O ensino de filosofia a partir da Literatura infantil
Daniel D. Schlottfeldt1
O trabalho com a literatura infantil, na construção do pensar, pode ser uma alternativa para o despertar filosófico. Clássicos da literatura como "O pequeno príncipe" , "O mundo de Sofia" e o livro das "Fábulas", de Esopo, constituem-se de alguns dentre os tantos existentes. Servem de reflexão, despertando o conhecimento e o senso crítico. Estes livros indicados serão nosso objeto de análise neste trabalho, com o objetivo de despertar no educador a importância da literatura na construção do pensar e também do seu conteúdo filosófico. Para tanto, é importante que tais livros, destacados anteriormente, sejam analisados com cuidado para que sua real lição e moral, não sejam "tangenciados". Assim, como podemos visualizar sua real lição?
Partiremos do tratamento dado à leitura, em especial, para a literatura. Podemos observar, atualmente, um grande desinteresse da juventude com a literatura: seja ela infantil ou literatura brasileira, esta, obrigatória no ensino médio. É preocupante saber que alunos "decoram" autores e resumos de livros de autores destacados como os romances de Machado de Assis, os sermões do padre Antônio Vieira entre outros tantos. Este "conhecimento" tem endereço certo: o vestibular. Por outro lado, a tecnologia que os alunos dispões em casa, contribui para esse processo de deformação, ou seja, um computador substitui os chamados "volumes" que ocupam tanto espaço. Muitas vezes, a própria Internet se compromete em oferecer as obras. Porém, as obras não estão na íntegra, mas baseadas em resumos fáceis de ler e com as informações necessárias para garantir os "acertos" na prova. Poderíamos pensar: qual o futuro das bibliotecas no país?
Porém, esta problemática anterior pode ser revertida. As utilizações de livros didáticos para este processo de aprendizagem-reflexão, encontram-se justamente na literatura infantil. Muitas vezes, o trabalho com esta literatura é boicotado nas escolas. Então, o que observamos a posteriori, nada mais é do que a idéia de livro seja acerca dos livros utilizados em sala de aula: Matemática, Física, Biologia, Geografia, etc. O aluno pouco sabe que aquele compendio de informações, partiram de trabalhos originais oriundos da literatura mundial. Por exemplo, basta abrir um livro didático de filosofia e observar como é possível trabalhar um determinado assunto, comum para vários autores, ao longo de um milênio.
A literatura emprega um caráter social na constituição dos assuntos. Exemplifica características particulares da sociedade em seu desenvolvimento, época e personagens. Transmite uma mensagem que pode ser compreensível, mas também uma mensagem que exige a habilidade do pensar. Estes dois modos de "transmissão" podem servir de laço entre a construção do pensar filosófico a partir da literatura infantil. Como isto seria possível? Inicialmente, vamos observar sucintamente as obras, "O pequeno príncipe", seguida de "O mundo de Sofia" e as "Fábulas" de Esopo e observar respectivamente a questão do ser, a compreensão da filosofia ao longo de milênios e as lições de moral e ética. É importante destacar, que embora sejam clássicos da literatura infantil, exigem certa maturidade do leitor para que sua real mensagem seja captada. Por isso é importante que este trabalho entre educador-aluno, seja consolidado a partir do tratar maturo frente o infantil, promovendo o debate em aula.
O conhecido livro "O pequeno príncipe" do autor Antoine de Saint-Exupéry foi "rotulado" como o livro das "misses" ao longo das últimas décadas. Talvez, o possível preconceito frente a esta consolidação, tenha afastado-o das estantes das casas - senão, por ocupar espaço, como vimos anteriormente - ou um dos poucos retirados nas bibliotecas que ainda o preservam. Mas, não sejamos pessimistas. Não foi por acaso que os filósofos, Heidegger e Sartre, leram tal obra. Heidegger considerou que tal obra alivia qualquer solidão e onde somos levados à compreensão dos grandes mistérios do mundo. Sartre, em concordância com Heidegger, aponta a obra como um contra o subjetivismo, aliviando a solidão e a quietude. Seguimos, então, um pouco das colocações dos dois filósofos para compreender a mensagem do livro. Poderíamos focar o príncipe como um filósofo: está sempre questionando e na busca de compreender a realidade que toma contato. O personagem parece nunca estar só senão rodeado pela diversidade: seja um baobá, uma flor, um acendedor de lampiões, um homem de negócios, ou um geógrafo, enfim, elementos caracterizados por particularidades e modos de vida. Estas particularidades determinam a sobrevivência destes elementos em cada planeta por onde o principezinho passa. Porém, o questionar do pequeno príncipe, revela o quanto estamos aprisionados naquele "mundo". Não podemos esquecer do despertar para a imaginação. Quando consideramos o "pequeno príncipe" como uma criança, observamos o despertar para a imaginação: "Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. (...) Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar (...)"." (1983, pp. 9,10) O desenho do príncipe seria capaz de confusão com um chapéu, caso não ilustrasse um elefante no interior da jibóia. Logo, este desenho, que seria motivo de confusão para um adulto era a imaginação de uma criança. Desta forma, o livro representa a dúvida pela qual toda criança passa durante o seu desenvolvimento, sempre em busca dos "porquês". A obra aplica esta temática do início ao fim e encerra como se o principezinho crescesse e o seu mundo é outro. Mas, entendemos que o educador deve trazer o príncipe em cada um dos seus alunos de maneira que cada um seja um filósofo na busca da compreensão, contemplação, das descobertas e do convívio com a diversidade: "Para vocês, que amam o principezinho, como para mim, todo universo muda de sentido, sei num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa... (...). Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente..." . (1983, p.95).
Em seguimento, inserimos a obra "O mundo de Sofia" do autor Jostein Gaarder. Trata-se de um romance que conta, de maneira cativante, a história da filosofia. A personagem principal, Sofia Amundsen, é uma criança. É uma criança como outra qualquer: vive o dia a dia fantasiando a realidade que a cerca. Porém, com um diferencial: recebe cartas de um desconhecido. Estas cartas apresentam temas de filosofia para o pensar e refletir sobre o cotidiano. Com isso, o próprio leitor se sente como Sofia: um desconhecedor da realidade que o cerca também. Porém, o conhecimento dado pelo livro, prende o leitor de maneira que, embora tenha muitas páginas (motivo de espanto para quem vê a obra), o mesmo busque cada vez mais o conhecimento. Para fins didáticos, no trabalho do tema "filosofia para crianças", a obra de Gaarder não apenas utiliza o aspecto teórico, mas um contexto comum à vida de qualquer criança. Podemos destacar nesta obra e trabalhar em sala de aula o tema proposto pelo livro, intitulado "Deixando para trás as trevas da caverna". (1995, p.104). Trata-se da conhecida "Alegoria da Caverna" encontrada no Livro IV da República de Platão. Jostein Gaarder trata o tema, como se estivesse dialogando com o leitor: "Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. (...) Imagine agora que um destes habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão (...). Ele vê o sol brilhando no céu e entende que o sol dá vida as flores. (...) Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar (...). Mas as outras pessoas que ainda continuam na caverna não lhe saem da cabeça. E, por isso ele decide voltar (...) ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele (...). Por fim, acabam matando-o. A alegoria da caverna faz alusão a Sócrates, "morto pelos habitantes da caverna"" . (1995, pp.104, 105). Este ensinamento é um exemplo de coragem e da responsabilidade pedagógica do filósofo, ainda que sendo criticado. "O mundo de Sofia" não se reserva à filosofia grega. Por exemplo, trata de questões bastante pertinentes à ciência moderna. Por exemplo, "como pensar" sobre a formação do nosso planeta? É o caso do capítulo que trata "A Grande Explosão", conhecido como "Big Bang". É muito importante despertar o senso crítico do aluno, de maneira que o mesmo desenvolva habilidades na leitura e compreensão para temas complexos. Atualmente, os educadores convivem com um grave problema: muitos alunos não compreendem o que lêem. Por isso, a proposta de trabalho com livros "infantis", como os citados até aqui, possam servir de reflexão despertando no aluno o senso crítico. Ainda que, a falta de maturidade do aluno seja uma "barreira" para a abstração da mensagem, cabe ao educador despertar pontos importantes da leitura e provocando a discussão. É importante que até mesmo a seqüência lógica dos fatos seja um fator para aprendizagem, bem como, o despertar para o prazer da leitura.
Encaminhando para o final, vamos destacar o livro de "Fábulas" de Esopo. As Fábulas de Esopo utilizam animais para caracterizar as particularidades e a natureza de cada um deles. Talvez, os próprios animais sejam motivo de interesse e atenção por parte do público infantil. E, talvez, o fundo moral de cada fábula, seja o difícil de trabalhar com as crianças. O poeta francês Jean de La Fontaine, viveu no século XVII e compilou algumas das centenas de fábulas de Esopo. La Fontaine é conhecido pela crítica moral às fábulas de Esopo. Em razão disso, em nosso trabalho pedagógico para o ensino de filosofia, podemos trabalhar a Ética, por exemplo, a partir da fábula da "Cigarra e das formigas". Esta fábula mostra a cigarra, que, durante todo verão canta, enquanto as formigas trabalham. O tempo passa e com a chegada da nova estação, o inverno, as formigas têm seus suprimentos e a cigarra, não. A conclusão da fábula se dá da seguinte maneira: "Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando?" A moral da história, atribuída a Esopo é a seguinte: Os preguiçosos colhem o que merecem. Quando tratamos de educação, hoje, na escola, a partir desta fábula, o que podemos esperar de um aluno futuramente? E, como podemos tratar sobre inclusão social e valores na sociedade?
Por fim, salientamos o quanto a literatura é rica. Destacamos aqui três obras para o trabalho com a filosofia. Em um contexto interdisciplinar, porque não trabalhar com a literatura na matemática, por exemplo, com a obra de Malba Tahan, "O homem que calculava?". Portanto, a literatura é uma imensa fonte para a aprendizagem. É uma nova proposta de trabalho em sala de aula, despertando no aluno, a sensibilidade para a realidade.
1 Acadêmico do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.
Bibliografia:
ESOPO. Fábulas de Esopo; tradução de Antonio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 1997.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe; tradução de Dom Marcos Barbosa. 25ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1983.
Fonte: Centro de Educação para O Pensar
Daniel D. Schlottfeldt1
O trabalho com a literatura infantil, na construção do pensar, pode ser uma alternativa para o despertar filosófico. Clássicos da literatura como "O pequeno príncipe" , "O mundo de Sofia" e o livro das "Fábulas", de Esopo, constituem-se de alguns dentre os tantos existentes. Servem de reflexão, despertando o conhecimento e o senso crítico. Estes livros indicados serão nosso objeto de análise neste trabalho, com o objetivo de despertar no educador a importância da literatura na construção do pensar e também do seu conteúdo filosófico. Para tanto, é importante que tais livros, destacados anteriormente, sejam analisados com cuidado para que sua real lição e moral, não sejam "tangenciados". Assim, como podemos visualizar sua real lição?
Partiremos do tratamento dado à leitura, em especial, para a literatura. Podemos observar, atualmente, um grande desinteresse da juventude com a literatura: seja ela infantil ou literatura brasileira, esta, obrigatória no ensino médio. É preocupante saber que alunos "decoram" autores e resumos de livros de autores destacados como os romances de Machado de Assis, os sermões do padre Antônio Vieira entre outros tantos. Este "conhecimento" tem endereço certo: o vestibular. Por outro lado, a tecnologia que os alunos dispões em casa, contribui para esse processo de deformação, ou seja, um computador substitui os chamados "volumes" que ocupam tanto espaço. Muitas vezes, a própria Internet se compromete em oferecer as obras. Porém, as obras não estão na íntegra, mas baseadas em resumos fáceis de ler e com as informações necessárias para garantir os "acertos" na prova. Poderíamos pensar: qual o futuro das bibliotecas no país?
Porém, esta problemática anterior pode ser revertida. As utilizações de livros didáticos para este processo de aprendizagem-reflexão, encontram-se justamente na literatura infantil. Muitas vezes, o trabalho com esta literatura é boicotado nas escolas. Então, o que observamos a posteriori, nada mais é do que a idéia de livro seja acerca dos livros utilizados em sala de aula: Matemática, Física, Biologia, Geografia, etc. O aluno pouco sabe que aquele compendio de informações, partiram de trabalhos originais oriundos da literatura mundial. Por exemplo, basta abrir um livro didático de filosofia e observar como é possível trabalhar um determinado assunto, comum para vários autores, ao longo de um milênio.
A literatura emprega um caráter social na constituição dos assuntos. Exemplifica características particulares da sociedade em seu desenvolvimento, época e personagens. Transmite uma mensagem que pode ser compreensível, mas também uma mensagem que exige a habilidade do pensar. Estes dois modos de "transmissão" podem servir de laço entre a construção do pensar filosófico a partir da literatura infantil. Como isto seria possível? Inicialmente, vamos observar sucintamente as obras, "O pequeno príncipe", seguida de "O mundo de Sofia" e as "Fábulas" de Esopo e observar respectivamente a questão do ser, a compreensão da filosofia ao longo de milênios e as lições de moral e ética. É importante destacar, que embora sejam clássicos da literatura infantil, exigem certa maturidade do leitor para que sua real mensagem seja captada. Por isso é importante que este trabalho entre educador-aluno, seja consolidado a partir do tratar maturo frente o infantil, promovendo o debate em aula.
O conhecido livro "O pequeno príncipe" do autor Antoine de Saint-Exupéry foi "rotulado" como o livro das "misses" ao longo das últimas décadas. Talvez, o possível preconceito frente a esta consolidação, tenha afastado-o das estantes das casas - senão, por ocupar espaço, como vimos anteriormente - ou um dos poucos retirados nas bibliotecas que ainda o preservam. Mas, não sejamos pessimistas. Não foi por acaso que os filósofos, Heidegger e Sartre, leram tal obra. Heidegger considerou que tal obra alivia qualquer solidão e onde somos levados à compreensão dos grandes mistérios do mundo. Sartre, em concordância com Heidegger, aponta a obra como um contra o subjetivismo, aliviando a solidão e a quietude. Seguimos, então, um pouco das colocações dos dois filósofos para compreender a mensagem do livro. Poderíamos focar o príncipe como um filósofo: está sempre questionando e na busca de compreender a realidade que toma contato. O personagem parece nunca estar só senão rodeado pela diversidade: seja um baobá, uma flor, um acendedor de lampiões, um homem de negócios, ou um geógrafo, enfim, elementos caracterizados por particularidades e modos de vida. Estas particularidades determinam a sobrevivência destes elementos em cada planeta por onde o principezinho passa. Porém, o questionar do pequeno príncipe, revela o quanto estamos aprisionados naquele "mundo". Não podemos esquecer do despertar para a imaginação. Quando consideramos o "pequeno príncipe" como uma criança, observamos o despertar para a imaginação: "Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. (...) Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar (...)"." (1983, pp. 9,10) O desenho do príncipe seria capaz de confusão com um chapéu, caso não ilustrasse um elefante no interior da jibóia. Logo, este desenho, que seria motivo de confusão para um adulto era a imaginação de uma criança. Desta forma, o livro representa a dúvida pela qual toda criança passa durante o seu desenvolvimento, sempre em busca dos "porquês". A obra aplica esta temática do início ao fim e encerra como se o principezinho crescesse e o seu mundo é outro. Mas, entendemos que o educador deve trazer o príncipe em cada um dos seus alunos de maneira que cada um seja um filósofo na busca da compreensão, contemplação, das descobertas e do convívio com a diversidade: "Para vocês, que amam o principezinho, como para mim, todo universo muda de sentido, sei num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa... (...). Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente..." . (1983, p.95).
Em seguimento, inserimos a obra "O mundo de Sofia" do autor Jostein Gaarder. Trata-se de um romance que conta, de maneira cativante, a história da filosofia. A personagem principal, Sofia Amundsen, é uma criança. É uma criança como outra qualquer: vive o dia a dia fantasiando a realidade que a cerca. Porém, com um diferencial: recebe cartas de um desconhecido. Estas cartas apresentam temas de filosofia para o pensar e refletir sobre o cotidiano. Com isso, o próprio leitor se sente como Sofia: um desconhecedor da realidade que o cerca também. Porém, o conhecimento dado pelo livro, prende o leitor de maneira que, embora tenha muitas páginas (motivo de espanto para quem vê a obra), o mesmo busque cada vez mais o conhecimento. Para fins didáticos, no trabalho do tema "filosofia para crianças", a obra de Gaarder não apenas utiliza o aspecto teórico, mas um contexto comum à vida de qualquer criança. Podemos destacar nesta obra e trabalhar em sala de aula o tema proposto pelo livro, intitulado "Deixando para trás as trevas da caverna". (1995, p.104). Trata-se da conhecida "Alegoria da Caverna" encontrada no Livro IV da República de Platão. Jostein Gaarder trata o tema, como se estivesse dialogando com o leitor: "Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. (...) Imagine agora que um destes habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão (...). Ele vê o sol brilhando no céu e entende que o sol dá vida as flores. (...) Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar (...). Mas as outras pessoas que ainda continuam na caverna não lhe saem da cabeça. E, por isso ele decide voltar (...) ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele (...). Por fim, acabam matando-o. A alegoria da caverna faz alusão a Sócrates, "morto pelos habitantes da caverna"" . (1995, pp.104, 105). Este ensinamento é um exemplo de coragem e da responsabilidade pedagógica do filósofo, ainda que sendo criticado. "O mundo de Sofia" não se reserva à filosofia grega. Por exemplo, trata de questões bastante pertinentes à ciência moderna. Por exemplo, "como pensar" sobre a formação do nosso planeta? É o caso do capítulo que trata "A Grande Explosão", conhecido como "Big Bang". É muito importante despertar o senso crítico do aluno, de maneira que o mesmo desenvolva habilidades na leitura e compreensão para temas complexos. Atualmente, os educadores convivem com um grave problema: muitos alunos não compreendem o que lêem. Por isso, a proposta de trabalho com livros "infantis", como os citados até aqui, possam servir de reflexão despertando no aluno o senso crítico. Ainda que, a falta de maturidade do aluno seja uma "barreira" para a abstração da mensagem, cabe ao educador despertar pontos importantes da leitura e provocando a discussão. É importante que até mesmo a seqüência lógica dos fatos seja um fator para aprendizagem, bem como, o despertar para o prazer da leitura.
Encaminhando para o final, vamos destacar o livro de "Fábulas" de Esopo. As Fábulas de Esopo utilizam animais para caracterizar as particularidades e a natureza de cada um deles. Talvez, os próprios animais sejam motivo de interesse e atenção por parte do público infantil. E, talvez, o fundo moral de cada fábula, seja o difícil de trabalhar com as crianças. O poeta francês Jean de La Fontaine, viveu no século XVII e compilou algumas das centenas de fábulas de Esopo. La Fontaine é conhecido pela crítica moral às fábulas de Esopo. Em razão disso, em nosso trabalho pedagógico para o ensino de filosofia, podemos trabalhar a Ética, por exemplo, a partir da fábula da "Cigarra e das formigas". Esta fábula mostra a cigarra, que, durante todo verão canta, enquanto as formigas trabalham. O tempo passa e com a chegada da nova estação, o inverno, as formigas têm seus suprimentos e a cigarra, não. A conclusão da fábula se dá da seguinte maneira: "Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando?" A moral da história, atribuída a Esopo é a seguinte: Os preguiçosos colhem o que merecem. Quando tratamos de educação, hoje, na escola, a partir desta fábula, o que podemos esperar de um aluno futuramente? E, como podemos tratar sobre inclusão social e valores na sociedade?
Por fim, salientamos o quanto a literatura é rica. Destacamos aqui três obras para o trabalho com a filosofia. Em um contexto interdisciplinar, porque não trabalhar com a literatura na matemática, por exemplo, com a obra de Malba Tahan, "O homem que calculava?". Portanto, a literatura é uma imensa fonte para a aprendizagem. É uma nova proposta de trabalho em sala de aula, despertando no aluno, a sensibilidade para a realidade.
1 Acadêmico do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.
Bibliografia:
ESOPO. Fábulas de Esopo; tradução de Antonio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 1997.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe; tradução de Dom Marcos Barbosa. 25ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1983.
Fonte: Centro de Educação para O Pensar
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