainda que o acompanhe sempre o desejo de ver o bem para aquele que favorecemos.

13. Generosidade - Que revela generosidade, nobreza, liberalidade; próprio de quem é generoso. Que gosta de dar; pródigo. Que perdoa com facilidade. Nobre, leal, valente.

14. Glória – é uma espécie de alegria, fundamentada no amor que temos por nós mesmos e que provém da opinião ou da esperança que temos de ser louvados por alguns outros.

15. Humildade - Virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza. Modéstia, pobreza (mas não de espírito). Respeito, reverência.

16. Imprudência – ou descaramento, que é um desprezo pela vergonha e frequentemente também pela glória, não é uma paixão, porque não há em nós um movimento particular dos espíritos que a excite; mas é um vício oposto à vergonha, e também à glória, na medida em que uma e outra são boas, assim como a ingratidão é oposta ao reconhecimento e a crueldade à piedade.

17. Indignação – é uma espécie de ódio ou de aversão que sentimos naturalmente contra os que fizeram algum mal, de qualquer natureza que seja. Frequentemente ela está misturada com a inveja ou com a piedade.

18. Ingratidão – ela não é uma paixão, pois a natureza não colocou em nós qualquer movimento dos espíritos que a excite; mas é somente um vício diretamente oposto ao reconhecimento, na medida em que este é sempre virtuoso e um dos principais laços da sociedade humana.

19. Inveja – é um vício que consiste em uma perversidade de natureza, que faz certas pessoas ficarem contrariadas com o bem que vêem acontecer aos outros homens.

20. Irresolução = é uma espécie de temor que, mantendo a alma hesitante entre várias ações que pode praticar, faz que não execute nenhuma e assim tenha tempo para escolher antes de decidir-se. Nisso realmente ela tem algum uso que é bom. Mas quando dura mais do que deve e leva a empregar em deliberação o tempo que é necessário para agir, é muito má.

21. Lamento – é também uma espécie de tristeza, que tem uma amargura particular por estar sempre unida a algum desespero e à lembrança do prazer que a fruição nos proporcionou.

22. Orgulho - Sentimento de dignidade pessoal; brio, altivez. Conceito elevado ou exagerado de si próprio; amor-próprio demasiado; soberba.

23. Piedade - é uma espécie de tristeza, misturada com amor ou boa vontade para com aqueles que vemos sofrer algum mal do qual os consideramos não merecedores. Ela é contrária a inveja em razão de seu objeto.

24. Reconhecimento – também é uma espécie de amor, excitado em nós por alguma ação da pessoa por quem o temos, e pelo qual acreditamos que ela nos fez algum bem ou pelo menos teve intenção disso.

25. Regozijo – é uma espécie de alegria na qual há isto de particular: sua doçura é aumentada pela lembrança dos males que sofremos e dos quais nos sentimos aliviados, da mesma forma como se nos sentíssemos desembaraçados de algum fardo pesado que por muito tempo tivéssemos carregado nos ombros.

26. Remorso – é uma espécie de tristeza que provém da suspeita que temos de que uma coisa que estamos fazendo ou que fizemos não é boa.

27. Satisfação consigo mesmo – a satisfação que têm aqueles que seguem constantemente a virtude é em sua alma um hábito, que se denomina tranqüilidade e paz de consciência.

28. Segurança / Desespero - Confiança em si mesmo; autoconfiança. Estado, qualidade ou condição de seguro. Condição daquele ou daquilo em que se pode confiar. Certeza, firmeza, convicção. / Aflição extrema. Raiva, cólera, furor. Irar-se, encolerizar-se, enfurecer-se.

29. Veneração = ou respeito é uma inclinação da alma não somente para estimar o objeto a que reverencia, mas também para se submeter a ele com algum temor, a fim de tentar torná-lo favorável a si. Sentimos ódio por esse mal, e sentimos alegria por vê-lo em alguém que o merece.

30. Vergonha – é uma espécie de tristeza, fundamentada também no amor por nós mesmos, e que provém da opinião ou do temor que temos de ser censurados.

31. Zombaria – a derrisão ou zombaria é uma espécie de alegria misturada com ódio, que provém de percebermos algum pequeno mal numa pessoa que pensamos ser merecedora dele.

Aprendizagens e reflexões possíveis:

Você ama a sua profissão "com todo o seu coração; com toda a sua alma; com toda a sua mente; com toda a sua força?"

O amor é a chave para viver plenamente a vida.

Você é mais do que sabe, e mais do que imagina que você é.

Pode ser um professor:

Centrado no coração – seus sentimentos se manifestam basicamente, por intermédio da prática da gratidão.

Centrado na alma – seus sentimentos estão fortemente baseados na prática da contemplação.

Centrado na mente – se expressa na vida por intermédio da prática da percepção atenta.

Centrado na força – se expressa por intermédio da prática do compromisso.

Para Descartes, a alma é constituída pela res cogitans, a natureza da alma é imortal e suas faculdades são: sensação, imaginação ou fantasia e razão.

Concluo com Sócrates que o homem é sua alma. Se o homem é a alma, a virtude do homem se atua com a "cura da alma", fazendo com que ela se realize da melhor forma possível. E como alma é atividade cognoscitiva, a virtude será essencialmente potencialização dessa atividade, ou seja, será "ciência", "conhecimento".

Estamos frequentemente buscando algum modo de transformar aquilo que fazemos em algo que tenha valor (para nós, nossos alunos, para a organização educacional em que trabalhamos) – que faça uma diferença?

MORENO, Luiz Carlos.
Pedagogo. Especialista em Educação e em Andragogia. Pós Graduado em Administração da Educação; em Didática do Ensino Superior; em Gestão Estratégica e Qualidade.
Professor no Centro Universitário Barão de Mauá.
Consultor de Desenvolvimento Humano (Aprendizagem; Educação; Comportamento; Conhecimento e Inteligência).
E-mail: lcmoreno@uol.com.br

Referência bibliográfica:

Descartes, René. As paixões da alma; introdução notas, bibliografia e cronologia por Pascale D'Arcy; tradução Rosemary Costhek Abílio. - 2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2005. – (Clássicos)

Norton, Robert. Decifrando o código da alma: encontre as respostas para a sua vida no seu DNA espiritual / Richard Southern; tradução Newton Roberval Eichemberg. – São Paulo: Cultrix, 2006.

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