Nei Alberto Pies “A vida não é qualquer coisa mas é sempre, simplesmente, a ocasião para qualquer coisa” (Viktor Frankl) Faz bom tempo que a criminalização daqueles e daquelas que lutam por melhores condições de dignidade humana vem sendo denunciada. Mas parece que esta violência, como outras tantas, repete-se. Alguns até passam a aceitá-la como compatível aos padrões de convivência social. O Estado, instituído como guardião dos direitos, é o primeiro que os viola quando reprime violentamente aqueles e aquelas que se organizam pacificamente para buscar educação, terra, trabalho, saúde, segurança, lazer... Estaríamos desaprendendo democracia? Sem liberdade de expressão e de organização, que democracia estará sendo construída? A ordem, associada ao progresso, parece mover novamente o imaginário daqueles que veem a democracia no ideal, no abstrato, difícil de ser construída. Nem todos estão convencidos de que a democracia pode ser desordem, uma vez que “não existe democracia sem caos, confusão, entropia. A democracia é o sistema do dissenso. Na verdade, a democracia é um equilíbrio instável de ordem e desordem. Em alguns momentos, a desordem é mais importante do que a ordem. Tudo, claro, depende do grau de ordem e desordem” (Juremir Machado daSilva). A criminalização é a face perversa do Estado e da sociedade que não permitem que a cidadania exerça a condição de sujeito de direitos. Quem luta por seus direitos, e pelos direitos dos outros, é facilmente taxado de criminoso, acusado e condenado sumariamente. Os estigmas e preconceitos sociais atribuídos àqueles que lutam provocam impactos negativos para o exercício da condição de seres humanos, cidadãos e seres de vida social. Assis da Costa Oliveira define a criminalização dos movimentos sociais como sendo: “uma ideologia que possibilita um conjunto de práticas de cunho repressivo, repulsivo e/ou permissivo, com conseqüências físicas, mentais e sociais para o movimento e para as pessoas nele contidas”. Existirá agressão maior do que esta? Não importa se maior ou menor, sempre agressão! Os consensos é que constituem a ordem democrática, muito antes das leis e das imposições arbitrárias. Mas, como perderam-se as causas, sobraram os interesses. Poucas causas sociais e humanitárias são capazes de mover e agregar, daí a dificuldade de construir consensos e acordos. Os interesses, pessoais, econômicos e corporativos, sucumbem as possibilidades de pôr as estruturas de organização econômica, social e política a favor da dignidade humana. A democracia nasceu das palavras, da retórica e da persuasão. Com as palavras em descrédito, sobraram atitudes típicas da pré-história. Valeria assistir ao filme “A guerra do Fogo” para dar-se conta da estupidez inglória. Como escreve Marcos Rolim, “a democracia que temos já não tem política. Nela, o futuro se ausentou porque as palavras não autorizam expectativas. Será preciso reinventá-la, entretanto, antes de desesperar. Porque o desespero é só silêncio e o melhor do humano é a palavra”. Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com.br/
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
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