Caminhada contra fome
Anna Maria de Castro
''(...) A fome e a miséria não constituíam fenômenos naturais irremediáveis, mas fenômenos sociais, produtos de criação humana, ou melhor, da exploração desumana das riquezas naturais a que se entregou um pequeno grupo de privilegiados em detrimento dos verdadeiros interesses da humanidade'' [Josué de Castro, O livro negro da fome, 1957].
No próximo mês de julho, estará acontecendo em Fortaleza a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, ocasião em que representantes de todos os estados brasileiros estarão examinando uma extensa pauta de trabalho. Neste espaço, convido a todos para uma reflexão sobre a vitoriosa trajetória que nossa causa de luta contra a fome tem cumprido ao longo dos anos. Embora para muitos ainda reste uma longa caminhada, é inegável que o progresso foi significativo.
É importante relembrar a participação decisiva de alguns brasileiros sobre o papel social que o Estado devia representar no combate da desigualdade social. No século passado, a inestimável contribuição de Josué de Castro, que ao escrever a ''Geografia da Fome'' (1946), deixou claro que a fome não era um produto das intempéries ou das agruras da natureza, mas sim resultado de opções econômicas realizadas pelos próprios homens.
Devemos ainda louvar o trabalho incansável de Herbert de Souza, nosso Betinho, de Dom Helder Câmara (de saudosa memória), pessoas que simbolizam uma luta que foi de muitos outros no século passado. Já no século XXI, quando o conceito de fome foi ampliado para ''Segurança Alimentar e Nutricional'', não podemos esquecer da sensível e patriótica decisão do presidente Lula, que institucionalizou o combate à fome, criando o Programa Fome Zero e o entregando a José Graziano. Lula deixou claro que o problema da fome deveria ser visto como um problema de Estado e de responsabilidade da sociedade. A partir daí houve uma grande mobilização nacional.
Encontros regionais e as Conferências Nacionais foram momentos decisivos para o fortalecimento e difusão, para toda sociedade, da natureza e importância do problema. Foi possível distinguir, nestas reuniões, a grande participação da sociedade, ávida de se manifestar.
Por conta disto, em terras pernambucanas, quando da II Conferência Nacional, realizada em 2004, em Olinda, consolidou-se a convicção de implantar, pela via legislativa, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. O Congresso Nacional compreendeu o alcance da proposta e aprovou a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional.
Finalmente, estou convencida de que no encontro de julho, os participantes apresentarão suas experiências e propostas para a erradicação da fome e da exclusão social, visando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Anna Maria de Castro é doutora em Sociologia Aplicada e professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É filha de Josué de Castro.
Fonte: Assessoria de Comunicação do CONSEA NACIONAL
Anna Maria de Castro
''(...) A fome e a miséria não constituíam fenômenos naturais irremediáveis, mas fenômenos sociais, produtos de criação humana, ou melhor, da exploração desumana das riquezas naturais a que se entregou um pequeno grupo de privilegiados em detrimento dos verdadeiros interesses da humanidade'' [Josué de Castro, O livro negro da fome, 1957].
No próximo mês de julho, estará acontecendo em Fortaleza a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, ocasião em que representantes de todos os estados brasileiros estarão examinando uma extensa pauta de trabalho. Neste espaço, convido a todos para uma reflexão sobre a vitoriosa trajetória que nossa causa de luta contra a fome tem cumprido ao longo dos anos. Embora para muitos ainda reste uma longa caminhada, é inegável que o progresso foi significativo.
É importante relembrar a participação decisiva de alguns brasileiros sobre o papel social que o Estado devia representar no combate da desigualdade social. No século passado, a inestimável contribuição de Josué de Castro, que ao escrever a ''Geografia da Fome'' (1946), deixou claro que a fome não era um produto das intempéries ou das agruras da natureza, mas sim resultado de opções econômicas realizadas pelos próprios homens.
Devemos ainda louvar o trabalho incansável de Herbert de Souza, nosso Betinho, de Dom Helder Câmara (de saudosa memória), pessoas que simbolizam uma luta que foi de muitos outros no século passado. Já no século XXI, quando o conceito de fome foi ampliado para ''Segurança Alimentar e Nutricional'', não podemos esquecer da sensível e patriótica decisão do presidente Lula, que institucionalizou o combate à fome, criando o Programa Fome Zero e o entregando a José Graziano. Lula deixou claro que o problema da fome deveria ser visto como um problema de Estado e de responsabilidade da sociedade. A partir daí houve uma grande mobilização nacional.
Encontros regionais e as Conferências Nacionais foram momentos decisivos para o fortalecimento e difusão, para toda sociedade, da natureza e importância do problema. Foi possível distinguir, nestas reuniões, a grande participação da sociedade, ávida de se manifestar.
Por conta disto, em terras pernambucanas, quando da II Conferência Nacional, realizada em 2004, em Olinda, consolidou-se a convicção de implantar, pela via legislativa, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. O Congresso Nacional compreendeu o alcance da proposta e aprovou a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional.
Finalmente, estou convencida de que no encontro de julho, os participantes apresentarão suas experiências e propostas para a erradicação da fome e da exclusão social, visando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Anna Maria de Castro é doutora em Sociologia Aplicada e professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É filha de Josué de Castro.
Fonte: Assessoria de Comunicação do CONSEA NACIONAL
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