sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Waldimir Cardia Júnior - Biografia

Cardia, Gringo (1957)

Biografia

Waldimir Cardia Júnior (Uruguaiana RS 1957). Cenógrafo. Cria uma nova linguagem nas áreas cenográficas de teatro, espetáculos de dança e show, tornando-se um dos artistas expoentes a partir dos anos 90.

Forma-se em arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Um de seus primeiros trabalhos em teatro é Caidaça na Fossa, roteiro e direção de Stella Miranda e Flávio Marinho, em 1989. No ano seguinte, assina Solidão, a Comédia, de Vicente Pereira, dirigido por Marcus Alvisi, e Fica Comigo Esta Noite, de Flávio de Souza, direção de Jorge Fernando. Nesta última, espalha roupas revestidas de resina por todo o chão do teatro, nas quais o público pisa antes de encontrar seu lugar, e coloca peças de móveis acima da cabeça das pessoas, concepção cenográfica que lhe atribui o Prêmio Shell. Em 1992, faz Colombo, de Michael de Guelderode, com direção de Marcus Alvisi, criando a ilusão de uma onda gigantesca no palco. Em 1994, cenografa A Ira de Aquiles, adaptação da Ilíada, de Homero, encenação de Hamilton Vaz Pereira; Navalha na Carne, de Plínio Marcos, novamente por Marcus Alvisi; 5 X Comédia, coletânea, comandado por Hamilton Vaz Pereira, e Louro, Alto, Solteiro, Procura, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, dirigido por Jacqueline Laurence, Prêmio Apetesp de melhor cenário. Em 1995, cria os cenários de A Odisséia, de Homero, mais uma direção de Hamilton Vaz Pereira; Noites de Cabrita, coletânea de Bráulio Tavares, Lícia Manzo e Aloísio de Abreu, Luis Fernando Verissimo e Luiz Carlos Góes, direção de Bibi Ferreira, Kaboom, espetáculo da Intrépida Trupe, grupo comandado por Mariana Mesquita; e Pérola, texto e direção de Mauro Rasi, piscina cenográfica pela qual recebe o Prêmio Sharp. Seguem-se, em 1996, A Dama do Cerrado - em que reproduz um salão de cabeleireiro decadente - e As Tias de Mauro Rasi, ambos texto e direção de Mauro Rasi. A crítica Barbara Heliodora escreve, sobre seu trabalho em Cenas de um Casamento, de Ingmar Bergman, na encenação de Vivien Buckup, em 1996, em que painéis que se revelam aos poucos como camadas e valorizam a progressão dramática:

"A montagem de Cenas de um Casamento está muito bem amparada: a cenografia de Gringo Cardia resolve com simplicidade a sugestão de vários ambientes, com recurso particularmente elegante das cortinas deslizantes, só ficando a desejar as mudanças em si que resultam um pouco canhestras, sem assumir abertamente se devem ser vistas ou se o público deve ficar fingindo que não percebe nada".1

Em 1997, novamente sob a coordenação de Vivien Buckup, faz Para Sempre, de Maria Adelaide Amaral, e Julieta de Freud, de Claudia Jimenez e Fátima Valença, direção de Antônio Abujamra. Neste ano, ganha o Prêmio Apetesp de melhor cenógrafo em Louro, Alto, Solteiro, Procura, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, com direção de Jacqueline Laurence. O crítico Macksen Luiz escreve sobre o cenário de Desobediência Civil - Manhã É Quando Estou Acordada e Há uma Aurora em Mim, texto e direção de Denise Stoklos, ainda em 1997: "O belo cenário de Gringo Cardia - um bosque que se confunde com um feixe de cordas, valorizado pela delicada e sutil iluminação de Maneco Quinderé - impõe ao palco um ascetismo poético".2

Em 1998, realiza o cenário de O Submarino, de Maria Carmem Barbosa e Miguel Falabella, com direção de Mauro Mendonça Filho, descrito aqui novamente por Macksen Luiz: "Duas enormes camas em perspectiva dão a visão do casal deitado. Toda a cena inicial é passada nesse ambiente, permitindo que se assista à discussão como se a platéia fosse um indiscreto espectador que olhasse do alto a ação introdutória. A esse achado visual, o cenógrafo Gringo Cardia acrescenta um painel de aparelhos eletrodomésticos que forma estrutura semelhante à de um submarino, com escotilhas e vigias iluminadas".3

Também em 1998, faz Cobaias de Satã, de Filipe Miguez, encenação de Enrique Diaz; Os Ignorantes, de Pedro Cardoso, dirigido por ele mesmo, e As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, direção de Bia Lessa, cenografia vertiginosa que lhe vale o Prêmio Shell. O crítico do Jornal do Brasil observa: "Já no cenário de Gringo Cardia, que rompe com o realismo com um grande gabinete que sugere as paredes de uma casa burguesa, imersa em um palco coberto de areia negra, há uma multiplicação de quadros (molduras) que interseccionam as cenas, fragmentando o ritmo narrativo".4

No ano 2000, simula ondas do mar com panos em A Tempestade, de William Shakespeare, direção de Caco Coelho, e faz, ainda, Crioula, texto e direção de Stella Miranda; Diário Secreto de Adão e Eva, adaptação do conto de Mark Twain pelo diretor Antônio Abujamra; e Mais Perto, de Patrick Marber, encenação de Hector Babenco, em que superpõe volumes num desenho que remete à estrutura de uma casa e imprimindo vida cênica a bancos e outros objetos cenográficos. Em 2001, constrói sobre o elegante teatro de poltronas vermelhas do Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, uma arena com arquibancadas de madeira para Esperando Godot, de Samuel Beckett, direção de José Celso Martinez Corrêa, e assina também De Caso com a Vida, de Paul Rudnick, na direção de Gilberto Gawronski, e O Grande Regresso de Paulo Sérgio Cortez, de Sergio Kribus, novamente direção de Antônio Abujamra. Em 2002, faz Sílvia, de A. R. Gurney, encenado por Aderbal Freire Filho; e Buda, de Clarice Niskier, direção de Domingos Oliveira.

Além de cenógrafo, Gringo Cardia é também designer, artista gráfico, arquiteto, diretor de videoclipes e diretor de arte. Muitas vezes, desenvolve a programação visual de toda a mídia de um espetáculo, desde o impresso gráfico e vídeo, até a criação e construção do cenário do show ou da peça. Seu estilo é transitar e transportar linguagens entre a realidade tridimensional construída (cenografia), a bidimensional desenhada (programação visual) e a imagem em movimento (vídeo e cinema). Em dança, faz a direção de arte e cenografia da Companhia de Dança Deborah Colker desde a sua criação. Trabalha com o grupo circense Intrépida Trupe durante dez anos.

Notas

1. HELIODORA, Barbara. Desgastes da vida privada em tom tropical. O Globo, Rio de Janeiro, 28 jan. 1997.

2. LUIZ, Macksen. Uma adesão ao mundo de Denise Stoklos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 nov. 1997.

3. LUIZ, Macksen. Crônica de sentimentos em caudalosas palavras. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 jul. 1998.

4. LUIZ, Macksen. Tchekhov abafado por sonoridade de ópera. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 01 nov. 1998.

Atualizado em 17/10/2007

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