segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Formação Integral

Tema Central: Educadores - Profissionais em busca de uma Formação Integral

A família e a construção do pensar: com a criança, o adolescente e o jovem.

Professora Neuza Teresinha Pinto Valentim 1

"Uma verdadeira viagem de descoberta não é procurar novas terras, mas ter um novo olhar para àquelas já conhecidas".
Marcel Proust

Introdução

Tendo como tema central a busca que fazem os profissionais da área da educação de sua formação integral, os pais, como primeiros educadores, profissionais que são, das mais diversificadas áreas, não poderíamos nos furtar a uma conversa com quem inicia seus filhos no caminho da educação, dos deveres, dos valores, do amor incondicional.

É momento em que se pretende, muito mais que uma simples fala em um Congresso sobre Educar para o Pensar; na realidade o que se espera é se poder dispor de condições favoráveis à construção, entre a família e a escola, de um espaço de diálogo permanente sobre temas pertinentes à formação do sujeito aprendente, com o Educador Infantil, na família e na escola, sabendo-se que são os primeiros anos escolares, aqueles anos em que ao se atender as necessidades básicas do ser humano em formação estar-se-á atendendo também, as demandas formuladas por professores, orientadores e demais agentes educacionais.

É ponto pacífico a necessidade de se buscar formas de articulação entre a Família e a Escola. Fácil falar sobre ela, difícil construí-la.

Ainda mais que se vê a Educação hoje, como algo permanente, por toda a vida, um processo continuado e não mais como uma etapa: estudar, para depois, entrar na sociedade, no mercado de trabalho, na senda dos valores e outros.

Em assim sendo, a relação Família-Escola não diz respeito apenas aos filhos-alunos, mas a todos, familiares e professores e comunidade em geral.

O questionamento básico que se faz de cabal importância, neste momento do mundo é...

"Com que olhar família e escola vêem o processo do pensar na Infância, hoje?".
Segundo La Torre, 2 “... as tradicionais metodologias de ensino baseadas na mera transmissão de informação, não respondem às demandas socioculturais do nosso tempo nem se ajustam aos princípios de construção do conhecimento que caracterizam a maior parte das reformas educacionais”.

Isto significa que há uma necessidade premente de que os Educadores possam se munir de ferramentas diferenciadas para construir na infância de agora, o homem de bem para um novo mundo que é urgente preparar com essa nova geração.

Faz-se necessário as buscas de estratégias educacionais (na família e na escola) que levem em consideração os princípios de criatividade, qualidade, competência e colaboração; princípios que permitam avançar até essa nova sociedade que se configura nos moldes do século XXI, já proclamados pela UNESCO, como temas de uma nova construção educacional.

Para dar conta do conjunto de suas missões 3 , a educação precisa se organizar em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver junto, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente, aprender a ser, via essencial que integra os três precedentes. Essas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta, se relacionando muito proximamente com o aprender a pensar 4.

Uma nova concepção ampliada de educação deve trabalhar no sentido de fazer com que todos possam estar constantemente se descobrindo; reanimando e fortalecendo o seu potencial criativo - revelando o tesouro escondido em cada um. Isto pressupõe se ultrapassar a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados - saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica - e se passar a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser. A educação ao longo de toda a vida baseia-se, mais precisamente, em cinco pilares: Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias.

O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida; aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe; mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos adolescentes e jovens, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho; aprender a viver junto, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências - realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos -no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz; aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e responsabilidade pessoal; e, ao longo dessa caminhada se priorizar igualmente o aprender a pensar e o primeiro passo para aprender a pensar é aprender a observar, a investigar - construir em torno uma comunidade de aprendizagem investigativa tanto familiar quanto escolar; o aprendiz precisa ser impelido a observar o mundo que o cerca e ser motivado a investigar, através da pesquisa, para sentir-se co-participe da sua aquisição de conhecimento e que possa ter respostas coerentes que lhe expliquem a realidade. Construir, pois, com o ser que aprende a faculdade da observação precisa ser tarefa número um (1), da família enquanto primeira educadora; quase metade das grandes descobertas científicas surgiu não da lógica, do raciocínio ou do uso de teoria, mas de uma simples primeira observação e depois com o uso de instrumentos adequados à continuidade do processo de descoberta. Se o sujeito aprendente apresenta, hoje, dificuldades de raciocínio, talvez seja porque não foi motivado a observar direito.

No dizer de Lipman 5 preparando-se o educador infantil (pais e professores), lembra-se que esse ensino requer sujeitos ensinantes dispostos a examinar suas próprias idéias, a comprometer-se com a investigação dialógica e a respeitar o sujeito aprendente com o qual está construindo uma nova ordem educacional; esse ser ensinante precisará despir-se dos pré-conceitos e dos falsos paradigmas educacionais, para então, construir junto com esse ser que aprende, a verdadeira educação reflexiva.

Para tal, não negligencia a educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se.

Nessa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, em nível tanto de elaboração de programas como da definição de novas políticas pedagógicas. 6

1. A família e a construção do Pensar

Para que se possa discorrer sobre o assunto vamos conceituar o tema.

O que se entende por construir o pensar em família?

Entende-se por construir o pensar em família, a maneira dialógica de convivência entre pais e filhos. O modo de se entabolar uma conversação sobre o cotidiano que seja uma via de mão dupla e que ao se desenvolver desde a mais tenra idade da criança, possa estar contribuindo para a formação da autonomia dos sujeitos aprendentes. O objetivo é que possam se tornar atuantes e interativos em suas comunidades, entendendo o conceito de cidadania e que por ela possam buscar as transformações necessárias ao seu tempo.

Um efetivo pensar em família cultiva habilidades cognitivas por meio do diálogo investigativo. Possibilita a maior autonomia do pensamento; amplia a percepção ética e a torna mais apurada; conduz ao respeito pelo pensamento e opiniões dos demais membros da comunidade investigativa familiar e traz maior capacidade de melhorar e aprofundar o conhecimento de si e do mundo.

Através do diálogo se consegue, também, construir com crianças e jovens a educação do sentir; são alguns dos resultados de um projeto que se expande dentro de um espaço filosófico-educacional-familiar por uma grande parte do nosso país.

A busca de um modelo familiar educacional mais reflexivo e a importância do exercício do pensar com crianças e adolescentes, traz um novo referencial para educadores que buscam introduzir a reflexão filosófica em suas Instituições Educacionais, no intuito de cooperar com a família na importante missão de educar para o pensar, pretendendo, assim, contribuir para a construção de um novo paradigma educacional que tem na reflexão filosófica seu principal fundamento; assim, também e principalmente, um homem e uma mulher, quando se determinam a construir uma família, precisam buscar, entre si questionamentos que venham ao encontro do ideal de serem pais construtores de um mundo novo; construindo o seu pensar para a formação adequada dessa família; terem entre si a convicção que será essa a orientação familiar que irão preservar, pensando no pequeno núcleo, primeiramente, mas com vistas aos núcleos seguintes – escola - sociedade – mundo, que é a caminhada que será percorrida pelos filhos que resultarem dessa união.

O que se constrói no presente é o que permanece por toda a eternidade. É necessário que os futuros pais pensem em olhar para essas crianças, sempre, com olhos de ver ”... Se apresentarem um desenvolvimento harmonioso se assemelharão a uma árvore; bem atendida no momento do plantio - dará os melhores frutos; se, ao contrário, tiver induzida a sua floração, empregando-se para tal, produtos químicos, dará flores e frutos extemporâneos, descorados e sem gosto, que cairão antes do tempo...”.

2. Pais e filhos construindo o pensar na Infância

Conforme Miranda 7 ,... ”além do corpinho frágil com que iniciamos nossas vidas, existe uma alma imortal, dotada de personalidade, maturidade e tendências que podem ser modificadas, através da educação e dedicação dos pais”; é, na infância, o momento certo de orientar, construindo-se, assim, uma formação ä altura da missão que irá, certamente precisar cumprir, no ambiente em que for chamado a interagir.

Aos primeiros Educadores (ensinantes familiares e escolares), cabe a condução do processo de estabelecer mudanças em sua prática pedagógica com o objetivo de construir na Infância o despertar para a sensibilidade, as bases sólidas para a auto-estima de mais um Ser que está em processo de gestação do aperfeiçoamento, para finalmente dar à luz o SER INTEGRAL.

O conceito de Ser integral indica antes um processo do que uma substância. Um processo que tem como meta o aperfeiçoamento do ser como um todo, contingência natural da Evolução. Ao se vincular o conceito de "homem integral" à marcha processual evolutiva, emerge imediatamente a idéia do vir-a-ser, a dinâmica do tornar-se — vir-a-ser, cada vez mais aperfeiçoado do que se está no momento presente.

2.1 O papel dos pais

Os pais detêm a custódia dos filhos. É importante considerar primeiro o seu papel. Cada criança é “...um broto que deve ser ajudado a florescer em todas suas potencialidades”. Para instilar os valores da humildade e do serviço amoroso ao próximo, nas mentes das crianças, os pais precisam estar conscientes do papel importantíssimo de terem gerado esses filhos. Devem ter fé nas verdades básicas da vida; devem ser vistos sentados, lado a lado em confabulação sobre a construção educativa; desculpando os lapsos dos outros; compadecendo-se da dor e da tristeza, reinante no universo. Não devem ser vistos pelas crianças como pessoas ansiosas, desamparadas e descontentes, sofredoras e desprovidas de fé. Precisam ser indulgentes, mas nunca levar a extremos essa indulgência, lembrando sempre que liberdade excessiva se torna em libertinagem; assim o que precisa ser construído, na infância são exemplos valorativos – é saber educar para os valores, oferecendo-lhes sempre, exemplos de honestidade, controle dos sentidos e disciplina, lembrando ainda que, disciplina se constrói com amor, com paciência, com diálogo, com mansidão na fala, nos gestos e no olhar em uma comunidade de aprendizagem investigativa familiar, aonde as crianças vão apreendendo através do exemplo. O conhecimento será ministrado pela escola e se o aprendiz já tem em sua bagagem familiar os valores construídos com a família, a escola fará o seu papel com toda a propriedade que tem para fazê-lo. Assim, fica evidente que o lar é o ponto de partida para a construção do ser integral que será o futuro cidadão do nosso Universo – que possa estar liberto de preconceitos, aberto ao amor universal. É através do cuidado com o seu próprio comportamento, em presença das crianças, é que os sujeitos ensinantes (pais e educadores infantis) irão resgatar a afetividade, a segurança, a esperança do mundo em um vir-a-ser feliz. Toda criança aprende pela imitação dos exemplos que tem. Se se garantir uma infância saudável emocional, intelectual e espiritualmente, chegar-se-á a meninice e adolescência com jovens educados para o sentir e com o caráter bem formado. Segundo Camargo 8

“A confusão ora reinante na sociedade resulta do descaso a que se tem votado a importante questão da educação. Os males que flagelam a humanidade contemporânea procedem da descrença, do ceticismo e da falta de confiança na eficiência da educação moral”. (pág.24)

Isto significa que, cabe ao educador da infância ter a devida consciência de que a idéia de geração espontânea é quimérica, porquanto que do nada, nada se tira;...“tudo que germina, germina de uma semente; tudo que evolui, evolui de um germe ou embrião”; (Camargo: 21) isto é, somente se pode esperar que aflorem da alma da mocidade, qualidades nobres e elevadas, se, na fase infantil houver se tratado com desvelo e prudência a semente e a sementeira. Há que se construir com o ser integral, além das ferramentas de um correto pensar, um processo de resistência aos embates da vida, afim de que possa estar em meio a situações delicadas e diante das mesmas, pensar nos procedimentos de solução, sem perder o rumo e nem se desestruturar emocionalmente. A isto se denomina de resiliência.

2.1.2 O processo do pensar em família sobre uma Educação Resiliente.

De que trata a questão? O que vem a ser Resiliência? 9 Resiliência é um termo emprestado da engenharia e da física que é definida nestas áreas como a capacidade de um corpo físico superar uma pressão voltando ao seu estado original sem ser alterado.

Entretanto, na educação, este conceito precisou sofrer uma reinterpretação significando a “capacidade que o indivíduo tem de, ao passar por determinada situação dolorosa, seja em grupo ou individualmente, conseguir se sair bem”, até em melhores condições e fortalecido. Conforme Grunspun, “a resiliência pode ser desenvolvida em qualquer idade, mas essenciais são os anos da educação infantil e ensino fundamental” Se, se estiver construindo a educação das crianças apoiada nas bases da comunidade de aprendizagem investigativa familiar haverá oportunidades em se contribuir na discussão sobre fatos ocorridos na família ou com pessoas do relacionamento familiar, podendo-se, assim, abordar o assunto, buscando promover uma educação resiliente. Assim se manifesta Grunspun: “Não se trata de um programa, nem de estratégias, muito menos de terapia; é uma maneira de se comportar dos educadores e uma maneira de se relacionar com as crianças e entre si”
(Grunspun: 8).

Denominam-se, pois, pessoas resilientes, àquelas que conseguem superar as dificuldades sem se desesperar ou perder a cabeça; conseguem pensar mesmo sob enorme pressão, buscando soluções para as dificuldades... sem se deixarem abater.

O que se vem percebendo é que nas instituições, há cada vez menos espaço para pessoas que se lamentam e se queixam. Este comportamento é visto como contagioso e não vêem vantagem em mantê-las.

Valorizam-se mais aquelas pessoas que conseguem atravessar os obstáculos de forma flexível, sem perder a cabeça, cultivando o bom humor, o otimismo, a confiança observando-se que estes comportamentos também são contagiosos, mas de forma positiva e é isto que se está buscando.

10 Segundo Sampaio,

O sujeito resiliente não se deixa abater, não desiste, está sempre em busca de novas soluções procurando entender onde errou e construir sobre o erro. É no auto conhecimento que se encontra o equilíbrio necessário para aprender a transformar emoções negativas em positivas. Afirma também que no trabalho voluntário se encontra um ótimo aprendizado, na medida que se observa pessoas em situações piores que àquela que ocorreu e mesmo assim, ainda são capazes de sorrir.

A resiliência consiste, então, na capacidade que um indivíduo desenvolve, de enfrentar adversidades ou catástrofes grupais ou mesmo dentro de seu ambiente restrito e se sair bem e até melhorado.

É uma capacidade que pode ser adquirida, desenvolvendo-se através do pensar em família, quando a criança, o adolescente e o jovem sofrem as perdas próprias da idade e que, entretanto passam a ameaçar o seu equilíbrio emocional; quando apresentam baixa auto-estima pelos mais diversos fatores, quando não conseguem enfrentar adversidades. Pais e educadores resilientes conseguem construir essa capacidade com seus filhos, fortalecendo amplamente o ambiente familiar, escolar e a comunidade, interagindo beneficamente em prol de um objetivo mais elevado – o coletivo.

Segundo Sampaio... quando a pessoa se valoriza ela é capaz de resistir aos embates buscando um sentido de continuidade da vida, de superar com mais facilidade os acontecimentos desfavoráveis.

3. A Construção do Pensar na adolescência e na juventude.

O patrimônio, tanto científico quanto moral é sempre resultado da educação. Os valores do bem, do amor, da verdade, da justiça, que foram construídos desde o útero materno nunca haverão de se perder. O individuo assim estruturado, tem sua auto-estima forte, pois teve a mesma construída durante a vida. Pode-se assegurar, sem medo de errar, que os alicerces paternos foram fundamentais nesta construção. Se na infância se buscou demonstrar a necessidade de se educar para o pensar dentro de uma comunidade investigativa familiar-escolar, onde a escola e a família precisam estar de braços dados, ao entrar na adolescência ainda mais se reforça a idéia inicial. É a forma de acompanhamento mais democrática que existe. É através do diálogo, do pensar junto, de buscar propostas e de se encontrar soluções moderadoras, dos desafios de uma convivência amorosa com conversas francas sobre os assuntos que o adolescente tem muitas dúvidas, com o papel de autoridade paterna bem delineado e definido é que se implanta definitivamente a confiança que ele precisa ter em seus pais e estes, nele para levar a bom termo o seu crescimento. Segundo Wusthof, 11 ...”Na idade em que a infância começa a morrer, também morrem conexões entre as células nervosas no cérebro; justamente essa morte é que abre novos horizontes mentais aos jovens...provoca efeitos cognitivos que dão à eles a sensação de força e liberdade que tira o sossego dos pais”. Recentemente descobriu-se que, em parte, o comportamento imprevisível dos adolescentes, surge por conta não só dos hormônios, mas em decorrência de uma das mais profundas transformações na massa encefálica a que as pessoas são submetidas durante as suas vidas.

É Ojeda, 12 que afirma ser... “durante a puberdade que ocorre uma verdadeira reconstrução do cérebro”. Entretanto os cientistas ainda estão se debruçando sobre a questão: “Porquê, com a chegada da adolescência, metade das conexões... é desfeita para ser refeita de modo diferente”; só sabem que a desmontagem ocorre e que pode ser medida. Eles estudam, especialmente as conexões das sinapses; é através das conexões sinápticas que os neurônios se comunicam. Trata-se da região da célula em que um de seus “tentáculos” encosta-se ao outro, jorrando neurotransmissores para passar uma mensagem adiante.

É deste processo básico do funcionamento cerebral que dependem as emoções e o pensamento lógico. Os pais e educadores precisam se apropriar destes conhecimentos; trata-se de questão científica e de cabal importância no trabalho de base da construção de Educar para o Pensar na adolescência. É um processo que tem seu início na puberdade e sua fase de conclusão em torno dos vinte anos de idade; por isso o educador deverá estar pronto para enfrentar situações inusitadas, sujeitos com opiniões diferentes, com sentimentos novos e até então desconhecidos. Há, portanto, enquanto pai/educador, buscar o entendimento do processo e cuidar para que o adolescente e o jovem não sofram o chamado curto-circuito emocional responsável por tantas tragédias que acontecem no cotidiano da escola e da família. Com isso, não se quer dizer que o adolescente e o jovem não tenham que estar sendo chamados às responsabilidades no seu meio familiar e escolar, devendo estar sendo educado para pensar nas conseqüências de seus atos: dentro de critérios, regras e amorosa disciplina. Assim se estará, inegavelmente, contribuindo para a superação das fases de tempestade hormonal e cerebral.

Segundo Steinberg 13 “bons educadores criam um ambiente familiar-escolar que favoreçam o equilíbrio emocional e os elementos associados a ele”. Que elementos são estes? Honestidade, empatia e autoconfiança, são alguns. A gentileza, a alegria de viver são outros. É a combinação disso tudo que produz pessoas com curiosidade intelectual, motivação para aprender, se desenvolver e vontade de produzir e se socializar de forma sadia, longe dos vícios. (fumo, drogas, álcool, sexo desvairado). Ainda é ele que afirma que ... “a síntese ideal do relacionamento pais e filhos reside na mudança de comportamento dos pais – não das crianças, adolescentes e jovens”. O referido pesquisador, ainda resumiu em dez, os princípios universais que regem as relações entre ensinantes e aprendentes. São eles:
a) As atitudes do dia-a-dia são mais importantes que conselhos;
b) Demonstre afeto
incondicional a seu filho; isto não o tornará mimado;
c) Envolva-se com a
vida de seu filho;
d) mude a forma de tratar o filho de acordo com as etapas
do crescimento;
e) Estabeleça regras e limites desde cedo;
f) Encoraje seu
filho a se tornar independente;
g) Seja coerente;
h) Evite castigos físicos
e agressões verbais;
i) Explique suas regras e decisões e ouça o ponto de vista de seu filho;
j) Trate seu filho com respeito.
As mudanças nos relacionamentos ocorridas durante os séculos passados, principalmente no século XX, tanto no campo das relações humanas quanto na educação, tiveram grande impacto no modo como convivem pais e filhos e de lá pra cá, muito se tem estudado sobre novos paradigmas que, acoplados aos já existentes possam por fim, possibilitar que pais e filhos se entendam, se compreendam de forma que os aprendentes possam se tornar felizes e independentes. Se os ensinantes têm seus conflitos relacionais ou traumas pela forma que foram criados na infância, é necessário que reflitam que a curto ou a longo prazo, essas dificuldades irão repercutir na vida destes aprendentes. Penso que é isso que o educador consciente precisa evitar; Ao conviver em sua comunidade investigativa familiar, pais e filhos vão se conhecendo melhor, aplainando arestas, multiplicando acertos, dividindo suas tensões; somando experiências e subtraindo a ansiedade e as frustrações, tornando-se uma pessoa aberta para o grande amor em família; isto significa, então, que é preciso se qualificar a convivência familiar. 14 Lipmam enfatiza que...

“a formação de comunidades de aprendizagem investigativa familiar, onde franqueza e confiança se misturam livremente com admiração, procura e raciocínio, possibilita o apoio social necessário, no momento em que o jovem está desatando os laços que o liga à sua família e se esforçando para se estabelecer como individuo maduro e responsável”.

Margareth Mead adverte de que devemos “aprender a criar mecanismos sociais que possam suavizar os períodos de transição na vida dos seres humanos... do contrário, os referidos períodos continuarão a gerar desconfortos, que se não superados devidamente, poderão originar sérios desajustes no organismo universal”.

Considerações finais.

De tudo que se falou aqui, depreende-se que, tanto profissionais da área da Educação como aqueles que são os primeiros educadores, na família - os pais, estão cada vez mais empenhados em buscar a sua formação integral; sentem a necessidade de trilhar novos caminhos para continuar essa caminhada tão importante que é o aperfeiçoamento moral das gerações futuras. Já perceberam, também, que cada qual procurando esses novos caminhos, de maneira solitária, estarão desperdiçando suas energias; assim há que se buscar um modo para que ambos os seguimentos - Família e Escola, cujos intentos são os mesmos, articulem-se para constituir essa união de forças, através da Educação para o Pensar - a construção de comunidades investigativas familiares e escolares, que apresentem uma linguagem acessível e dinâmica, uma postura crítica e aberta, de objetividade, rapidez de raciocínio e conhecimento profundo do ser que existe no aprendiz tão
ávido de conhecimentos, impulsionando-o a atingir a ciência que maior significado deverá ter durante este século que estamos atravessando – a ciência do aprendizado do amor.

Já se abordou, aqui a questão da liberdade, da moralidade, da autonomia, mas aquilo que realmente vai promover a educação do ser, garantindo que ele direcione a sua liberdade para o bem é a força do amor que o educador tiver por ele e os exemplos que esses sujeitos ensinantes conseguirem demonstrar através dos seus atos. Será neste momento que virá a luz, pelas mãos desses construtores do futuro o Ser Cidadão Integral.

No dizer de Oscar Wilde... “a melhor maneira de fazer com que crianças, adolescentes e jovens se mostrem cooperadoras na construção do seu pensar é fazê-las felizes.”(Oscar Wilde) e, fazê-las felizes é, em primeiro lugar, fazê-las entender e concordar tanto com a necessidade de regras quanto com as conseqüências por transgredi-las, pois é quando passam a concordar com as regras - a partir do diálogo interno - é que se tornarão auto-orientados conforme nos diz Medhus 15 (: 145); em seguida, examinar as estratégias educacionais; se não estão sendo as possíveis fontes de algumas dificuldades e, finalmente, como educador da primeira infância (pais ou educadores infantis), buscar sempre um comportamento ideal deixando-os livres para fazer aquilo que podem, sozinhos.

Finalizando, digo-lhes, parafraseando Guimarães 16, que para se chegar a construir esse pensar em família e na instituição escolar,... “Há que se promover encontros” e o encontro ao qual o autor se refere é... “Aquele de encontrar a resposta, de sentir o prazer da busca, de entender cada passo do caminho percorrido até o objetivo último que é o processo de desenvolvimento das capacidades física, intelectual e moral do ser humano que nos foi confiado...”, visando a sua plena integração - a individual e a social, pois, o “verdadeiro papel dos ensinantes é ensinar a voar... não cortar as asas”.

Isto exige sabedoria, inteligência e compreensão; esses encontros, assim conduzidos, produzirão felicidade, cumplicidade, respeito ás individualidades e ás diferenças de ensinantes e aprendentes; serão encontros de saudável competição, plenos de beleza, pois serão conduzidos com o sentimento, que gera a sensibilidade, produzirá, enfim o encontro de cada um consigo mesmo e com a alegria de ser humano e poder celebrar, todos os dias, o mistério da vida.

Muito OBRIGADA.
Professora Neuza Teresinha Pinto Valentim.
Brasília, 19 de julho de 2007.

_________________________

1 Pedagoga, Pós-graduada em Didática do Ensino Superior – UNIVALI-Itajaí-SC; Especialista em Educação Infantil pela Organização Mundial de Educação Pré-Escolar (OMEP-RS). Coordenadora de Programas de Filosofia para crianças. Sócia-Fundadora do Centro de Filosofia Educação para o Pensar em Florianópolis, colaborando com artigos para a Revista PHILOS, desde 1994. Professora da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí) de 1994 a 2004, no C ES – Tijucas-SC, no Estágio Supervisionado, na Orientação das Práticas de Ensino e TCC (Trabalhos de Conclusão de Cursos). Exerceu o Magistério em diversas escolas do Estado de SC. Lecionou na Faculdades Integradas Espírita e no Colégio “André Luiz” (Curitiba); no Colégio Nª Srª da Assunção, também em Curitiba, contribuindo para a formação dos professores em Educação para o Pensar. Atualmente, lecionando em cursos de pós-graduação e orientando
monografias e dissertações.

2 LA TORRE, Saturnino; BARRIOS, Oscar et alii. Curso de Formação de Educadores. São Paulo: 2002. Madras Editora Ltda.

3 www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx. Pesquisa efetuada no dia 19.06.2007; as 14:57.

4 Desde o início dos seus trabalhos que os membros da Comissão da UNESCO compreenderam que seria indispensável, para enfrentar os desafios do próximo século, assinalar novos objetivos à educação, e, portanto, mudar a idéia que se tem da sua utilidade.

5 LIPMAN, Matthew. A Filosofia vai á escola. São Paulo: Summus Editorial,
1990.

6 (*) Texto transcrito do Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors. O Relatório está publicado em forma de livro no Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999). Neste livro, a discussão dos "quatro pilares" ocupa todo o quarto capítulo, pp. 89-102. Aqui se transcreve, com a devida autorização da Cortez Editora, trechos das pp. 89-90 e 101-102.

7 Miranda, H. C. de. Nossos filhos são Espíritos. 9ª ed. Bragança Paulista, SP: Lachâtre, 2005. 192 p.

8 CAMARGO, Pedro (Vinicius). O Mestre na Educação. 5 edição. Editora FEB.Brasília: 1976.

7 GRUNSPUN, Haim. Educação resiliente: um longo e bom caminho a percorrer. In abceducatio, ano 6, número 42, fevereiro/05.

9 SAMPAIO, Simaia - Pedagoga e Psicopedagoga.

10 WUSTHOF, Roberto. A Revolução dos hormônios. Médico Endocrinologista.

11 OJEDA, Sérgio. Diretor da Divisão de Neurociência do Centro Nacional dos Primatas, situado no Estado Americano de Oregon.

12 STEINBERG, Laurence. Os dez princípios básicos para educar os filhos. 2004. Psicólogo da Temple University – Estados Unidos. Fonte - RevistA VEJA – 21 de julho de 2004:71 a 75.

13 LIPMAM, Matthew. A Filosofia vai a escola. São Paulo: Summus Editorial. 1990.

14 MEDHUS, Elisa. Como Educar crianças para o pensar por conta própria. Ed. Mercuryo: São Paulo. 2003

15 GUIMARÃES, Oriovisto. Educar é promover encontros. Reitor da UNINCENP.Diretor Presidente do Grupo Positivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARGO, Pedro (Vinicius). O Mestre na Educação. 5ª edição. Editora FEB.Brasília: 1976.
GUIMARÃES, Oriovisto. Educar é promover Encontros. Reitor da UNINCENP.Diretor Presidente do Grupo Positivo. GRUNSPUN, Haim. Educação resiliente: um longo e bom caminho a percorrer. In abceducatio, ano 6, número 42, fevereiro/05.
LA TORRE, Saturnino; BARRIOS, Oscar et alii. Curso de Formação de Educadores. São Paulo: 2002. Madras Editora Ltda.
LIPMAM, Matthew. A Filosofia vai a escola. São Paulo: Summus Editorial. 1990.
Miranda, H. C. de. Nossos filhos são Espíritos. 9ª ed. Bragança Paulista, SP: Lachâtre, 2005. 192 p.
MEDHUS, Elisa. Como Educar crianças para o pensar por conta própria. Ed. Mercuryo: São Paulo. 2003.
OJEDA, Sérgio. Diretor da Divisão de Neurociência do Centro Nacional dos Primatas, situado no Estado Americano de Oregon.
SAMPAIO, Simaia - Pedagoga e Psicopedagoga.
STEINBERG, Laurence. Os dez princípios básicos para educar os filhos. 2004. Psicólogo da Temple University – Estados Unidos. Fonte - REVISTA VEJA – 21 de julho de 2004:71 a 75.
Relatório para a UNESCO - Texto transcrito do relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors. O Relatório está publicado em forma de livro no Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999). Neste livro, a discussão dos "quatro pilares" ocupa todo o quarto capítulo, pp. 89-102. Aqui se transcreve, com a devida autorização da Cortez Editora, trechos das pp. 89-90 e 101-102.
WUSTHOF, Roberto. A Revolução dos hormônios. Médico Endocrinologista.
www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx. Pesquisa efetuada no dia 19.06.2007; as 14:57.

Fonte:Centro de Filosofia
Educação para o Pensar

1 Comment:

Unknown said...

Gostaria de ressaltar que a fonte de meu artigo sobre resiliência é: http://geocities.yahoo.com.br/simaiapsicopedagoga

Atenciosamente,

Simaia Sampaio
Psicopedagoga e Pedagoga