quinta-feira, 12 de julho de 2007

O corrupto em cada um de nós

Política
O corrupto em cada um de nós
Cristina Castro

Nos últimos anos, temos nos deparado com diversos escândalos de corrupção no Congresso Nacional, no Executivo e no Judiciário. São casos de suborno, nepotismo, extorsão, utilização indevida de informações sigilosas, fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, e por aí vai. Alguns escândalos fizeram história, desde a época da Ditadura: da Brasilinvest, das Polonetas, do Inamps e das jóias, no governo Figueiredo, escândalos do Ministério das Comunicações, do contrabando de pedras preciosas, entre outros, no governo Sarney, escândalos da Previdência Social, do BCCI, da Central de Medicamentos, da Eletronorte, do FGTS, do Banco Central, da Merenda, das Comunicações, da Vasp, da Aeronáutica, do Banco do Brasil, no governo Collor, o caso Inocêncio Oliveira, o escândalo da Indústria Brasileira de Formulários, dos anões do orçamento e várias irregularidades nos governos estaduais durante a era de Itamar, os escândalos do Sivam, da Conan, do BNDES, da Telebrás, da compra de votos para a emenda da reeleição, da Vale do Rio Doce, da Previdência, dos Precatórios, do Banestado, da máfia dos fiscais, do dossiê Cayman, dos medicamentos, da Transbrasil, da Sudam, da Sudene, da Banpará, e o abafamento de CPIs durante a era FHC, além do Valerioduto, o escândalo dos bingos, as irregularidades no Fome Zero, no Bolsa Escola e em outros programas sociais, dos sanguessugas, e vários outros durante o governo Lula (ufa!).

Enfim, exemplos não faltam. E tantos escândalos políticos fazem com que a população tenha um pé atrás em relação a uma de suas conquistas mais preciosas: a Democracia. É isso o que concluiu o cientista político da USP José Álvaro Moisés, em uma pesquisa realizada em 2006 com o patrocínio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Ao mesmo tempo em que o regime democrático parece estar consolidado no Brasil, sendo a preferência de 68,1% da população, 81% das pessoas desconfiam dos partidos políticos e 76% desconfiam do Congresso Nacional.

A Transparência Brasil encomendou ao Ibope uma pesquisa semelhante nas eleições de 2006. E 26% dos entrevistados acreditaram que o governador anterior havia roubado, enquanto 19% acreditavam que o novo governador, recém-eleito, iria roubar. Quer dizer, o desânimo era geral.

Por outro lado, os dois estudos indicaram uma situação muito interessante: a corrupção infesta grande parte da sociedade que, se tivesse a oportunidade de ocupar um cargo de poder, também usaria das artimanhas ilegais para benefício próprio. Nesse sentido, segundo a pesquisa de Moisés, embora 97,6% dos entrevistados condenem o uso do "caixa 2" na campanha eleitoral, 19,4% disseram que fariam "se não tivesse outro jeito", 6,3% fariam às vezes e 4% fariam sempre.

A pesquisa da TB relatou outro problema: 8% da população disse ter sido instada a vender seu voto nas eleições de 2006, o que equivale a 8,3 milhões de eleitores. (Aliás, prática muito usada pelo nosso amigo Joaquim Roriz nas eleições ao governo do DF). O mais interessante é que não há quase nenhuma diferenciação na renda ou escolaridade dos eleitores vulneráveis à oferta de compra de votos. Ou seja: não se pode alegar necessidade financeira, ou ignorância -- quem tem ensino superior completo e recebe mais de dez salários mínimos por mês aceitou a oferta de corrupção com quase a mesma probabilidade que os marginalizados.

Diz-se que o poder corrompe. Mas não é preciso ser muito poderoso para ser corrupto. No dia-a-dia, milhares de brasileiros recebem presentinhos de clientes em troca de favores especiais, dão gordas gorjetas para passar na frente da fila, fecham os olhos quando um crédito indevido cai na conta bancária, ligam para o parente influente a fim de conseguir uma treta no concurso público, aceitam ou oferecem jabás para promoverem determinados interesses na mídia, e por aí vai. É do povo que surgem os Calheiros, Juvenis, Barbalhos, Severinos e todos os outros coronéis brasileiros.

Retirado do blog Tamos Com Raiva

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