domingo, 6 de outubro de 2013

Para onde vai o neocapitalismo - J.B. Libanio

Durante décadas sorrimos com o capitalismo americano que nos mostrava um país de distribuição de renda razoável com ampla classe média. Os ricos pagavam impostos altos e a classe média se firmava. Por sua vez, os países socialistas, mesmo ao apresentar quadro mais igualitário, revelavam baixo nível de consumo e bem-estar. Apostamos no capitalismo na esperança de melhorar a sorte de todo o povo brasileiro com os olhos pregados nos EUA. Sofremos, é verdade, algumas consequências negativas. Crianças e adolescentes, nutridos com os burgers e refrigerados com coca-cola, se tornam cada dia mais obesos. O consumismo campeia. Lixeira televisiva invade as casas. A violência entra pelos olhos e acaba aumentando a criminalidade. Eis o preço a pagar por ter sistema distributivo de renda pela força da livre iniciativa, pelo desejo crescente de consumo de todas as classes, pela oferta abundante de bens materiais. De repente, os números desmentem o caminhar igualitário da classe média. A distribuição de renda inverte o processo. Em reportagem de janeiro deste ano, lemos o dado estarrecedor. 400 norte-americanos tornaram-se financeiramente mais ricos que metade do país. O salário do trabalhador médio em comparação com a elite em 1978 variava de 48 mil dólares para cerca de 393 mil dólares anuais. Em 2010, o salário do trabalhador médio caiu para 33 mil dólares anuais enquanto o da elite subiu para1,1 milhão de dolares anuais. Eis o novo movimento do neocapitalismo. Sem o acicate do socialismo, ele perdeu todo pudor e está a mostrar a sua verdadeira índole. O documento dos Bispos da América Latina de Puebla repetiu várias vezes o refrão de que o sistema estava tornando os ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres. Os desafeitos da Igreja e aliados do sistema ridicularizavam tais afirmações como expressão do “neobobismo da Igreja”. Naqueles idos, o texto da Igreja parecia uma concessão à corrente da teologia da libertação. Hoje, infelizmente, se tornou uma realidade que analistas econômicos constatam na frieza dos números. Os últimos governos no Brasil, de traços populares, têm-lhe minimizado alguns efeitos deletérios. Mas a máquina continua intacta com a virulência do capital econômico a imperar sem considerações éticas e sociais. Continua, como vimos nos dados dos EUA, a enriquecer os mais ricos e a fazer crescer a brecha entre classes, regiões e nações por obra da acumulação do capital. As sucessivas crises não têm modificado a tendência. O capital econômico goza de tal poder que se permite jogadas arriscadas, seguro de que se fracassar o Estado lhe virá em auxílio com dinheiro público para suprir-lhe os rombos. No momento entraram outras vozes críticas por parte das preocupações ecológicas. Mesmo assim não se veem no horizonte se não pequenos remendos sob o nome de economia verde. O adjetivo ainda se mostra tão fraco que o substantivo economia se rege pelo sistema capitalista neoliberal.

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