quinta-feira, 10 de abril de 2008

EJA em busca de novas perspectivas

EJA em busca de novas perspectivas.

Os professores reconhecem a importância que suas disciplinas possuem para o desenvolvimento da humanização de seus educandos. Quanto aos estudantes, infelizmente não podemos fazer a mesma afirmação e com a mesma ênfase utilizada anteriormente. O grupo avaliado é bastante heterogêneo, por questões diversas de: idade, profissão, renda salarial, sexo, religião, princípios éticos e morais, entre outros.

Algumas pessoas procuram a EJA por conhecer a sua eficácia em redução de carga horária, pois enquanto no ensino regular levam-se três anos para encerrar o ensino médio, nesta nova estrutura cumpre-se a etapa em um ano e meio. Dentro desta perspectiva existe uma grande dificuldade que são os alunos vêm ao encontro do diploma e da formatura, não buscando o verdadeiro interesse pelo conhecimento. Levando isso em consideração, compreende-se o porquê de tamanho desinteresse por parte da maioria dos alunos.

Nós enquanto lideres reflexivos, devemos despertar nestes "sujeitos" maior interesse pelo conhecimento, tornando-os pensadores de suas próprias realidades, atores e não meros espectadores de suas realidades. Porém, alguns profissionais, infelizmente, demonstram enorme falta de didática ao repassarem os seus conteúdos. Outros apresentam a forma quadrada e grosseira da escola tradicional, que não teve êxito nem em seu tempo de estudantes, quanto menos nos dias atuais. Outros, ainda, supõem que seus alunos já possuem algum tipo de conhecimento prévio sobre a sua disciplina, passando os conteúdos superficialmente e impedindo que os alunos entendam a fundo o que está sendo ensinado. Isto é um mau sinal, conhecendo qual é a proposta para o ensino de jovens e adultos, pois estas atitudes justificam e fortalecem ainda mais a procura somente de um diploma, além de transformar os alunos em pessoas aversivas ao conhecimento.

Podemos afirmar então que a falha está na base, ou seja, na seleção dos profissionais, que variam de A a Z. A verdade é que nós professores, esquecemos de responsabilizar os estudastes pelos seus desenvolvimentos. Temos que ter a audácia de despertar neles, o interesse pelo estudo, pela pesquisa, tornando-os partícipes de suas próprias histórias. Devemos despertá-los para o espírito filosófico, questionador, problematizador, para que eles não se satisfaçam com apenas o que é, mas que eles se sintam instigados a ir de encontro do porque é assim.

É necessário que haja, entre professores e alunos, contatos diretos, e que esta interação garanta crescimento para ambos. O professor não deve achar-se superior ao aluno por saber o que sabe, pois na realidade, dentro da sala de aula temos muito mais a aprender do que a ensinar. Tenho comigo duas lições. A primeira é uma máxima kantiana, que em outras palavras faz a seguinte afirmação: Viva sua vida de maneira que ela se transforme em uma lei universal; ou seja, o provérbio popular explica melhor: Fazer o bem sem olhar a quem. A outra lição é a velha frase socrática: "Sei que nada sei". Na verdade o que sabemos é um nada sobre um pouco, quando pensamos já saber tudo sobre tudo.

Nós professores temos que criar coragem para nos reconhecermos pequenos, assumindo com humildade que somos meros instrumentos, que apenas mediamos os conhecimentos que estão fora do alcance dos alunos. Enquanto instrumentos devemos nos afinar para formar um conjunto melódico e harmonioso, cujo som não doa ao chegar aos ouvidos do interlocutor. Precisamos falar uma linguagem compreensível, para não nos tornarmos anormais diante de pessoas que só querem tornar-se melhores diante de seus sonhos e esperanças.

Precisamos ter uma visão profética e buscarmos os conceitos já ditos pela ética kantiana de que, não podemos encarar as pessoas como um meio para a nossa auto-estima, o nosso engrandecimento profissional, pessoal, etc. Temos que mirar as pessoas enquanto um fim, e como já dizia Maquiavel em seu livro O Príncipe, "os fins não justificam os meios". Bons meios, bons princípios, boas formas geram bons fins. Faço lembrança das palavras de Jesus: Como pode uma erva daninha gerar bons frutos? Não podemos esperar brotar maçãs se plantamos urtigas.

O professor deve fazer acontecer. Temos que instigar os alunos a refletirem sua própria realidade. Refiro-me, aqui, à palavra reflexão enquanto ato de flexionar, dobrar-se, ser flexível, pois o que se torna flexível é capaz de corrigir-se, modificar-se, tornar-se melhor. Não refletir, não repensar os próprios atos é não conseguir suportar o peso da palavra perdão, de curar-se a si e ao outro que podemos chamar de próximo.

Nos deparamos, às vezes, com pessoas que possuem a cabeça e o coração rígidos, que resistem à flexão no sentir e no pensar e, por conseqüência, no agir, encarando as coisas que acontecem no mundo (utilizo aqui um conceito do professor Dr. Roberto Crema), como uma 'normose', onde tudo é natural e normal: a violência, o tráfico, o dinheiro que dele vem, a prostituição, a corrupção dentro da política, etc.

É tempo de humanizar-nos, começando por nós professores. Precisamos reconhecer isto, somos uma das classes profissionais mais desunidas que existem na face da Terra. Concordo que existem lutas, mas algumas lutas têm objetivos muito pequenos. Eu só vejo paralisações de profissionais reivindicando aumento salarial. Ainda não vi paralisação e questionamento por falta de instrução, procurando melhorias e discussões nas formas avaliativas, etc.

É necessário que acreditemos na Educação como um resgate da dignidade das pessoas, caso contrário, estaremos jogando com as mesmas regras dos "alunos". Fica muito claro para mim que entre educando e professor são dois pesos e duas medidas, no entanto, é preciso encontrar o equilíbrio, o qual aponte para a igualdade, garantindo a diversidade.

Acredito firmemente que não podemos avaliar os alunos da mesma forma que fomos avaliados em nossa história escolar. Recordo-me daquele método onde "matéria passada, matéria cobrada", o qual já era bastante criticado por nós, enquanto estudantes. Posso citar um exemplo muito comum daquela época, quando, diante de uma prova, o aluno poderia não ter apresentado o desenvolvimento necessário, por motivos diversos: estar nervoso, ansioso, abatido, distraído, cansado; não ter compreendido a matéria no dia da explicação; por ficar envergonhado e com medo da repreensão do professor em sala; por faltar no dia da explicação e o professor marcar prova para a próxima aula, castigando os alunos que conversaram algo fora do contexto da disciplina; enfim, estas e outras características que me faltam na memória neste momento.

Amigos professores, se realmente queremos resgatar a cidadania por meio da Educação, precisamos deixar de lado os nossos preconceitos, arrancar a máscara de coronel rabugento. Ainda fazemos de nossas salas de aula um laboratório padrão, onde os alunos têm que apresentar um comportamento robótico, sentando-se um atrás do outro, sem ter direito a palavra como no velho e antiquado modelo militar. Um ambiente onde a ordem é o sucesso! Desculpem se eu exagero, mas é que existem professores que acreditam que ter silencio em sala de aula é ter progresso. Eu, porém, digo algo mais, relembrando a revolução francesa: se não houver amor, não haverá ordem, muito menos progresso.

Isto não é um simples pedido, é um apelo. A partir do momento em que nos conscientizarmos de que a escola não é uma fôrma, e que o aluno "A" não é o aluno "B", estaremos valorizando a nossa profissão que é tão pouco reconhecida por este sistema capitalista explorador.

Minha intenção não é a de escrever um tratado sobre Educação, entretanto, não poderia ficar omisso diante do que chamo de crime contra os estudantes, quando vejo professores empurrando matéria de garganta abaixo nos alunos, e ainda exigindo que suas reações sejam positivas nas avaliações construídas.

Que tipo de cidadãos queremos despertar? Não seriam autônomos, agentes de suas próprias transformações, conscientes de suas potencialidades criativas? Se isto é o que queremos, porque insistimos em engessar as suas cabeças com a repetição teórica que passamos no quadro negro, repartido com giz de cal, muitas vezes até desproporcionalmente?

Aí vêm as reclamações destes "ilustres" professores que estão sofrendo de tendinite, bursite, fibromialgia, e outras doenças originadas por esforços repetitivos; e não haveria de ser diferente, enquanto não houver a consciência de uma prática de avaliação diferenciada.

Relato aqui, amigos professores, que no meu tão curto tempo de docência, encontrei estudantes brilhantes. Crianças, jovens e adultos, que me ensinaram a pensar mais sobre a vida, e não foram nas provas que fizeram isto, mas nas suas atitudes dentro e fora do âmbito escolar. Demonstraram estes, que mesmo sendo considerados analfabetos pelo mundo, por não saberem ler ou escrever, que têm plena convicção de serem eles os agentes primordiais de suas felicidades. E qual é o outro objetivo da existência humana neste confim de universo, se não é buscar a felicidade?

Quando nos deparamos com aquele educando que consideramos "aluno-problema", que vive sempre nervoso, irritado, hiperativo, que conversa uma aula toda, desvia a atenção dos colegas, o que nos passa pela cabeça? De fato, em outros tempos eu mesmo o convidaria a se retirar da sala. Agindo assim, estaríamos nos esquecendo que nos fazemos presentes em sala de aula não somente como professores de química, português, geografia, história, matemática, filosofia, ou seja, lá de que disciplina for. Devemos nos comportar como educadores. Chamar a atenção de forma que nossa atitude diante da classe não se transforme em um trauma para o aluno que naquele momento está desatento. Nem para que os outros alunos da classe encarem este comportamento como algo autoritário ou possessivo, gerando um clima preconceituoso entre estudantes e professores.

Retornando ao assunto da forma avaliativa, recorro aos PCNs do ensino médio, os quais recomendam: "(...) novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimento". Neste mesmo documento, destaca-se a contraposição entre ensinar os estudantes a aprenderem, criarem, formularem, ao invés do simples exercício de memorização. Reafirmo novamente o que me referi acima sobre o engessamento da potencialidade criativa destas pessoas.

Ainda estamos longe de uma Educação libertadora para a autonomia do pensar, mas como não é proibido sonhar, exponho aqui alguns de meus clamores. Sinto que a Educação possui muitos pontos negativos, entretanto, são estas dificuldades que fomentam e fortificam em mim a vontade de mudança, de correção e porque não falarmos até em conversão?

Professor Geverson Luz Godoy
Assessor filosófico-pedagógico
S.E.R – Sistema de Ensino Reflexivo.
Centro de Filosofia Educação para o Pensar
Abril de 2008

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