domingo, 17 de junho de 2007

Fundamentos do Areté Educar

Gildázio Santos

A palavra Areté, mexe com meu interior desde os tempos de graduação em filosofia, juntamente com a palavra gerere, que significa movimento.
Areté, ficou guardada em meu estacionamento, durante quase 10 anos, eu sempre quis servir-me da Areté para expressar algo que viesse de dentro de meu ser, e expressasse um jeito de existir no mundo.
Sempre tive a vontade, de associar essa palavra com a missão de vida, a mim confiada aqui na terra, esse conceito forte, capaz de ser síntese das ações que desenvolvo, dos sonhos e crenças que alimento a cada dia, as poucos conduziu-me para o que aqui se apresentará.
A palavra educar serve de complemento da primeira, embora talvez não fosse necessário. Decidi depois de muita reflexão criar em um primeiro momento um Blog com esse título: Areté Educar, contei com a colaboração de um Artigo de Gilda Naécia Maciel de Barros, que faço questão de citar a introdução integral a seguir:

“Quando tratamos de cultura grega e educação, invariavelmente observamos que é impossível
considerar os ideais de formação humana entre os gregos da antiguidade sem referir um conceito da mais alta importância para eles - areté (h( a)reth/). A razão disso veremos a seguir.
Por que tratar de areté quando devíamos tratar de educação? Para entender essa atitude é preciso considerar com os antigos empregavam esses termos.
A palavra educação é de origem latina. O substantivo é feminino e assim se enuncia: educatio, onis. Implica, primariamente, a ação de criar e se aplica tanto a animais como a plantas, o que pode ser conferido em Cícero, de Finibus 5, 39 e em Pro Sex. Roscio Amerino 63. Também em Cícero, de Oratore 3, 124 e em de Legibus 3, 30 encontramos o sentido que usualmente lhe damos, em nosso campo: instrução, formação do espírito.
O próprio verbo educo, aui, atum, are significa criar, nutrir, cuidar de, tratar (pode ser de animais), formar, instruir, produzir. Para se compreender a abrangência da idéia, diz-se, em linguagem poética, quando se quer referir o que a terra produz, faz crescer: quod terra educat. [1] A palavra grega que poderia aspirar à equivalência relativamente à palavra latina educação é paideia (h( paide/ia, aj), etimologicamente presa a pais, paidós (o(, h( pai=j, paido/j), que significa, pura e simplesmente,criança. Já o verbo paideúo (paideu/w - paideu/sw,, e)pai/deusa, pepai/deuka) se traduz por criar, instruir, formar e também se aplica a animais com o sentido de criar, formar. [2] Werner Jaeger lembra que a palavra paideia só aparece no século V a.C., e dá como registro mais antigo, dele conhecido, o passo 18 de Sete contra Tebas, de Ésquilo[3],onde, a seu ver, a palavra tem o mesmo sentido de trophé (h) Qrofh/, h=j). Na verdade, no início do século V a palavra tinha o simples significado de "criação de meninos". Mas é ainda Werner Jaeger quem adverte: o melhor fio condutor para se estudar a educação grega em suas origens não é a palavra paideia: mais importante do que ela é a palavra areté! [4] Por sua vez, tratando da educação grega no período helenístico, portanto a partir de fins do século III a.C., Marrou lembra que os primeiros sete anos de vida da criança são designados por (ana) trophé ( [a)na] trofh/), que se traduz por criação , período em que a criança é alimentada em casa, entregue aos cuidados da mãe, em primeiro lugar, e, depois, na família de posses, à aia (trofo/j), escrava ou liberta, que não se confunde com a ama-de-leite. Na opinião de Marrou, paideia propriamente dita refere-se ao período que se inicia após os sete primeiros anos, quando a criança éenviada às escolas. [5] Aliás, o primeiro sentido do verbo trepho (tre/fw) é tornar compacto, engrossar, nutrir, criar e, por extensão, instruir, aplicando-se, com o sentido originário, a animais e plantas.
É muito comum traduzir-se a palavra areté por virtude e o seu plural, aretai, por virtudes. No entanto, isso pode induzir a se pensar que o sentido original de areté é de natureza ética.
Ora, esse não é o sentido original exclusivo nem de areté, que melhor se traduziria por excelência, nem de uirtus, que se costuma traduzir por virtude.
A palavra areté(h( a)reth/, h=j) desígna o mérito ou qualidade pelo qual algo ou alguém se mostra excelente. Esta qualidade pode referir-se ao corpo e aplicar-se a coisas, como terra, vasos, móveis; pode referir-se à alma. Pode ter o sentido particular de coragem ou atos de coragem ou o sentido moral de virtude. [6] A ela se prende aristós (a)risto/j, h/, o/n), superlativo de agathós (a)gaqo/j, h/, o/n).
Ambas as palavras podem ser usadas no mesmo contexto e para a mesma finalidade.
Agathós, palavra extremamante importante para a história da educação grega, pode designar o nobre, o aristocrata, mas, também, o homem de valor, o que tem coragem.
Traduzir agathós por bom pode levar à confusão: o sentido básico não é moral. Na poesia heróica, é adequado dizer-se de um homem que ele é agathós se ele tem valor. Valor, aqui, especificado a cada passo, ou referido à coragem guerreira, ou a uma certa habilidade.
No livro I da República Platão introduz algumas reflexões acerca do conceito de areté. É verdade que ela vai direcioná-las para o objetivo principal que tem em mente, qual seja, discutir a idéia de justiça: sua natureza, se é vício e ignorância ou sabedoria e virtude; se é mais vantajosa a injustiça do que a justiça. Mas é interessante que, aí, a idéia de areté vem associada a uma outra, também importante, que é a idéia de érgon, que se pode entender por função.
Platão parte da verificação de que cada coisa tem sua função (Rep. 353 a) e uma areté própria a preencher.(Rep. 353 b) Vejamos o exemplo referente ao cavalo. Como qualquer outro animal, ele tem uma função (érgon) que lhe é própria. Que função é essa? Aquela que apenas ele pode fazer, ou, pelo menos, que apenas ele pode fazer do modo mais perfeito (árista). A saber, mostrar força, velocidade, firmeza na batalha etc. (...)”

Recorri, a Grécia antiga para dar nome ao Blog que será espaço de construção, conexões, diálogos entre os diversos temas e pessoas, no dia a dia e sempre, convido cada um e cada uma a mergulhar nesta casa que construiremos a cada dia como o ser humano que se transforma constantemente pela educação.
É Areté Educar, porque segundo Gilda Naécia Maciel de Barros, em sua conclusão: “os gregos perceberam que o homem é educável. Porque modificável. E entenderam essa modificabilidade como um projeto rumo à perfeição.
A essa perfeição chamaram areté, à qual deram, a cada tempo, uma forma humana, que consideraram ideal porque excelente.
Estudando os gregos, mais uma vez percebemos a historicidade dos ideais educativos, que o homem pensa sempre como perenes, mas que se revelam transitórios, no fluxo da vida e no curso transformador dos acontecimentos”.

Fonte:

BARROS, Gilda Naécia Maciel de; Areté e Cultura Grega Antiga - Pontos e Contrapontos;

http://www.hottopos.com/videtur16/gilda.htm#_ftn3#_ftn3

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